A atriz Gena Rowlands, indicada duas vezes ao Oscar e conhecida por estrelar os principais filmes do cineasta John Cassavetes, seu primeiro marido, morreu na última quarta-feira (14/8), aos 94 anos.
Ela estava com a família, em sua casa, no estado americano da Califórnia. A causa da morte não foi divulgada. Em junho deste ano, Nick Cassavetes, filho de Rowlands, informou que a atriz sofria há cinco anos da doença de Alzheimer.
Nos filmes, interpretou mulheres fortes e problemáticas. Ela foi indicada ao Oscar em 1975, por "Uma mulher sob influência" – vivendo uma mulher insegura e desesperada internada pelo marido –, e em 1981, por "Glória" – como uma prostituta de um gângster em fuga com um garoto órfão –, ambos dirigidos por Cassavetes. O papel em "Uma mulher sob influência" rendeu à artista um Globo de Ouro.
Para o público mais jovem, também ficou célebre no papel de Allie, no filme "Diário de uma paixão", de 2004, dirigido por seu filho Nick Cassavetes.
O estrelato veio primeiro com "Faces", de 1968, no papel de uma jovem prostituta, ao lado de John Marley. A esse se seguiram "Assim falou o amor", de 1971, com Rowlands como uma funcionária de museu que se permite se apaixonar por um manobrista, e "Noite de estreia", de 1977, no papel de uma atriz assombrada pelo fantasma de uma fã morta violentamente. Sua última colaboração com Cassavetes foi em "Amantes", de 1984, no qual interpretaram irmão e irmã.
Casal de ouro
Ao todo, Rowlands atuou em 10 filmes de Cassavetes, com quem foi casada por 35 anos, até a morte dele, em 1989. Apenas uma vez ela rejeitou um papel Cassavetes: justamente a Mabel de "Uma mulher sob influência", prevista inicialmente para ser uma peça de teatro. Segundo a atriz, era "muito intenso emocionalmente para interpretar todas as noites". Cassavetes reescreveu a história e a transformou em um filme.
Os dois foram o casal de ouro dos filmes independentes nos Estados Unidos nas décadas de 1970 e 1980. Em 2012, ela se casou com o empresário Robert Forrest.
"O cinema independente existia antes de Cassavetes, mas Cassavetes, trabalhando com Rowlands, conseguiu fazer um cinema independente que tomou emprestado de Hollywood – não em enredos ou estilos, mas no charme dos atores e no poder dramático", escreveu o crítico de cinema Richard Brody, na revista New Yorker, em 2016.
Em uma carreira que incluiu atuações no teatro e na TV, ela recebeu três Emmys. Em 2015, ao encerrar a trajetória artística, ganhou um Oscar honorário.
Heroínas atormentadas
"A atuação sublime de Rowlands é quase sem precedentes: suas heroínas atormentadas operam a partir de reservas tão profundas de necessidade que só podem ser acessadas por Rowlands, que não apenas reivindica momentos, mas luta com eles para extrair camadas ainda mais duras de autenticidade", afirmou o crítico Matthew Eng no site Tribeca News, em 2016.
Filha de um banqueiro e político e de uma atriz, Rowlands nasceu no dia 19 de junho de 1930, em Cambria, Wisconsin. Estudou atuação na American Academy of Dramatic Arts, em Nova York, e conheceu o colega de estudos Cassavetes, com quem se casou um ano depois.
"Sempre quis ser atriz; eu lia muito quando era pequena e isso me revelou que havia outras coisas para ser. Você pode viver muitas vidas, se divertir muito e ver muitas coisas," ela disse ao New York Times, em 2016.
Rowlands trabalhou em teatro regional e na TV antes de fazer sua estreia na Broadway em "Middle of the night", em 1956. Dois anos depois, conseguiu seu primeiro papel no cinema em "The high cost of loving" (O alto preço do amor) e tem uma participação no filme de estreia na direção de Cassavetes, "Sombras", de 1959.
"Não era como trabalhar para qualquer outra pessoa", Rowlands disse ao crítico de cinema Roger Ebert sobre Cassavetes em 2016. "A liberdade que John dava aos seus atores era surpreendente."
A atriz continuou a trabalhar em filmes, incluindo o drama de Woody Allen de 1988 "A outra" e na TV após a morte de Cassavetes.
"Incapaz de um momento irreal", foi como Allen definiu a atriz. Após trabalhar ao lado dela em "Uma noite sobre a Terra", de Jim Jarmusch, a atriz Winona Ryder declarou: "Tudo o que se fale sobre Gena não é suficiente, porque ela é incrível demais".
"É uma vida complicada, mas foi tão emocionante e maravilhosa porque estava fazendo o que realmente queria fazer", Rowlands disse sobre atuar e fazer filmes independentes.