O cantor e apresentador Ronnie Von completou 80 anos na última quarta-feira (17/7), mas diz que se sente um garoto. Leva a vida como se tivesse 25. O músico e apresentador se prepara para estrear, em agosto, um programa de entrevistas na RedeTV! do jeitinho que queria: noturno e semanal.
De acordo com a emissora, “Companhia certa” desembarca no canal no próximo dia 7. A atração semanal será exibida sempre às quartas-feiras, às 23h45, após o “Superpop” de Luciana Gimenez.
"Não aguentava mais acordar às cinco da manhã", brinca ele, que estava insatisfeito com o seu antigo horário na faixa matinal (“Manhã do Ronnie” saiu do ar em abril). O real problema, explica, era a incongruência de público e de assuntos.
"Acho que o público matinal não é meu público. Sou sommelier e barman. Imagina não poder falar de vinho?", protesta.
Na nova atração, Ronnie promete "seguir a mesma linha de sempre: deixar aflorar humanidade nas pessoas e levar informação e entretenimento", diz.
"Você vai ver desde grandes medalhões da música, que são meus amigos pessoais, até aqueles que têm talento monumental e não têm oportunidade de aparecer. No meu outro programa, levei umas 10 bandas de rua que eu via tocando na Avenida Paulista", conta.
TV, "a maior escola do país"
Com mais de 50 anos de carreira na TV, Ronnie considera a telinha um meio poderoso de informação e educação. "A televisão é, hoje, a maior escola do nosso país. Somos um país pobre, desinformado, inculto. Acho que tenho a obrigação de levar, pelo menos, informação e cultura. E claro, entretenimento. É TV tem que ter riso e lágrima", diz.
Nascido – e muito bem-nascido – Ronaldo Nogueira, em família de empresários do mercado financeiro, em Niterói, em 1944, Ronnie Von comprou "briga séria" em casa quando decidiu ser artista.
"Estava no último ano da faculdade, me preparando para ser o sucessor do negócio da família. Quando viram, eu estava na televisão com o cabelo comprido cantando Beatles. Foi terrível", se diverte.
"'Onde foi que nós erramos? Criamos uma cobra para nos picar. Vai jogar o nome da família na lama'. Ouvi de tudo", lembra. O gênero musical escolhido o levou a decepcionar não só os pais, mas também os amigos. "Viraram as costas porque eu não fazia música engajada, fazia rock de inglês cabeludo", relembra.
Fase psicodélica
Mas Ronnie seguiu fiel ao que acreditava e, com auxílio da pinta de galã, teve seus anos dourados. Entre as décadas de 1960 e 1990, gravou 18 álbuns, emplacou turnês no Brasil e fora dele. Sua fase psicodélica, rejeitada na época, virou ícone cult e hoje encabeça listas das principais obras do gênero, com os LPs “Ronnie Von”, “A misteriosa luta do Reino de Parassempre contra o Império de Nunca Mais” e “A máquina voadora”.
“Foi o maior fracasso comercial da minha vida, mas foi considerado, tempos depois, o melhor disco de rock psicodélico do mundo. Eu aqui, brasileirinho, coitadinho, no meu cantinho, não sou nada nem ninguém, mas tenho muita gratidão pelas pessoas que entenderam e gostaram da minha música", diz.
Hoje, engravatado na tela da TV, Ronnie revela por que abandonou o rock: "Parei de cantar por me insurgir contra o que foi instituído como norma nas gravadoras", sentencia. "A coisa começou a tomar um rumo que não concordo, que é o jabá".
Sucessos pagos
Segundo ele, a indústria musical atual é comprada e "tudo o que faz sucesso é pago", diz. "É uma inversão total de valores. Hoje, só existem duas vertentes musicais no Brasil: o sertanejo, que, aliás, não é sertanejo, e o funk, que também não é funk", critica.
Casado há 39 anos com Maria Cristina Rangel, conhecida como Kika Von, Ronnie dispensa os parabéns da repórter: "Não é parabéns porque não podemos racionalizar o que é emoção. Emoção não merece parabéns, é uma coisa tão intrínseca que não deve ser adjetivada", filosofa. O segredo para uma relação tão longeva, ele entrega, é se colocar no lugar do outro. "Um casal são dois universos diferentes".
Ronnie Von conta que aprendeu com o pai a fórmula para se sentir eternamente jovem. Certa vez, o patriarca, o empresário José Maria Nogueira, aos 88 anos, dispensou os dois jardineiros e subiu em uma escada para podar uma planta. "Levou um tombo e se quebrou todo."
Ao repreender o pai, escutou como resposta: "A mente humana não vai passar nunca dos 25 anos de idade. O corpo é que não quer entender", recorda. Ronnie sente na pele o que seu pai queria dizer: "Não tenho 80. Tenho 25, é que o corpo não quer entender."