No quintal de casa, família classe média alta se reúne com amigos. Um dos convidados pega o copo, levanta o braço e propõe um brinde “ao melhor churrasqueiro do mundo”, referindo-se ao anfitrião. Indignada, a mulher do tal churrasqueiro reclama: “E o brinde para quem comprou a carne? Para quem preparou a comida? Para quem serviu tudo?”.

 

– Corta! – diz a cineasta Carolina Durão.

 

– Hora do almoço, pessoal. A gente retorna à tarde.

 

A cena se passa no set do filme “Mamãe saiu de férias”. A inspiração vem do longa argentino que ganhou versões italiana, francesa e mexicana. Em 2025, está previsto o lançamento do remake brasileiro, rodado em condomínio de Belo Horizonte.

 



 

Fiel ao roteiro original – mas com pequenas adaptações ao contexto brasileiro –, a comédia acompanha o caos na família de Fred (Rafael Infante) e Roberta (Dani Calabresa) depois que ela resolve tirar 10 dias de férias, deixando os quatro filhos com o pai.

 

Dedicação exclusiva

 

Nos últimos 20 anos, Roberta não fez outra coisa senão cuidar da família. Por iniciativa própria, depois do nascimento do primogênito João (Xande Valois) abandonou a carreira de advogada para se dedicar exclusivamente à criação dos pequenos.

 

Fred é o único que trabalha fora. Gerente de uma grande rede de supermercados, é o responsável por manter financeiramente a família. Porém, o emprego fica ameaçado pela chegada de um jovem colega ambicioso.

 

A gravação que a reportagem do Estado de Minas acompanhou, na última quarta-feira (17/7), é uma das cenas mais importantes para a compreensão da personagem de Dani Calabresa. A dona de casa começa a se questionar sobre a própria vida, a partir do comportamento do marido e dos amigos. Na proposta do brinde a Fred, Roberta percebe sua “invisibilidade”.

 

“É uma decisão difícil dessa mãe, né?”, afirma a atriz, referindo-se aos 10 dias que a personagem passará longe da família. “Mas, sabe de uma coisa.? Embora seja uma decisão difícil, ela é muito bem pensada. Roberta tira um tempo para si mesma e faz o marido sentir na pele o que ela passa todos os dias”, comenta.

 

 

Fred passa por poucas e boas, sem o menor traquejo para cuidar das crianças. Ignora informações básicas sobre cada filho, como o local da escola, as atividades extracurriculares, os nomes dos amigos. Usando sempre o mesmo argumento – de que trabalha fora de casa, sem tempo para cuidar das crianças –, conseguiu se esquivar das responsabilidades domésticas.

 

As crianças não ignoram o distanciamento do pai, o que intensifica o conflito dentro de casa. Para piorar, elas resolvem testar a paciência de Fred.

 

“O interessante é que, apesar de fugir das responsabilidades da criação dos filhos, Fred é um cara que quer acertar”, comenta o ator Rafael Infante.

 

“Fazer o personagem me fez refletir sobre meu papel de pai. Sempre fui muito grudado na criação da minha filha, mas, às vezes, o cotidiano te engole. Quando você percebe, já está na quinta-feira, dia em que ela tem prova na escola, e você se lembra disso na última hora”, brinca ele. Aliás, Lara Infante, de 7 anos, também está no elenco do filme, interpretando uma das filhas de Fred.

 

Pai e filhos têm de se virar sem a mamãe na comédia dirigida por Carolina Durão

Stella de Carvalho/divulgação

 


Versão feminina

 

Por mais fiel que o remake brasileiro seja ao argentino “Mamá se fue de viaje” (2017), de Ariel Winograd, uma particularidade faz toda a diferença. A versão brasileira é a única dirigida por uma mulher.

 

“A gente queria fazer com que a Roberta, pela ausência na família, tivesse o mesmo protagonismo do Fred”, destaca a cineasta Carolina Durão.

 

 

“Tento trazer um olhar feminino para o lugar da maternidade, como ela é negligenciada em muitos momentos, quando deveria ser compartilhada pelo casal”, afirma.

 

O elenco infantil conta também com Isabella Alelaf e os gêmeos Caio e Pedro Costa (que se revezam no mesmo personagem), interpretando os filhos de Fred e Roberta.

 

Entre os adultos, estão no set os atores Dan Ferreira, Babu Santana, Maria Clara Tenório, Docy Moreira, Rodolfo Vaz e Ana Regis.

 

“É uma comédia sensível, com mensagem muito legal e identificação com todo mundo. A gente se vê dentro da nossa família, as brigas que tivemos na adolescência com nossos pais, e também vivenciando o amor, que continua existindo. Mesmo nos maiores desafios”, conclui Dani Calabresa.

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