Juan Paiva brilha como João Pedro no remake

Juan Paiva brilha como João Pedro no remake "Renascer" e também virou atração na favela do Vidigal, no Rio

crédito: Angélica Goudinho/Globo

 


Os turistas que sobem o Vidigal, na Zona Sul carioca, não têm fotografado apenas as belezas naturais da comunidade, incrustada entre o mar e a Mata Atlântica.


Nos últimos tempos, eles estão voltando as suas lentes também para Juan Paiva, um dos moradores da favela. A tietagem, porém, não é sem motivo. Com 26 anos, cinco séries e três novelas no currículo, o artista desponta como um dos principais nomes da nova geração de galãs da televisão brasileira, encarnando personagens trágicos que lidam com sofrimentos e injustiças radicais.

 

 

Ele pode ser visto atualmente no horário nobre da TV Globo, dando vida a João Pedro, um dos principais personagens do remake de "Renascer". Faz parte ainda do elenco da série "Justiça 2", da Globoplay, em que encarna o motoboy Balthazar Gomes. E também está em cartaz nas salas de cinema, com o filme "De pai para filho", dirigido por Paulo Halm.

 

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Na produção, o artista interpreta José, um jovem que vê a rotina virar de ponta-cabeça quando começa a ver o fantasma do pai, vivido por Marco Ricca. O espírito quer se aproximar do filho, com quem teve uma relação distante durante a vida.


O longa é lançado após o sucesso de "Nosso sonho", cinebiografia de Claudinho e Buchecha, dupla que arrebatou o Brasil no final dos anos 1990. A obra se tornou o filme nacional mais visto no ano passado, levando mais de 500 mil pessoas às salas de cinema. No longa, Juan Paiva interpreta Buchecha.

 

Sem vaidade

 

Apesar da trajetória ascendente, sua vaidade segue, por ora, no mesmo patamar de antes do estrelato. "Eu não me dou espaço para pensar no sucesso. Eu me sinto o mesmo de antes", diz Paiva.

 

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Se os turistas que sobem a favela se surpreendem ao esbarrar com o ator, os vizinhos que o viram crescer encaram a sua presença com naturalidade. "Eu não me deslumbro. Se isso acontecesse, alguém iria me puxar e falar: 'Garoto, coloca o pé no chão.'"


O Vidigal não apenas ajudou a moldar as visões que Juan tem sobre o sucesso, mas também o formou enquanto artista. Para vencer a timidez, ele começou a fazer teatro aos 8 anos no Nós do Morro, associação cultural que existe há mais de três décadas na comunidade – onde se formaram nomes como Babu Santana e Roberta Rodrigues.


A estreia no cinema aconteceu em 2010, quando viveu Wesley no filme "5x favela – Agora por nós mesmos", produzido por Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães, uma atualização do clássico "Cinco vezes favela", marco do cinema novo.


Cinco anos depois, voltaria a viver um personagem de mesmo nome, só que desta vez na televisão. Após ser aprovado em um teste de elenco, entrou para a novela "Totalmente demais", exibida na faixa das 19h da Globo. "No começo, eu tive muitas dúvidas de como encontrar um caminho interessante para o personagem, já que a TV era um formato novo para mim."


E ainda havia um desafio adicional. O personagem nutria o sonho de ser jogador de futebol, mas fica paraplégico após ser atropelado.


Desenvoltura dramática

 

Conforme a progressão do folhetim, ele se familiarizou com a telinha e perdeu o nervosismo. Cooperou para isso também o fato de ele ter contado com o apoio do elenco e da produção. "Trabalhei com pessoas muito agregadoras. O Wesley foi um grande presente na minha vida e uma virada para a minha carreira."


Em paralelo, o trabalho veio num momento em que Juan buscava estabilidade financeira. Antes da estreia, ele se tornou pai, aos 16. "Foi desesperador. Estava terminando os estudos e não sabia como seria o meu futuro. Mas minha filha é uma bênção. Assim que ela nasceu, comecei a trabalhar na televisão."

 

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O personagem também evidenciou características que ajudam a explicar o sucesso de Juan. Ele se firmou na teledramaturgia graças à sua verve dramática e à alta carga emocional de seus personagens. São papéis com cenas de dores lancinantes, como a de perder um ente querido ou a de sofrer uma injustiça.


Não à toa, depois da novela, ele foi escalado para viver outro jovem que perdia o movimento das pernas, dessa vez na série "Malhação". Diferentemente de Wesley, ele conseguiu voltar a andar no decorrer da trama.


Para Juan, essa desenvoltura dramática lhe parece intuitiva. "Não tem uma fórmula mágica. Existem vários livros por aí, mas eles nem sempre funcionam para todo mundo", diz o ator, acrescentando que não segue teorias. "Eu só sei que são estímulos e pensamentos que me ajudam a estar presente na cena e a deixar tudo transbordar."


Esse turbilhão de emoções tem provocado comoção no público. As cenas em que o ator aparece chorando de forma copiosa viralizaram nas redes sociais. Os memes engrossam um movimento que pede pelo fim do sofrimento de seus personagens.


A campanha aumentou no mês passado, quando João Pedro, de "Renascer", ficou transtornado ao saber que sua filha morreu durante o parto.


"Pelo amor de Deus! Eu não aguento mais ver o Juan Paiva sofrendo em novelas. Espero que o próximo papel seja de vilão", disse a internauta Babi no X, antigo Twitter, em uma publicação com mais de 20 mil curtidas.


Outra figura marcante foi o Ravi, de "Um lugar ao sol" – estreia de Juan no horário nobre. Na trama, o jovem era o melhor amigo de Christian, um dos gêmeos vividos por Cauã Reymond. Inicialmente, Ravi iria morrer, mas foi poupado após cair nas graças do público.

 

Racismo

 

Isso não quer dizer, porém, que ele tenha terminado o folhetim incólume. Em um dos capítulos, Ravi é preso injustamente, acusado de roubo. Situação parecida com o Balthazar de "Justiça 2", detido por um crime que não cometeu, aproximando a ficção das franjas da sociedade.


"Desde que me conheço por gente, passo por situações de racismo em determinados lugares e cometidos por pessoas de uma classe social mais alta", diz o artista. "Sou preto, favelado e também sou ser humano, assim como eles. É preciso que isso fique bem claro."


A política de segurança pública do Rio de Janeiro também impõe desafios. Na capital, as favelas são alvos frequentes de operações com altas taxas de letalidade. Há também casos em que agentes agem de forma truculenta com pessoas negras e faveladas. "Já vi muita coisa acontecer que me trouxe impotência. Policial que exerce verdadeiramente sua função não prejudica quem não têm nada a ver com a história."


Apesar desses problemas, o artista não deixa o otimismo de lado, principalmente porque consegue oferecer mais conforto à família. "A gente passou por situações difíceis de miséria e vulnerabilidade. Isso me faz perceber que estamos avançando", diz Juan. "Estou nesse campo de batalha e a conquista é diária." (Matheus Rocha