Natalie Portman (Maddie Schwatz) e Moses Ingram (Cleo Johnson) são as protagonistas da minissérie exibida pelo Apple TV+ -  (crédito: APPLE/DIVULGAÇÃO)

Natalie Portman (Maddie Schwatz) e Moses Ingram (Cleo Johnson) são as protagonistas da minissérie exibida pelo Apple TV+

crédito: APPLE/DIVULGAÇÃO

Natalie Portman é o chamariz da minissérie “A mulher no lago”, cujo quarto episódio (de um total de sete) estreia nesta sexta (2/8), no Apple TV+. Mas há muito mais, mesmo que a atriz (também produtora da série, a primeira que ela protagoniza) brilhe como uma mulher que dá um basta na família para tentar emplacar como jornalista.

 


Não é para todo mundo, é bom avisar, pois a adaptação do romance homônimo (2019) de Laura Lippman (inédito no Brasil) é visual e narrativamente ousada. A sensação ao final de cada episódio é de exaustão (o que não configura um defeito), diante da avalanche emocional da trama e do excesso de cores, músicas, cenografia. Melhor assistir a um episódio por vez.

 


Os grandes temas são o preconceito racial, a diferença de classes e a opressão feminina nos Estados Unidos dos anos 1960, a época da luta pelos direitos civis. O cenário é Baltimore.

 


De um lado, temos Maddie Schwartz (Natalie Portman), uma dona de casa judia com um casamento falido e um filho adolescente com quem não consegue se relacionar. Com dinheiro e posição social conquistados, ela, num ataque de fúria, abandona tudo. Vai parar na área onde vive a população negra.

 


Do outro lado, temos Cleo Johnson (Moses Ingram), uma mulher negra, mãe de dois garotos, um deles com uma doença incurável, um marido ausente. Ela tenta se virar para ter uma vida digna. De dia, é modelo em uma loja de departamentos. À noite, é contadora de Shell Gordon (Wood Harris), o mafioso local, também dono do clube de jazz mais badalado da cidade. É ainda voluntária de Myrtle Summer (Angela Robinson), a primeira senadora negra do estado de Maryland.

 


A série começa com a narração de Cleo, que descreve a própria morte. Seu corpo é atirado no lago e desaparece. A partir disso, ouvimos Cleo (a narradora), divagar: "Você entrou no final da minha história", ela fala diretamente para Maddie. "E a transformou em seu começo."

 


Os três episódios já disponíveis acompanham a vida dessas duas mulheres, que não se conhecem (no primeiro episódio elas se cruzam, Maddie observando a vitrine em que Cleo é modelo vivo), no mês que antecedeu o crime.

 


É outro assassinato que move Maddie a largar tudo. No desfile do Dia de Ação de Graças, uma menina judia desaparece. A indiferença com que o marido dela trata o caso desencadeia ódio na protagonista. É ela que acaba descobrindo o corpo da garota (também no lago). Começa a investigação sozinha, tenta abrir caminho no “Baltimore Sun”. Ela segue em frente, mesmo desacreditada por muitos, e sem se preocupar se seus atos poderão prejudicar os outros.

 


Memórias fragmentadas da juventude das duas mulheres, sonhos estranhos, sequências incríveis na pista do clube (no episódio três, Moses Ingram protagoniza uma cena em que exorciza seus demônios ao som de jazz), em cada momento a série surpreende. O acabamento estético é meticuloso – há cenas com dezenas de figurantes.

 


É difícil pensar onde “A mulher no lago” vai parar. Tirar o espectador do conforto das narrativas habituais é um dos trunfos da produção. Novamente: não é para todos. Mas quem entrar nela vai se surpreender – ainda que o gosto seja sempre mais amargo do que doce.


“A MULHER NO LAGO”
• Minissérie com sete episódios no Apple TV+. O quarto estreia nesta sexta (2/8). Novos episódios sempre às sextas.