Músicos e bailarinos da Fundação Clóvis Salgado (FCS) já haviam participado da pré-estreia da ópera “Devoção” em Congonhas e de flash mob no Mercado Central de Belo Horizonte. Contudo, o clima nos bastidores, na última terça-feira, era de inquietação. Tratava-se, afinal, do penúltimo ensaio antes da estreia oficial nesta sexta-feira (19/7), no Palácio das Artes.

 


Com libreto de André Cardoso e música de João Guilherme Ripper, “Devoção” conta a história de Feliciano Mendes (papel do tenor Matheus Pompeu), português que chegou ao Brasil disposto a enriquecer com a mineração. Feliciano não poupará “nenhum esforço pra riqueza encontrar, ficamos sabendo logo no início da ópera.

 



 

Guiado por um tropeiro (barítono Johnny França), Feliciano e a esposa Mercês (soprano Carla Caramujo) viajam do Rio de Janeiro até Congonhas. Na cidade mineira, dão tudo de valor que têm para os representantes da coroa em troca da autorização para explorar terras no entorno do Rio Maranhão.

 


“Não se esqueçam: a fortuna tem seu preço. Garimpo é atividade bruta. São tantas enfermidades arruinando a saúde”, avisa o tropeiro. Feliciano não se preocupa com o conselho e parte em busca de ouro.

 


A riqueza chega. Junto dela vêm as moléstias. O português se vê à beira da morte e recorre ao Bom Jesus, prometendo erguer uma cruz no alto do Rio Maranhão se for curado.

 


Graças ao Bom Jesus, ele se recupera e decide erguer uma grande igreja, o atual Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, lar dos profetas de Aleijadinho.

 

 


“O Ripper sabe compor com classe. Ele domina as técnicas modernas de composição, mas opta sempre por uma linguagem mais acessível”, afirma Ligia Amadio, regente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e diretora musical do espetáculo.

 


“Ele até usa algumas das linguagens de escolas do século 20, como politonalismo e atonalismo, mas faz isso de maneira mais palatável. Embora seja compositor contemporâneo, Ripper fala com a linguagem que as pessoas conseguem absorver e gostar. É muito acessível”, elogia.

 


Se as composições de Ripper para esta ópera inédita são acessíveis a ouvidos leigos, para os músicos que a interpretam representam enorme desafio. Foram muitos ensaios apenas com piano antes de colocar a orquestra toda para tocar.

 


“Não estava acostumado a fazer repertório de música contemporânea”, revela o tenor Matheus Pompeu. “Esse tipo de repertório tem muitas exigências vocais, algo muito diferente daqueles compositores que estou acostumado a cantar, como Verdi e Puccini. Você tem de estar muito atento à orquestra, estar em contato com a maestra.”

 

Elenco da ópera "Devoção" durante flash mob no Mercado Central de Belo Horizonte

Túlio Santos/EM/D.A Press

 


Ponto forte do espetáculo – que tem outros destaques, como cenário, figurino e iluminação –, o repertório propõe misturas ainda não exploradas no meio operístico.

 


O batuque típico dos tambores das congadas é acompanhado por violinos, cellos e piano. As orações tridentinas são cantadas em linha melódica contemporânea – ao final, parece que ouvimos peças barrocas.

 


“O Ripper faz da música comida diferente, com um tempero delicioso”, brinca a regente. “Foi muito difícil e trabalhoso executar a ópera, mas estou satisfeita com o resultado”, conclui Ligia Amadio.

 

 


“DEVOÇÃO”


Ópera inédita da Fundação Clóvis Salgado. Sessões hoje (19/7), sábado (20/7), segunda (22/7) e terça-feira (23/7), às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Últimos ingressos à venda por R$ 50 (inteira/1º lote) e R$ 60 (inteira /2º lote), na bilheteria do ou na plataforma Eventim. Meia-entrada na forma da lei. Informações: (31) 3236-7400.

 

 


OUTRAS ATRAÇÕES

 

>> “ELDORADO”

Em cartaz de hoje a domingo (21/7) na Funarte (Rua Januária, 68, Centro), a peça “Eldorado”, ambientada no período da ditadura militar, discute homofobia e masculinidade. Direção de Rony Camargo e dramaturgia de Fábio da Mata. Hoje e sábado, às 20h; domingo, às 19h. Inteira: R$ 50 e R$ 40, com meia na forma da lei, à venda na plataforma Sympla e na bilheteria.

 


>> NO FELUMA

A peça “Uma passagem para dois” volta ao cartaz no Teatro Feluma (Alameda Ezequiel Dias, 275, 7º andar, Centro), sob direção de Jair Raso. Sessões nesta sexta (19/7) e sábado (20/7), às 20h, e domingo (21/7), às 19h. Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), à venda na bilheteria e na plataforma Sympla.

 


>> ANNE FRANK

O Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes) recebe o espetáculo “Anne Frank, a voz que se tem memória” em sessão única no sábado (20/7), às 21h. Dirigido por Leonardo Talarico Marins, o monólogo é estrelado por Poliana Carvalho. Ingressos: R$ 120 (inteira), R$ 60 (meia) e R$ 70 (com doação de 1kg de alimento não perecível). À venda na bilheteria e na Sympla.

 

>> ESCRITAS DA MARGEM

Nesta sexta (19/7), às 18h, será aberta a mostra “Museu: escritas que vêm da margem”, no Centro de Referência das Juventudes (Rua Guaicurus, 50, Centro). O poeta carioca Chacal participa de bate-papo sobre oralidade na literatura com Iza Reys, integrante do grupo Afrolíricas. Também às 18h de hoje, o slam “Avor, amor” será realizado no Auditório do CRJ (Rua Guaicurus, 50, Centro). Entrada franca.

 

>> SÚBITA COMPANHIA

A peça “Aqui – Amanhã é outra imagem”, da Súbita Companhia de Teatro, ficará em cartaz amanhã e domingo (20 e 21/7), às 20h, no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$10 (meia), à venda na plataforma Sympla.

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