“Incrivelmente alto. Tão alto que você pensaria que ele era realmente um gigante. Tinha o rosto bonito e largo, e uma pele quase morena. Seus cabelos eram mais pretos do que qualquer outra cor, e o resto de seu corpo tinha formas e proporções tão perfeitas que não se podia encontrar nada para criticar.”

 


Assim é descrito Segurant, o Bruno, também conhecido como O Cavaleiro do Dragão, personagem da Távola Redonda. Popular na Idade Média, ele foi esquecido ao longo dos últimos 700 anos. Graças ao esforço do paleógrafo e arquivista Emanuele Arioli, de 36 anos, Segurant está de volta. Isso só foi possível depois da saga deste franco-italiano para encontrar 28 manuscritos medievais espalhados pela Europa que narram a história do gigante.

 

 



 


A reunião dos manuscritos chega ao Brasil no livro “Segurant – O Cavaleiro do Dragão” (Vestígio). Arioli aproveitou os achados para escrever as HQs “O Cavaleiro do Dragão” e “Segurant – O Cavaleiro do Dragão”, que saem no país pelos selos Nemo e Yellowfante, ambos do Grupo Autêntica.

 

Segurant, o Bruno, também conhecido como O Cavaleiro do Dragão, foi personagem da Távola Redonda popular na Idade Média, mas esquecido por sete séculos

Bibliothèque de l’Arsenal/Reprodução

 


Gentil e pacífico – ao menos, quando se relacionava com os amigos, porque Segurant cortou a cabeça de vários cavaleiros e gigantes –, O Cavaleiro do Dragão tinha força descomunal e comia por 10 homens.

 


Vitorioso em todas as batalhas, ele teve a ousadia de enviar um mensageiro ao Rei Arthur comunicando a resolução de desafiar todos os cavaleiros da Bretanha.


Feitiço de Morgana

 

A audácia e a segurança de Segurant chamaram a atenção do rei, que decidiu testar pessoalmente o desempenho do cavaleiro. Contudo, Segurant foi enfeitiçado pela fada Morgana, passou a ver um enorme dragão ameaçar jogar fogo em todo mundo e fugir para a floresta. Segurant, então, abandona os duelos e parte em sua busca quixotesca daquele dragão inexistente.

 


“Em alguns momentos, me senti como Segurant, numa busca insaciável por algo que não existia”, brinca Arioli, referindo-se à descoberta do primeiro manuscrito sobre o Cavaleiro do Dragão e à dificuldade para localizar os outros documentos. “É quase impossível, hoje, encontrar coisas novas sobre a Idade Média. Eu me perguntava se valia a pena continuar nessa busca”.

 

 

Manuscrito medieval consultado por Emanuele Arioli

Bibliothèque de l’Arsenal/Reprodução

 


Foram 10 anos de pesquisa, a partir de 2010. Tudo começou quando Arioli estudava o francês escrito na Itália medieval. Entre os manuscritos que leu, encontrou em “As profecias de Merlim” a primeira referência a Segurant.

 


“Manuscrito da Idade Média não traz uma única história. Muitas vezes, são vários textos juntos”, explica. “Antigamente, o pergaminho era muito caro. Então, os copistas copiavam outras histórias no mesmo livro ou publicação”.

 


Foi assim que junto de “As profecias de Merlim” ele encontrou “As aventuras de Segurant, o Cavaleiro do Dragão”. A narrativa, no entanto, fora interrompida antes do desfecho final.

 

Maratona

 

Arioli partiu em longo périplo à procura de outros episódios da história. Foi a cidades da Itália, Espanha, França, Suíça, Bélgica, Grã-Bretanha e Estados Unidos pesquisar manuscritos a respeito da lenda do Rei Arthur.

 


Não se sabe o porquê de os textos se espalharem por tantos países. Uma hipótese é de que episódios da mesma história eram escritos e circulavam sem estarem compilados numa única publicação.

 

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Desde o final do século 13, coletâneas passaram a fazer mais sucesso do que longos romances. As histórias circulavam como se fossem contos ou crônicas.

 


Outra suposição é que manuscritos sobre Segurant teriam sido destruídos junto de obras da literatura arturiana durante o Renascimento. Naquela época, romances de cavalaria, considerados “inferiores”, foram rejeitados por intelectuais”.

 


Existe a terceira possibilidade. De acordo com o pesquisador, depois de Segurant ser enfeitiçado para caçar o dragão ilusório, ele foi apagado da memória coletiva pela fada Morgana.


Ilustração da Távola Redonda, mito ligado ao reinado de Arthur na Inglaterra medieval

Bibliothèque de l’Arsenal/Reprodução

 

“O manuscrito que chegou incompleto até nós perdeu os episódios finais por um acidente histórico? Ou o copista os omitiu propositadamente?”, questiona o paleólogo e arquivista.

 


Dessa incerteza nasceram as HQs. Em “Segurant – O Cavaleiro do Dragão”, Arioli narra a própria aventura em busca dos manuscritos, no intuito de incutir nos jovens o gosto pela história e por elementos da Idade Média. Já em “O Cavaleiro do Dragão”, ele parte da dúvida sobre o destino de Segurant para inventar um final alternativo.

 


“Pelos manuscritos, ficamos sabendo que apenas o Santo Graal pode quebrar o feitiço e Segurant conseguiu se livrar da maldição. Mas não sabemos como ele chegou ao Santo Graal. Na HQ, expliquei isso da maneira que imagino que possa ter acontecido”, conclui.

 


“SEGURANT – O CAVALEIRO DO DRAGÃO”


• Livro de Emanuele Arioli
• Vestígio
• 288 páginas
• R$ 79,80

 


“SEGURANT – O CAVALEIRO DO DRAGÃO”


• HQ de Emanuele Arioli
• Ilustrações: Aleko e Emiliano Tanzillo
• Yellowfante
• 72 páginas
• R$ 69,80

 

“O CAVALEIRO DO DRAGÃO”


• HQ de Emanuele Arioli
• Ilustrações: Emiliano Tanzillo
• Nemo
• 104 páginas
• R$ 84,90

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