Lô Borges compôs as melodias de

Lô Borges compôs as melodias de "Tobogã" e as enviou para Manuela Costa criar as letras

crédito: flavio charchar/divulgação

 

“Dona Maricota está?” A história de “Tobogã” (Deck), álbum de Lô Borges que chega nesta sexta (23/8) às plataformas digitais, tem início em 2005, quando uma estudante brasiliense de medicina tomou coragem e tocou a campainha da casa localizada no encontro das ruas Paraisópolis com Divinópolis, em Santa Teresa.

 


Manuela Costa tinha 21 anos, havia acabado de ler “Os sonhos não envelhecem” (1996), de Márcio Borges. Fã dos Beatles desde sempre, não demorou a descobrir o Clube da Esquina. Filha de mineiros, sempre passava por Belo Horizonte nas férias. Naquele ano, resolveu conhecer os lugares das memórias de Márcio.

 


Do Edifício Levy, no Centro, pegou um ônibus com a mãe e chegou a Santa Teresa. Dona Maricota, a matriarca dos Borges, estava em casa. Mas quem a recebeu foi Salomão Borges, o patriarca. “Na hora em que ele abriu, do portão eu vi o piano. ‘Mãe, olha o piano em que o Lô fez ‘Para Lennon e McCartney’. Comecei a chorar, estava muito emocionada”, conta Manuela.


Salomão a convidou para entrar. Conversaram um pouco até que, na despedida, ele lhe entregou seu livro de memórias, “Tobogã” (1987). Já na rua, Manuela acabou encontrando Lô, que tinha ido visitar os pais. Autografou o exemplar dela de “Os sonhos não envelhecem”.

 

 

A médica Manuela Costa e o cantor e compositor Lô Borges

Manuela Costa e Lô Borges no dia em que se conheceram, em 2005, em frente à casa da família Borges, em Santa Teresa

Arquivo pessoal


Nos quase 20 anos que separam esse primeiro encontro até a atualidade, Lô e Manuela só se encontraram uma meia dúzia de vezes. Mas isso não impediu que firmassem uma parceria. Ela é a letrista das 12 músicas de “Tobogã”.

 


“Este disco é diferente dos cinco anteriores (de inéditas, lançados a partir de 2019, sempre um por ano) porque ele tem uma pegada meio Beatles. São dois beatlemaníacos de gerações diferentes se encontrando virtualmente para fazer música”, afirma Lô.


 

O cantor e compositor está com 72 anos. Manuela, de 40, é pediatra e trabalha no Hospital do Paranoá, na cidade-satélite do Distrito Federal. Mãe de Bento, de 6 anos, e Gabriel, que acabou de completar um mês, ao longo do tempo enviou por e-mail para Lô os poemas que escrevia.

 


Até que um dia ele lhe fez o convite. “Como eu gostava do que ela escrevia, perguntei se a gente poderia inverter o processo (ele mandar a música e ela criar a letra) e se tornar parceiro”, conta Lô. Isto aconteceu no início de 2023.

 


A primeira música ganhou o nome de “Pouso da manhã”. “Mandar poema é uma coisa, escrever letra em cima de música é outro desafio”, conta Lô. Ele gravou um vídeo ensinando-a a tocar. Manuela admite que, de violão, só sabe três acordes. Generoso, Lô mandou essa canção só com os acordes que ela conhecia.

 


“Ele não só compõe, mas cantarola a melodia, coloca os fonemas. Então te dá um caminho, a métrica é certinha, a acentuação”, diz Manuela. “Achei ‘Pouso da manhã’ original”, comenta Lô, que a convidou para cantar com ele essa faixa.

 


A parceria se concretizou de forma simples. Ele enviava uma música e, poucos dias mais tarde, a letra chegava pronta. “Foi uma revelação, pois ela escreve letras maduras para quem está iniciando”, diz Lô.

 


A solar “Tobogã”, o primeiro single, com a participação de Fernanda Takai, foi a segunda canção enviada para Manuela. Já não tinha a simplicidade dos três acordes. Ao ouvi-la, achou a melodia alegre. Lembrou-se do “Tobogã” que Salomão havia lhe presenteado. O verso “O tempo é uma abstração da mente” foi tirado do livro do patriarca dos Borges.

 


Fernanda acabou gravando mais uma canção. Divide com Lô os versos de “Amor real”, uma das músicas mais pop do novo álbum.

 


Nas conversas com Lô, ele contou a Manuela que, quando adolescente, foi para a Serra do Cipó pescar com o pai. “Ele pescou o peixe e depois o jogou de volta no rio”, conta Manuela. Foi daí que nasceu a inspirada “Vou ventando pra você”. De acento roqueiro, traz Lô cantando “Pesquei um peixe vivo/Chamei de meu amigo/Depois, abri minhas mãos”.

 


O mesmo tema volta na última canção do álbum, “Na curva de um rio”, que faz uma analogia do curso de um rio com o da própria vida. “Eu desço e agradeço/Ao céu por estar sempre azul”, foi pinçada por Manuela de uma frase que Lô utiliza sempre. As letras remetem a elementos da natureza, passagens em Minas Gerais e também relacionamentos, temas que Lô vem cantando ao longo de sua trajetória.

 


“Tobogã” reúne o mesmo time dos cinco discos anteriores: Henrique Matheus (guitarras) e Thiago Correa (baixo, teclados e percussões) e Robinson Matos (bateria), presente nos seis discos.

 


“Depois que componho, ligo para o Henrique (também encarregado das gravações e mixagens) e marcamos o estúdio. Gravo a minha parte no violão e depois faço as audições (para os músicos que o acompanham). Dou liberdade criativa total para os músicos, que são praticamente arranjadores dos discos”, conta Lô.


SHOW DE ESTREIA

“Tobogã” chega aos palcos em breve. Em São Paulo, a estreia será em 20 de setembro, no Sesc Pompeia. Em Belo Horizonte, o show de lançamento será em 9 de novembro, no Palácio das Artes.


“TOBOGÔ
• Lô Borges
• Deck, 12 faixas
• Lançamento nesta sexta (23/8), nas plataformas digitais