Em 1865, Júlio Verne publicou o romance “Da Terra à Lua”. Previu, quase um século antes, a chegada do homem ao espaço sideral. Oito anos depois, numa fazenda na cidade mineira de Palmira (atual Santos Dumont), nascia o pequeno e ambicioso aeronauta que se inspirou no livro de Verne para fazer o ser humano – literalmente – levantar voo.

 


Corajoso e audacioso, Alberto Santos Dumont (1873-1932) inventou o avião. Com roteiro de Mônica Cerqueira, que divide a direção com Eder Santos, estreia nesta sexta-feira (19/7), às 22h, no canal Curta!, documentário sobre a trajetória do brasileiro que chegou a ser considerado o homem mais famoso do mundo no início do século 20.

 




 


“Santos Dumont – O céu na cabeça” vai de Minas a Paris, oferecendo supreendente reconstrução do passado do inventor. “Todo mundo sabe do Santos Dumont, mas pouca gente realmente conhece detalhes, o quão genial ele foi”, afirma Mônica Cerqueira.

 


“Ele é muito conhecido como o cara do 14-Bis, mas, além de inventor, era fascinante, uma pessoa que não passava despercebida. Um cara discreto que falava pouco, mas falava várias línguas. Dizem que quando ele se abria, falava lindamente. Era muito elegante – não no sentido físico, mas de espírito”, comenta a roteirista mineira.

 

 


Nascido em berço de ouro, filho do engenheiro considerado um dos maiores cafeicultores do Brasil, Alberto viu a primeira ferrovia do país chegar à cidade onde nasceu. Muito jovem, chegou à Europa em 1892, cheio de projetos. Em Paris, encontrou o ambiente perfeito para criar suas ousadas engenhocas. A cultura cosmopolita e visionária da Belle Époque dominava as ruas da capital francesa.

 


O rapaz mineiro ingressou no Aéro-Club de France. Pensou, projetou, construiu, voou e caiu. Voou de novo, caiu mais uma vez. Não desistiu e, certo dia, contornou – pelo ar – a Torre Eiffel, o que lhe rendeu o cobiçado prêmio Deutsch de La Meurthe, em 1902.

 


“A gente acaba criando uma relação de admiração profunda, porque ele era supercorajoso. Ele mesmo ia lá e testava as máquinas. Caía, corria o risco de morrer. Tinha o próprio processo de criação e produção: além de desenhar as aeronaves, ele as construía e pilotava. Cumpria todo o ritual”, explica Mônica.

 

Nas ruas de Paris, Santos Dumont leva em seu carro o Demoiselle, aeronave criada por ele que levantou voo pela primeira vez em 1907

Musée Groupe Safran/AFP

 


O filme exibe várias imagens de acervo das 22 invenções do mineiro, além de vídeos da Europa antiga, recortes de jornais nacionais e estrangeiros, documentos pessoais e entrevistas com pesquisadores brasileiros, franceses e americanos. Entre eles, o estadunidense Paul Hoffman, autor da biografia “Asas da loucura – A extraordinária vida de Santos Dumont”, lançada em 2003.

 


“Tentamos alcançar credibilidade máxima sem abstrair ou levar o filme por caminhos que não são comprovados”, afirma a roteirista. “Santos Dumont era um cara muito midiático. Contratava fotógrafos, filmava e guardava tudo que saía sobre ele nos jornais. Realmente, foi o homem mais famoso do fim do século 19 e início do 20, em âmbito mundial. Em Paris, ditava moda e era um cara seguido”.

 


A família de Santos Dumont trouxe a público extenso material sobre o inventor. “O Museu Paulista mantém o acervo enorme dele, além dos museus do Ipiranga e de Cabangu, em sua casa de infância. Foi um mergulho tão grande, era tanta coisa, que o nosso pesquisador Marco Túlio Ulhôa teve até um pouco dificuldade para captar as fotos”, revela.

 


Presente e passado

 

“Tivemos o cuidado de manter o equilíbrio entre o resgate do passado e o tom de contemporaneidade, para não ficar aquele filme pregado nas coisas pretas e brancas. Então, a gente trouxe a Paris de hoje, a atualidade, como elemento importante do documentário”, afirma Mônica.

 

Alberto Santos Dumont morreu em 1932, aos 59 anos. Durante a Primeira Guerra Mundial, viu suas criações utilizadas como armas mortíferas, na contramão de tudo o que desejou e construiu.

 

Deprimido, o inventor se suicidou em seu apartamento no Guarujá, em São Paulo. De maneira poética, o documentário aborda o fim da vida de Dumont.

 


“A parte do suicídio é muito importante, por mais delicada que seja essa abordagem. Na época de Getúlio Vargas, não aceitaram este acontecimento. Inclusive, a certidão de óbito registrou ataque cardíaco”, comenta a roteirista. Só tempos depois assumiu-se publicamente a verdade. “Lembrar este fim também é lembrar a importância de Santos Dumont”, conclui Mônica Cerqueira.


“SANTOS DUMONT – O CÉU NA CABEÇA”


Documentário de Mônica Cerqueira e Eder Santos. Estreia nesta sexta-feira (19/7), às 22h, no Canal Curta!.

 

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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