Pantin é comuna (distrito) na periferia de Paris. O acesso à região nobre da capital francesa é rápido, mas em meados da década de 1990 a distância parecia um abismo. As gêmeas Zahia e Fettouma Ziouani, filhas de um casal argelino, descobriram rapidamente as diferenças. Mas não se detiveram diante delas.

 

Em cartaz no UNA Cine Belas Artes, o filme “Divertimento”, de Marie-Castille Mention-Schaar, acompanha a trajetória das irmãs Ziouani na juventude. Zahia se tornou maestrina, e fundou em 1998 sua própria orquestra, Divertimento (nome inspirado no gênero que teve Haydn como um de seus mais célebres divulgadores). Fettouma é violoncelista e integra a orquestra da irmã, que tem hoje 70 musicistas e faz 40 concertos anuais.

 

 


 

Mas o que Marie-Castille leva para as telas é só o início da história, quando tudo e todos diziam não para o sonho das duas adolescentes. No filme, Zahia é interpretada por Oulaya Amamra, e Fettouma por Lina El Arabi. Quando a narrativa tem início, as duas, que sempre estudaram em um conservatório local, conseguem vagas no Liceu Racine, tradicional escola no coração de Paris.

 

 

 

O filme abrange o ano letivo de 1994-1995, quando as garotas têm 17 anos. Logo no primeiro dia de aula descobrem que são as únicas estudantes não brancas na aula de música. Também as únicas que vivem na periferia. Fettouma já exibe sua proficiência no cello e Zahia, que toca viola, revela aos novos colegas que vai se tornar a regente de uma orquestra jovem nos arredores de Paris. O ar, na turma, é de total incredulidade.

 

 

O primeiro embate não tarda a acontecer. Lambert Lallemand (Louis-Damien Kapfer) é o aluno escolhido para reger o concerto que o Liceu Racine fará no final do curso. Quando Zahia revela seu desejo de se tornar maestrina, é logo motivo de piada. A discriminação vem a cavalo: ela é mulher (a tradição da música de concerto não trazia mulheres regentes), de família de imigrantes árabes e da classe trabalhadora. Muitos riem porque em sua primeira incursão ela apareceu sem batuta.

 

Veja a verdadeira Zahia Ziouani regendo a Orquestra Divertimento

 

 


A história vai encaminhando para a relação mais interessante que a protagonista desenvolve. No final da vida, o célebre regente romeno Sergiu Celibidache (1912-1996), um tirano para muitos músicos, a aceitou em sua classe de formação de maestros. Ainda que não acreditasse no poderio de mulheres regentes (ele também era contra a gravação de concertos, acreditava que a música só deveria ser apreciada ao vivo), encantou-se com a segurança de Zahia.

 

 

No filme, Celibidache é interpretado com carisma por Niels Arestrup. É este o maior ponto de fricção em um drama correto, com atrizes adequadas para o papel, mas que é conduzido de forma convencional. Diante de uma história humana tão forte – que aborda não só a questão da superação, mas temas caros tanto à França quanto a todo o mundo, como disparidade social e imigração –, “Divertimento” é apenas ligeiro em sua realização.

 

“DIVERTIMENTO”


(França, 2023, 110min., de Marie-Castille Mention-Schaar, com Oulaya Amamra, Lina El Arabi e Niels Arestrup) – O filme está em cartaz às 20h, na Sala 1 do UNA Cine Belas Artes.

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