O documentário baiano

O documentário baiano "Quilombo Rio dos Macacos", de Josias Pires, abre a programação, que terá duas sessões diárias, até domingo  

crédito: Reprodução

 

O Cine Santa Tereza abriga, a partir desta quarta-feira (7/8), a 4ª edição da Mostra Cinema dos Quilombos. A programação, que segue até domingo, reúne dois longas e diversos curtas e médias-metragens produzidos em diferentes regiões do país. São obras que abordam aspectos relativos à vida nas comunidades quilombolas, em sua maioria realizadas pelos próprios moradores desses territórios.

 


Coordenada por Cardes Monção Amâncio e produzida por Iakima Delamare, a mostra contou com uma curadoria formada por Alessandra Brito, Diego Silva Souza e Maya Quilolo, com assistência de curadoria de Ana Carla Sá Campos, Fabiana Santos, Jú Souza, Lourdes Gott e Pedro Manzo. A equipe selecionou os filmes que compõem a programação a partir de um universo de aproximadamente 100 produções.

 


Iakima explica que a metodologia adotada previa que cada obra fosse assistida por um curador e dois assistentes, que discutiam entre si o que o filme agregava e que imagem passava sobre a comunidade quilombola focalizada. A qualidade técnica foi levada em consideração, mas não era preponderante para a escolha. O conjunto traz obras feitas em vários formatos e com diferentes recursos – inclusive com celular.

 


“Os critérios mais importantes dizem respeito à temática”, afirma a produtora. Ela aponta que os dois longas tratam da luta do povo quilombola pela preservação de seus territórios. Entre os curtas e médias, são nove títulos que ressaltam a presença feminina nas comunidades, cinco que tratam da memória associada à terra e à ancestralidade, três que abordam a cultura alimentar dos quilombolas e outros cinco que focalizam a cultura religiosa e festiva.

 


Infância

A programação se completa com três produções, agrupadas nas sessões do próximo sábado, que exploram o universo da infância nos quilombos. “A 4ª Mostra Cinema dos Quilombos celebra a riqueza e a diversidade das culturas quilombolas, oferecendo um espaço para que suas histórias, tradições e lutas sejam reconhecidas e valorizadas. Esse trabalho é fundamental para a preservação e a promoção das narrativas desses grupos”, diz.

 


A mostra integra o projeto Cinema dos Quilombos, coordenado por Cardes Amâncio, que realiza oficinas audiovisuais nos territórios, mantém aberto o chamado para filmes e edita publicações sobre o cinema quilombola.

 

 


A sessão de abertura traz o documentário “Quilombo Rio dos Macacos”, de Josias Pires (BA, 2017). O filme retrata a comunidade quilombola e sua luta pela garantia da propriedade da terra, de uso tradicional, reivindicada pela Marinha do Brasil. Além de denunciar violações de direitos humanos – de ir e vir e de acesso à água, saúde, educação, moradia e trabalho –, o filme registra conflitos e negociações, traçando amplo painel de caráter político, social, cultural e etnográfico.

 


Também nesta quarta, às 19h, serão exibidos o curta “Casca de Baobá”, de Mariana Luiza (Quilombo Machadinha – Quissamã – RJ, 2017); o filme-ensaio “Raízes que contam”, de Marta Silva (Cachoeira, Bahia, 2023); o documentário “Eu sou raiz”, de Cíntia Lima e Lilian de Alcântara (Quilombo da Mata São José / Orocó – PE, 2021); e “Marta Kalunga”, documentário de Marta Kalunga, Luciene Morais e Thaynara Rezende (Comunidade Vão das Almas e Quilombo dos Kalunga – Cavalcante – GO, 2022).

 


Destaques

Um dos destaques da mostra, segundo Iakima, é o documentário “As cantigas que nos guia” (sic), produzido pelo Ponto de Cultura Kilombo Manzo N'gunzo Kaiango, de Belo Horizonte. O filme apresenta a comunidade formada pela família descendente de Efigênia Maria da Conceição (Mãe Efigênia / Memeto Muiande), matriarca e sacerdotisa da umbanda e do candomblé. Após a sessão, no próximo sábado (10/8), às 19h, haverá debate com Makota Kidoialê e outros integrantes do quilombo Manzo.

 


Iakima avalia que a produção audiovisual quilombola tem se mostrado pulsante ao longo dos últimos anos, o que, inclusive, permite aos realizadores da Mostra a formação de um acervo. “A cada ano a gente dispõe de mais filmes para fazer a seleção, porque o acervo só aumenta. Chega muita coisa às nossas mãos, não precisamos ficar correndo atrás, pesquisando. Faço a curadoria do Festival de Cinema Infantil de BH e por lá também recebemos muitas produções com temáticas quilombolas”, comenta.

 


Além de “As cantigas que nos guia”, outros filmes da programação terão sessões seguidas de debates com diretores, membros da equipe, curadores e pesquisadores. “Tem essa proposta de colocar as comunidades para conversarem entre si. Acho que promover trocas é uma das principais contribuições da Mostra Cinema dos Quilombos”, afirma, chamando a atenção para a prevalência de produções vindas do Nordeste. “É uma região que tem muitos quilombos.”

 

Livro em preparação

A programação da Mostra engloba um chamamento para envio de trabalhos para o segundo volume do livro sobre “Cinema quilombola”. A publicação está sendo organizada por Edileuza Souza e reúne artigos, resenhas, ensaios, entrevistas, poemas, textos acadêmicos, livres e literários, que dialoguem diretamente com a produção audiovisual que emerge das mais de 6 mil comunidades quilombolas do Brasil. Os autores podem se inscrever pelo site.


4ª MOSTRA CINEMA DOS QUILOMBOS
A partir desta quarta-feira (7/8) até domingo (11/4), com sessões diárias, às 16h30 e às 19h, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza). Ingressos gratuitos no site da mostra ou na bilheteria do Cine Santa Tereza, com 30 minutos de antecedência. Com exceção da sessão de abertura, com o longa “Quilombo Rio dos Macacos”, cuja classificação etária é 14 anos, todos os demais filmes da mostra têm classificação livre.