Socióloga Elizabeth Fleury coordenará o debate

Socióloga Elizabeth Fleury coordenará o debate "Violência e masculinidades: desafios da cultura", amanhã, na sede da AML

crédito: Denys Lacerda/EM/D.A Press

Em 2021, a socióloga Elizabeth Fleury defendeu, na Universidade Federal de São Carlos, a tese “Homens autores de violência contra mulheres”. Seu doutorado, um estudo inédito na América Latina, partiu de grupos de reflexão realizados em 2019 em Belo Horizonte com 465 homens punidos pela Lei Maria da Penha (Lei 11.340-2006).

 

Tal estudo será o ponto de partida da edição de amanhã (10/8), a partir das 10h, do Sábados Feministas, encontro promovido pela Academia Mineira de Letras (AML) e pelo movimento Quem Ama Não Mata, na sede da AML. Os debates mensais seguem até novembro.

 

 

Para discutir o tema “Violência e masculinidades: desafios da cultura”, além de Elizabeth, estarão presentes o psicanalista e professor da PUC Minas Felipe Lattanzio e o juiz Marcelo Gonçalves de Paula.

 

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Lattanzio coordenou o Instituto Albam, ONG que foi uma das pioneiras do país no trabalho com autores de violência contra as mulheres. Já Gonçalves de Paula é juiz titular do 2º Juizado de Violência Doméstica e Familiar da comarca de Belo Horizonte.

 

 

Os grupos reflexivos são conduzidos por dois profissionais (um homem e uma mulher) da área de saúde mental para encontros semanais ao longo de três meses, em média. “É um recurso legal, uma pena alternativa criada pela Lei Maria da Penha para homens que realizaram delitos de menor potencial ofensivo”, explica Elizabeth. Obviamente, tentativas de feminicídio e agressões severas não entram nestes casos.

 

Discursos masculinos

 

Os grupos que ela estudou foram realizados pelo Instituto Albam e pelo programa Dialogar, da Polícia Civil de Minas Gerais. A socióloga utilizou métodos qualitativos e quantitativos para reconstruir a memória dos chamados perpetradores da violência contra a mulher. “No processo de reeducação, os homens emitem cinco discursos”, explica Elizabeth. O primeiro passo seria a ignorância, “pois não reconhecem o tipo de violência que praticam”.

 

O segundo, ela chamou de crise. “Como muitos foram presos, chegaram traumatizados ao grupo, então têm que reconhecer a crise.”

 

O terceiro ponto é sobre a origem destes homens, quais são seus valores, como foram educados. Em um quarto momento, eles se sentem abandonados. E o quinto estágio foi nomeado cura, pois os participantes estão terminando a fase de reeducação.

 

A socióloga apresentará ao público um dado internacional alarmante. Somente de 10% a 11% dos casos de violência doméstica chegam às delegacias. Em sua experiência com os grupos em Belo Horizonte, Elizabeth conta, os envolvidos eram majoritariamente de classes com menos recursos.

 

Transição



“As regras familiares que estes homens aprenderam são do passado. Já as leis estão no presente e mirando o futuro. Ou seja, os homens estão vivendo um período de transição, de não compreensão. E a violência costuma aumentar em momentos de transição. Está tudo muito confuso, embaçado”, afirma.

 

A socióloga está ampliando sua pesquisa para outras capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Brasília e Porto Alegre. Ela também prepara a segunda edição, ampliada e revista, do “Dicionário feminino da infâmia – Acolhimento e diagnóstico de mulheres em situação de violência” (Editora Fiocruz, 2015), organizado com Stela N. Meneghel, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

 

SÁBADOS FEMINISTAS


Debate “Violência e masculinidades: desafios da cultura”. Neste sábado (10/8), às 10h, no auditório da Academia Mineira de Letras ( Rua da Bahia, 1.466 – Lourdes). Entrada franca.