Iza Sabino tem só 24 anos, mas já soma uma década de carreira. Não falta luz própria a esta moça de Santa Luzia: além de cantora e compositora, cria os próprios beats (ofício raro na cena feminina do rap) e também assina a direção musical de seu segundo álbum solo, “Grande”, parceria da ONErpm com o selo A Quadrilha, comandado por Djonga.
O novo trabalho será lançado na Virada Cultural de BH, que destaca talentos locais. Iza é atração da madrugada de domingo (25/8). À 1h10, ela subirá ao "Palco Vivo", na Praça Rui Barbosa.
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Sem metrô
Aos 14 anos, Maria Izabel começou a rimar em batalhas nas rodinhas no Viaduto Santa Tereza. Muito tímida, não subiu no palco do Duelo de MCs “porque as perninhas tremiam”. Várias vezes perdeu o metrô, teve de dormir na casa dos outros. “Até na rua”, admite, mas tudo negociado com os pais. “Eu moro em música/ Nunca fui visitante”, canta esta mineira que, pouco a pouco, conquistou seu espaço no mundo masculino do rap.
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“Acredito muito no meu propósito dentro da música, que é passar a minha mensagem”, afirma Iza Sabino, ansiosa para mostrar ao vivo seu novo trabalho nesta Virada. Ela não constrói a carreira amontoando singles e dancinhas para se alinhar ao mercado. “Não gosto de ir na onda do hype. Se eu fizer sucesso, que bom”, resume.
Iza lança um “álbum cheio”, formato cada vez mais raro hoje em dia. Ele traduz um conceito, conta uma história. A história de Maria Izabel Sabino de Paula Galvão.
Na faixa “Interlúdio”, a mãe conta que Iza, aos 8 anos, foi desenganada pelos médicos. Dona Conceição Júlia pegou com Deus, e a filha é destaque da Virada Cultural de BH. O pai, Antônio Carlos, fala orgulhoso de sua Bebel.
“Interlúdio” é divisor de águas. Na primeira parte do disco, a rapper fala das coisas do mundo. Do apagamento da mulher preta (“o poder das palavras me tornou visível”), do aprendizado para não virar “tapete” dos outros, do racismo, de superar a branca que a chamou de “macaca”, da batalha pela vida (“geladeira cheia é o hype”), do machismo. Divide microfones com Djonga, a carioca Kamila CDD e a paulista MC Luanna.
Na segunda parte, a do coração, vêm as love songs, a dor e a delícia de ser mulher LGBTQN+. Iza fala de paixões, alegrias e sofrências, tendo como convidadas a mineira Paige e a baiana Luedji Luna.
“Eu fui a moça que se jogou do oitavo amor”, canta ela. E admite: este é seu trabalho mais autobiográfico – meio terapia, até. “Tudo o que falei ali aconteceu. Ou partiu de um sonho, de um filme...”
Iza Sabino batalha para compreender este mundo complexo, daí surgiu o título do álbum. “Significa a gente se ver grande, evoluir espiritualmente. Olhar para trás, perdoar os traumas. Entender as pessoas, a vida.” Mas avisa: “Sou boa, mas não sou boba”. Na foto da capa, ela está ao lado de uma menina. “A guardiã da nossa criança interior”, explica.
Não confunda autocuidado com autoajuda boboca. “Eu gosto de flores/ mas a rosa preferida é de aço”, canta Iza com Kamila CDD em “Nunca entendi o sucesso”. Ela abre o coração, mas à sua maneira. “No meu ponto de vista, não cabe militar sobre isso”, afirma, referindo-se ao amor entre mulheres.
“Quero representar o amor de forma leve, não atado a gêneros”, diz esta cronista da cena LGBTQN+, defendendo a responsabilidade afetiva.
Conselho de Djonga
Iza preparou 18 faixas para “Grande”, reduzidas a 12 a conselho de Djonga, com quem divide a faixa “O final é o mesmo”. Aliás, ela participa de “Fumaça”, canção de “Inocente demotape”, álbum dele lançado em 2023. É convidada de alguns shows da turnê de Djonga.
As convidadas são motivo de orgulho.“Todas elas são mulheres pretas”, afirma. A baiana Luedji Luna, Paige (outro talento da cena mineira), a paulista MC Luanna a ajudam a explorar novas sonoridades.
A bela voz de Luedji está na canção de abertura da novela “Renascer”, ao lado de Xênia França. Paige traz um jeito pop para a love song da amiga. Luanna é preta guerreira neste mundo machista. E a carioca Kamila CDD, uma das pioneiras do rap feminino nacional, mora no coração de Iza Sabino por sua trajetória de luta. “Ela tem de ser mais reconhecida”, defende.
Su Madre Mandrake
Beatmaker de quatro das 12 faixas (assina Su Madre Mandrake), Iza trabalhou também com os produtores CESRV, Dreebeat e Trxntin.
O primeiro álbum solo da rapper, “Glória”, saiu em 2021. Lançou também “Best duo” (disco colaborativo com FBC), além dos EPs “Trono de vidro”, “Amar dói” e “Augusta”. Integrou o grupo feminino Fenda, ao lado das “brabas” Laura Sette, Mayra Maia, Paige, DJ Kingdom e Tamara Franklin, além de ter participado do coletivo Geração Elevada.
IZA SABINO
Lançamento do álbum “Grande”. Show à 1h10 da madrugada de domingo (25/8), no Palco Vivo (Praça Rui Barbosa, Centro). Entrada franca.