Os palhaços Cícero Silva (Titetê), Rodrigo Lapa (Mequetrefe) e Cláudia Antunes (Risoleta) encenam hoje o espetáculo "Vê se não me amola!" na Nova Cintra -  (crédito: Clau Silva/Divulgação)

Os palhaços Cícero Silva (Titetê), Rodrigo Lapa (Mequetrefe) e Cláudia Antunes (Risoleta) encenam hoje o espetáculo "Vê se não me amola!" na Nova Cintra

crédito: Clau Silva/Divulgação

 

Na garagem da casa do advogado e educador físico Franklin Couto, na Rua Jornalista João Bosco, 222, em Nova Cintra, está tudo preparado para receber o espetáculo “Vê se não me amola!”, do grupo de palhaços Ateliê Titetê, na manhã deste domingo (4/8). Quem quiser pode chegar e se acomodar nas cadeiras espalhadas pelo espaço. A entrada é gratuita.

 


A apresentação abre a comemoração dos 10 anos do projeto Garagens Periféricas, que, conforme o próprio nome sugere, propõe a montagem de espetáculos circenses em garagens de casas localizadas em bairros periféricos de Belo Horizonte. Até 5 de outubro, serão realizadas mais quatro apresentações, em diferentes espaços do tipo (31/8, no bairro Ouro Preto; 21/9, no Caiçaras; 29/9, no São Cristóvão; e 5/10, no bairro Nazaré).

 


“Tivemos que conceber dois espetáculos distintos para que todos os artistas – desde os que já fazem parte do projeto até os que se inscreveram querendo participar desta programação – pudessem se apresentar”, conta Cícero Silva, que dá vida ao Palhaço Titetê e é o idealizador do Garagens Periféricas.
Além do “Vê se não me amola!” (que será apresentado neste domingo e nos dias 29/9 e 5/10), também foi concebido o “Varietê no garagê!” (que ocorre em 31/8 e 21/9). As atrações, no entanto, não são muito diferentes. São números de palhaços, cantoras líricas palhaças, acrobacias e malabares.


Luzes e projeções

“A diferença maior é que o ‘Varietê no garagê!’ foi pensado para ser apresentado de noite. Há um maior trabalho com luzes e projeções”, diz Cícero.

 


Ao longo dos 10 anos, o projeto já passou por bairros de todas as nove regionais de Belo Horizonte e atingiu público superior a 6 mil pessoas, segundo o idealizador. Também fomentou a produção artística em locais periféricos e contribuiu para a formação de artistas da palhaçaria.

 


“Queremos inaugurar espaços culturais não convencionais”, ressalta Cícero. “Há um trato onde a pessoa que abre a garagem de casa para apresentações do projeto se compromete a fazer daquele local um espaço cultural com programação anual. Ela acaba se tornando uma promotora de cultura local, fortalecendo vínculos com a comunidade”, observa.

 


Festa de rua

A ideia do projeto nasceu quando Cícero foi convidado a se apresentar em uma festa de rua. O local reservado para o palco foi tomado por barraquinhas e a solução encontrada pelo palhaço foi pedir a uma moradora o espaço da garagem. A mulher concordou e, a partir daí, Cícero começou a planejar o que viria a ser o Garagens Periféricas.

 


Nos primeiros anos, foi difícil conseguir os espaços. Uma década depois, a situação é diferente. Agora, os moradores procuram o Ateliê Titetê pedindo que o grupo se apresente em suas casas.

 


Nenhum espaço é recusado, garante Cícero. “Quando a pessoa pede para montarmos uma apresentação na casa dela, nossa equipe vai até o local avaliar a capacidade máxima. Se for um espaço para 50 pessoas, levamos um espetáculo maior. Se for um espaço para 10 pessoas, adaptamos para caber todo mundo ali”, diz.

 


Nesses 10 anos muita coisa mudou. Entre elas, a linguagem da palhaçaria e o humor, que vem se reinventando e se diversificando, conforme os anseios e demandas da sociedade. Piadas de cunho racista, machista e capacitista envelheceram mal. E a conhecida pergunta “Qual o limite do humor?” atormenta comediantes e palhaços que pararam no tempo.

 


O Ateliê Titetê não está alheio a essas mudanças. De uns tempos pra cá, vem incorporando mais mulheres, pessoas trans e não binárias em seu corpo de artistas, que atualmente conta com nove integrantes. A diversificação no elenco, inclusive, possibilita ao grupo tratar sob uma nova perspectiva temas que antes eram estereotipados.

 


“O artista usa uma máscara que está muito colada com o seu próprio tempo”, afirma Cícero. “Na década de 1990, havia muito mais palhaços homens e héteros, o que refletia o machismo da época. Depois, ecoando as lutas feministas, as mulheres começaram a reivindicar seu espaço, principalmente graças ao pioneirismo do grupo carioca As Marias da Graça. Agora, com toda a discussão de gênero na sociedade, são os trans e não binários que reclamam seu espaço. E é claro que tudo isso contribui para a mudança no humor”, emenda ele.

 


Terminada a comemoração dos 10 anos do Garagens Periféricas, Cícero pretende ampliar a abrangência do projeto, realizando apresentações em cidades do interior mineiro e também fora do estado. Para isso, já deixou o aviso no seu perfil do Instagram (@cicerohsilva): “Se você mora na periferia de grandes cidades, em cidade pequena do interior do Brasil, tem uma garagem e quer uma apresentação na sua casa, manda uma mensagem pra mim”. 

 

GARAGENS PERIFÉRICAS - CIRCULAÇÃO 10 ANOS
Deste domingo (4/8) a 5/10, apresentações circenses em garagens da periferia. Hoje, “Vê se não me amola!”, às 10h, na Rua Jornalista João Bosco, 222, Nova Cintra. Entrada franca. Sujeito a lotação.

 

PRÓXIMAS APRESENTAÇÕES 

“Varietê no garagê!”, em 31/8 (sábado),
às 19h30, na Rua Luiz Lopes, 111, Ouro Preto

“Varietê no garagê!”, em 21/9 (sábado), às 19h30,
na Rua Frei Orlando, 148, Caiçara

“Vê se não me amola!”, em 29/9 (domingo), às 10h,
Rua Caratiá, 59, São Cristóvão

“Vê se não me amola!”, em 5/10 (sábado), às 16h,
na Rua Sócrates, 626, Nazaré