o longa-metragem

o longa-metragem "Batalha de honra", de Woo-Ping Yuen, é um dos títulos da mostra

crédito: FCS/Divulgação

 


A mostra “Wuxia – O despertar das lendas” ocupa a partir desta sexta-feira (16/8) o Cine Humberto Mauro, reunindo títulos expressivos desse subgênero de filmes de artes marciais. O termo pode ser livremente traduzido como “heróis marciais” e os títulos carregam fórmulas e conceitos próprios.

 


O Wuxia tem como elemento característico protagonistas que seguem um estrito código de honra e lutam contra a injustiça e a opressão. Ao longo do tempo, esses heróis tiveram suas aventuras contadas através de uma rica variedade de formas artísticas, incluindo ópera, música, videogames e, claro, o cinema.

 


A curadoria da mostra, a cargo do pesquisador e crítico de cinema Júlio Cruz, inclui títulos produzidos a partir da década de 1920. Os mais antigos entre os selecionados, “A caverna da teia de seda” (1927) e “Heroína vermelha” (1929), serão disponibilizados exclusivamente na plataforma CineHumbertoMauroMais. Presencialmente, o público poderá conferir produções feitas a partir dos anos 1960, como “A estalagem do dragão” (1967), de King Hu, e “Espadachim de um braço” (1967), de Chang Cheh.

 


A programação também inclui longas mais recentes, como “O tigre e o dragão” (2000), de Ang Lee, e “Herói” (2002), de Zhang Yimou. Haverá sessões especiais, como a de “Adeus, Dragon Inn” (2003), de Tsai Ming-Liang, em 21/8, que será comentada pelo curador.

 


“Eu quis, por um lado, trazer filmes mais consolidados no Ocidente, mas sem a preocupação de centrar a mostra nisso. 'O tigre e o dragão', 'Herói', 'Espadachim de um braço' e 'A estalagem do dragão' são exemplos. Por outro lado, também peguei filmes menos conhecidos, com um caráter mais, digamos, experimental, que ousam um pouco mais na fórmula”, diz o curador, citando como exemplos “Confissões íntimas de uma cortesã chinesa” (1972), de Yuen Chor, “O clã do lotus branco” (1980), de Lieh Lo, e “Wing Chun: uma luta milenar” (1994), de Woo-Ping Yuen.

 


Cruz afirma que sempre chamou sua atenção o fato de o cinema da China, de Taiwan e de Hong Kong ser historicamente muito avançado no que diz respeito a um protagonismo diverso. “Nesses filmes da década de 20 incluídos na mostra já apareciam figuras que são representadas de uma forma meio queer, algumas heroicas, outras mais vilanescas. No Ocidente, isso praticamente não existia naquela época, sobretudo em produções mais comerciais.”

 


Mulheres protagonistas

Um dos primeiros clássicos do Wuxia, “O grande mestre beberrão” (1966), de King Hu, que não está incluído na programação da mostra, é protagonizado por uma mulher, conforme aponta o curador. A partir daí, várias outras produções do gênero passaram a ter mulheres como as principais heroínas. “Quis trazer esse traço também, até como forma de homenagear a carreira de Michelle Yeoh e essas várias mulheres que fizeram o cinema da China, de Taiwan e de Hong Kong ser o que é hoje”, diz, citando a vencedora do Oscar por “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”.

 


Michelle Yeoh estrela alguns dos títulos do ciclo. Cruz destaca que em “O clã da lotus branca”, o protagonista é um homem, mas a jornada que ele empreende para derrotar o vilão passa pelo entendimento e o reconhecimento da força feminina, o que o leva a treinar com uma mulher. Mas o curador explica que no Wuxia o herói não segue uma lei ou um mestre – o que é recorrente no cinema japonês, por exemplo.

 


“O herói do Wuxia é guiado por um senso próprio de justiça e de honra. Muitas vezes ele enfrenta políticos corruptos. Em outras tantas, luta para corrigir uma situação de injustiça. De forma recorrente, esses heróis são provenientes de classes sociais mais baixas”, diz.

 


Espírito revolucionário

Ele observa que no século 20 o Wuxia retomou sua proeminência. “São obras que buscam, metaforicamente, construir na população um espírito revolucionário. No Wuxia, chegam essas figuras do nada, que já são poderosas, e elas transformam o local por suas próprias ações, tentando melhorar a vida da população.”

 

 

Premiados, “O tigre e o dragão” e “Herói” são destaques da mostra, mas Cruz pontua que a programação também traz títulos que podem se revelar surpreendentes para o público. “Um que recomento fortemente é o 'Confissões íntimas de uma cortesã chinesa', que tem um forte teor feminista; é uma história de amor e vingança lésbica, ambientada em um prostíbulo. Também indico o 'Wing Chun: uma luta milenar', protagonizado pela Michelle Yeoh, que é um pouco mais cômico”, aponta.

 


SESSÕES ESPECIAIS

No próximo dia 24, a mostra exibe a animação “Kung Fu Panda” (2008), em sessão adaptada especialmente para pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) e suas famílias, em versão dublada, com portas abertas e adequação sonora e de iluminação.

 

Já a abertura conta com a faixa Sessão da Meia Noite, com o filme “Magia” (1983), dirigido por Chih-Hung Kuei. A trama segue Chen Chieh, que viaja para uma vila remota no Sudeste da Ásia para investigar a morte misteriosa de seu irmão. Ao descobrir que ele foi vítima de uma antiga magia das trevas, Chen enfrenta rituais sombrios e um feiticeiro poderoso, colocando sua própria vida em risco.


MOSTRA “WUXIA – O DESPERTAR DAS LENDAS”
A partir desta sexta-feira (16/8) até 25/8, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada gratuita, com retirada de ingressos a partir de meia hora antes de cada sessão, na bilheteria do cinema. Programação completa no site.