Autor de “O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho” e “Sonho manifesto”, entre outros livros, o neurocientista e biólogo Sidarta Ribeiro é o convidado deste domingo (11/8) do projeto “O que é?”, do Inhotim, que propõe experiências transdisciplinares, a partir de uma indagação. “O que é um sonho?” é o tema desta edição, que contará com os artistas Nadam Guerra e Uyra.
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O encontro de Sidarta com o público será às 14h, na galeria True Rouge. Sua explanação aborda aspectos dos sonhos ligados ao devaneio, criatividade, psicodelia, transe, simulação de futuros possíveis e o oráculo probabilístico.
“A ideia é a gente sonhar em vigília, devanear coletivamente sobre o que é exatamente o sonhar, usar o interior como espaço de invenção, de brincadeira, de memória, de narrativa, de ficção, de expressão artística para uma construção de futuro”, diz Sidarta. Ele considera que os sonhos podem apontar para o lugar de onde a humanidade veio e para onde vai, e que podem ter tanto uma dimensão mística e religiosa quanto psicodélica.
“Na origem e na evolução dos mamíferos, a função que os sonhos desempenharam está ligada a uma tentativa de navegar o presente em direção ao futuro. É um oráculo que pode dizer sobre as probabilidades do que vai acontecer com base no passado”, afirma. Ele defende que os sonhos podem ser um caminho – ou melhor, caminhos – para a materialização do que se deseja. Sidarta observa que a interpretação dos sonhos é algo que se perdeu no mundo urbano e na sociedade capitalista.
Funcionamento do cérebro
“Perdemos o interesse pelo sonho, que é um acontecimento que tem que ser reaprendido, a capacidade de sonhar e de compartilhar para criar, agir e transformar algo que ainda não existe em uma experiência para ser vivida, experimentada”, diz. Ele argumenta que os sonhos são muito importantes, principalmente porque dão pistas de como o cérebro funciona.
“Foi só nos últimos 500 anos, mais ou menos, sobretudo na Europa e, depois, com a colonização europeia de várias partes do planeta, que se espalhou a ideia de que os sonhos são besteira”, aponta. Os pesadelos também fazem parte dessa equação e, conforme diz, é normal ter sonhos ruins, porque é possível transformar uma determinada situação, compreendendo que aquilo não é real. O neurocientista afirma que, ao tomar essa consciência, é possível entrar no sonho lúcido.
Segundo ele, isso pode acontecer espontaneamente, geralmente durante a adolescência. “É um sonho em que as pessoas percebem que estão sonhando e elas ficam lúcidas. Quando têm essa percepção, elas podem fazer o que quiserem ali dentro”, diz, acrescentando que essa é uma capacidade que pode ser treinada e cultivada. “O ioga no Tibete tem a ver com esse controle parcial e depois total do espaço onírico. Nas Américas originárias, essa experiência era valorizada como uma jornada espiritual.”
Sidarta chama a atenção para o fato de que esse sonho lúcido ficou muito prejudicado no atual contexto de excesso de telas. Ele tem se empenhado na divulgação do projeto Soneca Escolar, que se opõe à ideia de que o sono dos alunos é um inimigo dos professores no ensino primário. “As evidências obtidas em laboratórios têm mostrado que quando você deixa a soneca acontecer no ambiente escolar, você possibilita uma melhor absorção dos conteúdos aprendidos, o que pode potencializar a qualidade da leitura, por exemplo”, diz.
Em sua opinião, se a criança ou o adolescente chega com déficit de sono de casa, a escola tem que suprir. “Quando o corpo precisa dormir e pode dormir, além de uma questão ética, de respeito à criança, isso é um caminho para favorecer o aprendizado. Trata-se de algo que pode dobrar a velocidade da leitura num prazo de quatro meses. Estamos querendo levar essa pesquisa para um número muito maior de escolas. É um esforço no sentido de fazer isso em grande escala”, afirma.
Outras atrações
Às 10h30, no Tamboril, Nadam Guerra convida o público para “O sonho é coletivo”, atividade que propõe uma prática corporal e meditação oracular, na qual os participantes vão lembrar de seus sonhos, compartilhá-los e responder a perguntas. Com essa prática, o público vai exercitar a “flexão simbólica”, habilidade importante na arte, no oráculo e na interpretação dos sonhos.
Uyra apresenta, a partir das 16h, no jardim da Galeria Mata, a performance “Pupa”, que tem como imagem uma transmutação assistida. A paisagem sonora da ação aborda os sonhos a partir de uma perspectiva indígena e diaspórica. Na performance, Uyra compartilha as rotas de realidades e imaginação de sua família em cada geração para afirmar que “somos os sonhos de nossos ancestrais”.
“O QUE É UM SONHO?”
Com Sidarta Ribeiro, Nadam Guerra e Uyra, neste domingo (11/8), a partir de 10h30, no Inhotim (rua B, 20, Brumadinho – fone: 3571 9700). Ingressos a R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)