“Assombrado tremer em meio à neve glacial/Ao forte soprar do vento horrendo/Correr batendo os pés a todo instante/E pelo excessivo gelo bater os dentes”, diz o soneto dedicado à última parte da obra “As quatro estações”, composta pelo italiano Antonio Vivaldi (1678-1741).
Embora ainda possuam autoria incerta, historiadores acreditam que o próprio Vivaldi teria escrito os poemas que descrevem cada uma das quatro estações do ano. O caminhar sobre o gelo, o uivar do vento e os dentes que batem de frio no inverno são alguns dos versos transformados em melodia pelo compositor barroco.
“Vivaldi representa musicalmente as informações contidas no poema não apenas no ‘Inverno’, mas também nas peças dedicadas às outras estações. Há sons de latidos de cachorros, escopetas e elementos da natureza, por exemplo”, afirma Felipe Magalhães, regente titular e diretor artístico da Orquestra Sesiminas.
Duas das quatro estações de Vivaldi – “Outono” e “Inverno” – serão apresentadas nesta quinta-feira (1º/8) pela Orquestra Sesiminas, com leitura dos sonetos antes de cada performance. O evento gratuito “O violino ontem e hoje” será realizado no Museu de Artes e Ofícios e conta com regência do maestro convidado André Brant.
Além dos concertos de Vivaldi, integram o programa a peça para cordas “Árias e danças antigas (suíte nº 3)”, de Ottorino Respighi, e “Estilhaços, reflexões e dispersões”, obra contemporânea de Igor Maia. Em “As quatro estações”, a orquestra terá como solista Rafael Marzagão, enquanto “Estilhaços” contará com o violinista convidado Ayran Nicodemo.
Homenagens
O concerto faz parte do projeto Música no Museu, que expande as ações do Museu de Artes e Ofícios para o território da música. Neste ano, a iniciativa já realizou uma homenagem ao compositor tcheco Antonín Dvorák (1841-1904) e executou repertório dedicado a composições de músicos mineiros. Em novembro, o projeto terá sua última edição do ano, com um tributo a Tom Jobim.
“O projeto aproveita o espaço do Museu de Artes e Ofícios para execução de concertos da Orquestra Sesiminas em um ambiente diferenciado”, afirma Felipe Magalhães. “A orquestra então se coloca no hall do prédio, e o público pode se sentar em volta dos músicos, rompendo com a formação típica de teatros. Assim as pessoas estão mais próximas dos instrumentos e podem, ao mesmo tempo, aproveitar a beleza da edificação do museu.”
Conforme explica André Brant, regente assistente na Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e maestro do concerto de hoje, o violino foi o instrumento mais importante da orquestra durante o período barroco, uma vez que o som produzido por ele se assemelha à voz humana. Muitas vezes, o próprio violinista era quem regia os outros músicos, já que a figura do maestro como conhecemos hoje só foi surgir no século 19.
“Por isso decidimos trazer o violino como instrumento solista em diferentes épocas. Primeiro, em uma obra consagrada do barroco, ‘As quatro estações’, de Vivaldi. Em seguida, com a peça do compositor Igor Maia, que apesar de ter sido composta há alguns anos, foi refeita e teve novo trabalho de partitura, sendo praticamente inédita”, diz Brant. “Vamos mostrar a versatilidade do violino, suas possibilidades, sonoridades e utilização de diferentes técnicas no passado e no presente.”
O maestro aponta ainda os usos variados do instrumento na música atual. “Na composição contemporânea, utilizam-se efeitos e técnicas para o violino que não eram explorados no passado. Na obra de Igor Maia, por exemplo, há mais possibilidades para o instrumento. Enquanto o barroco era mais dedicado ao seu virtuosismo, a peça ‘Estilhaços’ valoriza o timbre e os efeitos que podem ser produzidos. Tudo isso resulta em uma sonoridade peculiar”, diz.
“O VIOLINO ONTEM E HOJE”
Com a Orquestra Sesiminas. Regência: André Brant. Solistas: Rafael Marzagão e Ayran Nicodemo. Nesta quinta-feira (1º/8), às 19h, no Museu de Artes e Ofícios (Praça Rui Barbosa, 600 - Centro). Entrada franca, mediante retirada de ingressos via plataforma Sympla.
*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes