O apresentador e empresário Silvio Santos morreu, neste sábado (17/8), aos 93 anos. O SBT confirmou a informação nas redes sociais. O ícone da Tv brasileira estava internado em um hospital particular em São Paulo desde o início do mês.
Hoje o céu está alegre com a chegada do nosso amado Silvio Santos.
— SBT (@SBTonline) August 17, 2024
Ele viveu 93 anos para levar felicidade e amor a todos os brasileiros.
A família é muito grata ao Brasil pelos mais de 65 anos de convivência com muita alegria.
Para nós, o Senor Abravanel é ainda mais especial… pic.twitter.com/s4V0mYlO1P
Em julho ele havia sido internado com quadro de H1N1 e retornou na semana passada ao hospital Albert Einstein.
Um dos nomes mais carismáticos da TV brasileira, Senor Abravanel, o apresentador Silvio Santos, veio de família de imigrantes gregos e turcos. Nasceu no Rio de Janeiro, em dezembro de 1930, e desde pequeno demonstrava habilidade em comunicação e persuasão – características fundamentais para a construção de seu império.
Conforme relatado no livro “Silvio Santos – A biografia definitiva”, de Marcia Batista e Anna Medeiros, aos 5 anos, Senor usava a lábia para conseguir ingressos gratuitos de cinema para ele e o irmão mais novo, Leon.
Início como ambulante
O primeiro emprego foi em 1945, quando Silvio estava prestes a completar 15 anos. Na época, o Brasil se preparava para as eleições presidenciais. Perto do dia do pleito, ele viu um ambulante vendendo capinhas de plástico para proteger títulos de eleitor. Decidiu fazer o mesmo.
Passou a trabalhar como camelô, vendendo não só capinhas, como também canetas, na Avenida Rio Branco, Região Central do Rio de Janeiro, com a ajuda do irmão Leon Abravanel.
A repressão policial era grande, fazendo com que ele trabalhasse apenas 45 minutos por dia, período em que os policiais deixavam as ruas no horário de almoço.
Mesmo com o curto expediente, Silvio chamou a atenção de muita gente por causa de sua voz. Por isso, foi convidado a fazer teste na Rádio Guanabara. Ficou em primeiro lugar, à frente de nomes que começavam a se tornar conhecidos, como os humoristas Chico Anysio e José Vasconcellos.
Silvio trabalhou como locutor durante um mês na Rádio Guanabara. Quando percebeu que os rendimentos como ambulante eram maiores do que como radialista, deixou a emissora para voltar a trabalhar nas ruas do Rio. Na rádio, ganhava 1.300 cruzeiros por mês, enquanto tirava 960 cruzeiros por dia como vendedor.
Aos 18 anos, foi convocado para servir o Exército, na Escola de Paraquedismo. Lá, conheceu outro jovem de mesma idade, que chegou à capital carioca fugido dos pais, no interior de São Paulo. Também era camelô e, mais tarde, entraria para o meio artístico. Tony Tornado era o colega de farda de Silvio.
Depois do serviço militar obrigatório, o apresentador voltou a trabalhar como ambulante, vendendo canetas. Para ganhar renda extra, fazia locuções para uma rádio de Niterói aos finais de semana.
Na barca que cruzava a Baía de Guanabara, Silvio viu nova oportunidade de negócios. Instalou bares em algumas embarcações. Entre uma música e outra que tocava para os passageiros no sistema de som, começou a anunciar os produtos que vendia. Até jogos de bingo promoveu durante as viagens.
Quando completou 20 anos, Silvio se mudou para São Paulo. Estudou contabilidade e, paralelamente aos estudos, apresentava espetáculos e sorteios em caravanas de artistas.
Em pouco tempo, conseguiu emprego como locutor na Rádio Nacional de São Paulo. Trabalhando com comunicação, criou a revista “Brincadeiras para você”. A publicação trazia piadas, palavras cruzadas, passatempos e charadas.
Baú da Felicidade
Em 1958, o radialista e amigo Manoel da Nóbrega recorreu a Silvio porque estava com dificuldades para administrar o Baú da Felicidade. Inicialmente, o negócio funcionava assim: quem pagasse mensalmente um carnê recebia no Natal uma caixa cheia de brinquedos e eletrodomésticos.
Silvio propôs mudança no formato do Baú da Felicidade e conseguiu estabilizar a empresa. Para promover o negócio, fazia shows em circos, onde vendia carnês e tornava a marca popular. Com o sucesso da empreitada, Manoel da Nóbrega abriu mão do Baú, deixando-o para Silvio.
O CNPJ cedido por Manoel da Nóbrega foi o embrião do futuro Grupo Silvio Santos, holding que hoje detém ações de empresas dos ramos de cosméticos, capitalização, hotelaria e incorporação imobiliária.
Estreia na TV
A estreia de Silvio Santos na TV ocorreu em 1961, apresentando o programa “Vamos brincar de forca” na TV Paulista. Três anos depois, a emissora foi comprada por Roberto Marinho e se tornou a TV Globo de São Paulo. O programa era exibido aos domingos, com formato muito semelhante ao que teria o “Programa Silvio Santos”, do SBT, tempos depois.
Em 1962, Silvio se casou com Maria Aparecida Vieira Abravanel, a Cidinha. O matrimônio ficou sob sigilo por 15 anos, porque o apresentador queria manter a imagem de galã que havia forjado para si mesmo. Segundo ele, a aliança no dedo poderia atrapalhar o marketing.
Casamento sigiloso
“As moças acham detestável aplaudir, gritar, chorar, pular e festejar alguém que pertence a outra. Isso toca no amor-próprio da mulher. Acham ridículo e até humilhante bater palmas para um homem que vai chegar em casa, beijar e abraçar outra”, contou Silvio ao amigo e jornalista Décio Piccinini, na década de 1960.
Cidinha morreu em 1977, de câncer. Com ela o apresentador teve as filhas Cíntia e Silvia Abravanel – essa última adotada pelo casal.
Uma década depois da morte da esposa, Silvio foi a público falar sobre o casamento, reconhecendo seu comportamento imaturo. “Quando falo com a minha consciência, acho que é uma das coisas imperdoáveis que eu fiz”, disse.
Em 1965, ele migrou para a TV Tupi, onde apresentou os programas “Festa dos sinos”, “Sua Majestade: O Ibope” e “Cidade contra cidade”. Tempos depois, a última atração ganhou o nome de “Silvio Santos diferente” e passou a ter vários quadros.
Na década de 1970, Silvio alimentou a vontade de ter seu próprio canal de televisão. A concessão foi cedida pelo governo federal em 1975, depois de a TVS – projeto de Silvio que depois se tornaria o SBT – vencer a concorrência para assumir o Canal 11, do Rio de Janeiro. A emissora estreou em 22 de dezembro daquele ano, com mais de 13 mil funcionários.
Em 1978, Silvio se casou com Íris Pássaro, com quem teve mais quatro filhas: Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata.
Além de administrar a TVS e apresentar o “Programa Silvio Santos”, o empresário tentou carreira política. Em 1989, candidatou-se a presidente da República.
Candidatura à Presidência
Na época, o voto era impresso e as cédulas traziam os nomes dos candidatos. Como Silvio demorou para decidir se sairia candidato ou não, o Partido Municipalista Brasileiro (PMB) lançou Armando Corrêa. Na reta final, Silvio substituiu Corrêa.
As cédulas já haviam sido impressas com o nome do primeiro candidato do PMB. Faltando duas semanas para o primeiro turno, Silvio apareceu em seu programa com a cédula na mão, dizendo: “Para votar no Silvio Santos, devem marcar no meio da cédula Corrêa. Não aparece meu nome na cédula, mas o candidato sou eu”.
O apresentador era o favorito, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impugnou sua candidatura a pedido de Fernando Collor de Mello, que solicitou a extinção do PMB, alegando que o partido não havia comprovado convenções em nove estados.
Passado o imbróglio com a Justiça Eleitoral, Silvio desistiu da carreira política. Ao longo da década de 1990, dedicou total atenção ao SBT. Nos anos 2000, abraçou outras áreas, fundando a Jequiti Cosméticos, em 2006, e o hotel Sofitel Jequitimar Guarujá, no ano seguinte.
Sequestro da filha
Em 2001, Silvio Santos ocupou as televisões de todo o país, mas não como apresentador. Em agosto, bandidos entraram na casa da família, no Morumbi, e sequestraram Patrícia, filha do empresário, que deixava a mansão em direção à faculdade. Foi libertada uma semana depois, mediante pagamento de resgate – R$ 500 mil, comentou-se na época.
O sequestrador Fernando Dutra foi descoberto em Barueri e conseguiu fugir, depois de matar dois policiais. Foi até o Morumbi, invadiu a mansão de Silvio Santos. Iris Abravanel e as filhas conseguiram escapar, mas o apresentador ficou sozinho com Fernando por mais de sete horas. O rapaz se entregou depois de pedir a presença do então governador Geraldo Alckmin, que foi até lá. Fernando alegou que temia ser morto. A casa ficou cercada por atiradores da polícia.
Fernando morreu em 2002, devido a infecção generalizada, antes de ser julgado. Os outros sequestradores foram condenados a penas de 15 a 19 anos de prisão.
No início da década de 2010, o apresentador enfrentou um dos mais delicados e controversos episódios envolvendo o Grupo Silvio Santos. Foi descoberto o rombo de R$ 4,3 bilhões no Banco PanAmericano, que pertencia à holding. O caso fez Silvio cogitar vender seu império e ir morar nos EUA. Mas ele desistiu da ideia e continuou no Brasil, empenhando recursos de suas outras empresas na quitação da dívida.
Em 2022, Silvio Santos fez sua última participação na TV. Depois de se afastar de seu programa dominical por dois anos devido à pandemia, optou pela pausa. “Estava era com preguiça mesmo, estava com preguiça de gravar”, disse ele ao canal de YouTube Intervenção, ao deixar a sessão eleitoral onde votou em São Paulo. Desde a pandemia, o comando da atração ficou com a filha Patrícia.
Silvio Santos deixa a esposa, Íris, e as filhas Cíntia, Silvia, Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata, além de 13 netos.