Machado (Marco Ricca) toma uma decisão radical. No meio do ato, no entanto, ele para tudo porque se lembra de uma coisa. Mas não há muito mais o que fazer. Entre o trágico e o patético, o músico de meia idade, que fez sucesso nos anos 1980 com uma banda de rock, perde a vida.
Não há nenhum spoiler nisto, pois esta é a sequência inicial de “De pai para filho”, comédia dramática de Paulo Halm que estreia hoje (8/8), às vésperas do Dia dos Pais, no UNA Cine Belas Artes. “É um encontro estranho e doloroso entre um pai morto e um filho vivo para um acerto de contas que acaba se transformando numa discussão geracional”, afirma o diretor e roteirista.
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Ainda que sejam Marco Ricca e Juan Paiva (José) os personagens-título, o longa também destaca Miá Mello (Dina) e Valentina Vieira (Kat), mãe e filha vizinhas do apartamento 802, em Copacabana. José, que só teve contato com o pai na infância, sai de Araraquara, interior de São Paulo, para desocupar e vender o imóvel no Rio que recebeu como herança. É ali que tudo acontece.
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“Eu, que tenho mais ou menos a idade do Machado, sou cria dos anos 80. José representa esse homem menos machista, mais compreensivo e doce. E as mulheres o ajudam, pois ele é um homem formalmente, mas um menino afetivamente”, continua Halm, que acredita que o cerne da história é mostrar que as pessoas podem se tornar seres humanos melhores depois de passar por experiências traumáticas.
A despeito da morte logo no início da trama, o clima é leve. A música é como um quinto personagem, com Ricca executando o grande sucesso da Capa Preta, banda em que Machado foi o tecladista. “Quando jovem eu cantava e tocava, mas estou bem longe de ser um cantor. Tive o auxílio do Felipe Rodarte (que fez a direção musical) para não me deixar desafinar tanto”, diz o ator.
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Rodarte e Halm, inclusive, compuseram as duas canções do Capa Preta, “Morrer jovem demais” e “Estava na chuva”, que aparecem em diferentes situações na trama. “Eu queria usar uma música que já existe, mas me cobraram R$ 18 mil para usá-la. E cada nova inserção seria cobrada mais não sei quantos mil. Eu não tinha esse dinheiro, então tive que apelar para a criação.” A trilha do filme, que inclui ainda “Menino bonito” (Rita Lee) e “Berceuse dos elefantes” (Walter Franco), será lançada no Spotify.
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Longa de baixo orçamento, “De pai para filho” foi inteiramente rodado em um apartamento em Copacabana. O que foi ótimo para a interação do elenco, conta Miá Mello. “Com o Ricca, por exemplo, eu contracenei só uma vez. Mas o tempo passado nos bastidores deu a possibilidade de todo o mundo ficar muito próximo.”
Do humor ao drama
A escolha da atriz, que como Dina sai da zona de conforto das comédias, foi uma aposta de Halm, que escolheu Miá depois de vê-la no monólogo “Mãe fora da caixa”. “Ela é ótima comediante, mas é capaz de passar por todas as faixas da dramaturgia com elegância, inteligência e emoção. Queria que a Dina fosse uma mulher que dê cambalhota, ria e depois chore”, comenta o diretor.
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A escolha foi acertada. No início deste mês, Miá recebeu o prêmio de melhor atriz do Festival de Paraty pelo papel. “Amo fazer comédia mas, como atriz, quero fazer tudo. Então, abracei com força essa oportunidade. Por não estar tão habituada a um trabalho dramático, durante um mês e meio criei, sozinha, a gênese da personagem”, finaliza a atriz.
“DE PAI PARA FILHO”
(Brasil, 2023, 123min., de Paulo Halm, com Juan Paiva, Marco Ricca e Miá Mello) – Estreia nesta quinta-feira (8/8), às 20h30, na sala 3 do UNA Cine Belas Artes.