Trabalho de Gabriel Lopo, artista ligado ao Espai Ateliê, que funciona no Bairro Santa Efigênia e comemora 10 anos em 2024 -  (crédito: Larissa Campello/divulgação)

Trabalho de Gabriel Lopo, artista ligado ao Espai Ateliê, que funciona no Bairro Santa Efigênia e comemora 10 anos em 2024

crédito: Larissa Campello/divulgação

 

 

Marcelo Drummond conta que durante seu doutorado em Barcelona, na Espanha, a experiência em ateliês abertos lhe chamou a atenção. De volta a Belo Horizonte em 2014, já doutor em tipografia popular brasileira, ele e a companheira, a artista plástica Nydia Negromonte, criaram espaço parecido com aqueles frequentados pelos dois na capital catalã.

 


Situado numa casa dos anos 1920, no Bairro Santa Efigênia, o Espai Ateliê é o local onde Marcelo e Nydia desenvolvem pesquisas e oferecem atividades multidisciplinares. O espaço acolhe novos artistas, proporciona acompanhamento e orientação a projetos ligados à arte contemporânea, além de promover oficinas, workshops, lançamentos de livros e exposições.

 

 


Comemorando os 10 anos de atividades do ateliê, o casal desenvolve ações em espaços públicos da capital. No primeiro semestre, o Museu Mineiro abrigou a exposição “Anti-Vórtex”, com trabalhos de Avilmar Maria, residente do Espai. Agora é a vez da coletiva “Sobre isto, sobretudo sobre tudo isso”, que fica em cartaz até 14 de setembro.

 

Tradição e novidade

 

A mostra se propõe a criar diálogos entre obras de cerca de 150 autores que passaram pelo Espai e o acervo do museu. A exposição reúne 30 trabalhos, que vão de peças históricas de Schwanke, Irma Renault, Zizi Sapateiro, Celso Renato e Jarbas Juarez a produções contemporâneas de Barbara Macedo, Chico Rezende, Gabriel Lopo, Maria Mendes, Maria Palmeiro, Ricardo Burgarelli e Xikão Xikão.

 


“A coletiva é um cruzamento entre o acervo do Museu Mineiro e a grande rede de artistas que construímos ao longo dos 10 anos no Espai”, explica Marcelo Drummond, que divide a curadoria com Rachel Cecília de Oliveira, professora de teoria crítica e história da arte na Escola de Belas-Artes da UFMG. “Convidei Rachel porque o Espai tem como característica a construção de redes colaborativas”, observa.

 


No início, decidir o recorte curatorial da mostra foi um desafio devido à dimensão do museu, bem mais ampla do que o ateliê. A delimitação surgiu a partir da visita técnica ao acervo, onde os curadores conheceram obras pertencentes à coleção do estado.

 


“Tivemos a grande ideia de fazer algo a partir do próprio Museu Mineiro, pensando no que ele traz para a gente. Entramos dentro do acervo de modo a tentar encontrar ali a resposta para nossa curadoria”, explica Rachel. “O museu tem grande número de obras que vêm principalmente de doações. A maioria delas nunca foi exibida.”

 

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A dupla optou, então, por trabalhos inéditos pertencentes ao Museu Mineiro. Cinco obras do acervo funcionaram como uma espécie de matriz, direcionando a escolha dos artistas ligados ao ateliê. “A exposição é uma via de mão dupla: artistas da coleção do Museu Mineiro dialogam com os artistas do Espai”, observa Marcelo Drummond.

 


“A maioria dos artistas da coleção do museu é dos anos 1980, com trajetórias longas, muitos deles já falecidos, emblemáticos para a arte mineira. Os artistas do Espai são jovens contemporâneos. Há uma questão temporal e geracional em propor o diálogo entre autores dos anos 1980 e de 2024”, completa o curador.

 

Instalação no Museu Mineiro mostra cama antiga com colchão vermelho e desenhos nas paredes

Passado e presente dialogam por meio da interação entre peças da coleção do Museu Mineiro com criações do século 21

Larissa Campello/divulgação

 


Mostra diversa, “Sobre isto, sobretudo sobre tudo isso” reúne várias linguagens: desenho, pintura, fotografia, instalação, objeto e performance. De acordo com Rachel de Oliveira, o espectador é desafiado a estabelecer diferentes relações com o que está exposto.

 


“A partir de aproximações, mas principalmente fricções entre as obras do museu e os artistas do Espai, fomos organizando e concretizando a exposição. As aproximações não são necessariamente por semelhança, mas muito mais pelo que essas relações levam a pensar, pelo que elas permitem ao processo de criar narrativas a partir de obras de arte”, comenta.

 

Acolhimento

 

As comemorações dos 10 anos do Espai prosseguem nos próximos meses, com oficinas, cursos, novas exposições e residências artísticas.

 

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Marcelo Drummond destaca também que o ateliê funciona como espaço de acolhimento não apenas para artistas profissionais, mas para qualquer pessoa interessada em ter experiência com arte contemporânea. “Desenvolvemos atividades que envolvem profissionais de outras áreas, como médicos, advogados e professores”, informa.

 


“SOBRE ISTO, SOBRETUDO SOBRE TUDO ISSO”


Exposição coletiva de artistas do Ateliê Espai. Em cartaz até 14 de setembro, no Museu Mineiro (Avenida João Pinheiro, 342, Lourdes). Visitação de terça a sexta, das 12h às 19h; sábado, domingo e feriado, das 11h às 17h. Entrada gratuita.