Maria Padilha vive Alma, atriz decadente que é ajudada por um homem que se diz Tchekhov, papel de Leonardo Medeiros
 -  (crédito: Filipe Costa/Divulgação)

Maria Padilha vive Alma, atriz decadente que é ajudada por um homem que se diz Tchekhov, papel de Leonardo Medeiros

crédito: Filipe Costa/Divulgação


Desde que levou aos palcos pela primeira vez um texto de Tchekhov, “As três irmãs”, em 1999, a atriz Maria Padilha alimentava o desejo de voltar ao universo do autor russo. O problema, ela explica, é que suas peças invariavelmente têm muitos personagens, o que torna difícil viabilizar financeiramente a produção. A solução que encontrou foi pensar uma dramaturgia própria que trouxesse os elementos presentes na obra do célebre dramaturgo russo.

 


“Convidei o Pedro Brício, com quem havia trabalhado entre 2018 e 2019 no monólogo 'Diários do abismo', para o qual fez uma brilhante adaptação das obras da escritora mineira Maura Lopes Cançado. Agora, como grande dramaturgo que é, ele criou uma história original a partir do que eu gostaria de trabalhar em Tchekhov”, conta a atriz. O resultado é a peça “Um jardim para Tchekhov”, que faz sua estreia nacional nesta sexta-feira (23/8), no CCBB BH, onde cumpre temporada até 16 de setembro.

 

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Maria encabeça um elenco que traz, ainda, Leonardo Medeiros, Erom Cordeiro, Olivia Torres e Iohanna Carvalho, sob direção de Georgette Fadel. Ela recorda que, no final de 2019, foi à casa de Pedro falar do que considerava relevante no autor russo. “Falei dos assuntos, essa coisa do velho e do novo, do que é útil e do que não é útil, refletindo se o que é útil é melhor, e também de ecologia, que era uma coisa em que Tchekhov era muito ligado. Ele não sentencia sobre nada, não toma partido, só expõe”, diz.


Fantasia contagiosa

 

Ela recebeu das mãos de Brício uma sinopse que narra a história de uma consagrada atriz de teatro, Alma Duran, que atravessa um momento de ostracismo e vai morar com sua filha, a médica Isadora (Olivia Torres), e seu genro, Otto (Erom Cordeiro), um delegado de polícia, em um condomínio em Botafogo, no Rio de Janeiro. Desempregada há três anos, ela começa a dar aulas de teatro para a estudante Lalá (Iohanna Carvalho), enquanto sonha em montar “O jardim das cerejeiras”.

 


“Se estabelece um jogo da fantasia, que essa atriz que interpreto carrega, com a realidade, porque a filha e o genro são pessoas muito concretas. Uma hora ela vai fumar no playground desse condomínio, porque no apartamento não pode, e encontra um ser estranho, um homem, interpretado pelo Leonardo Medeiros, que diz ser Tchekhov. Ela acha esquisito, mas entra no jogo e esse homem vai ajudá-la a montar a peça. Aí a fantasia se impõe e começa a contaminar todos os personagens”, conta.


Além da peça, os dois começam a montar, também, um jardim de cerejeiras no playground, de acordo com Maria Padilha. Ela destaca que entra aí uma pegada meio surrealista. “A vida é dura, não só de artista, mas de todo mundo, então a invenção de um cotidiano bacana, a criação, a fantasia, isso são coisas que acho que salvam muito as pessoas. É um pouco essa parada que a gente tentou botar na peça, essa coisa de que a vida precisa de invenção”, ressalta.


Como se trata da estreia nacional de “Um jardim para Tchekhov”, ela diz que está, naturalmente, apreensiva. “Ainda não sei falar direito sobre a peça, até porque não gosto de prometer muita coisa. Estamos em processo há bastante tempo, mas não sei dizer do resultado; ele se fará junto com a plateia, porque o teatro ensaiado sem plateia é uma coisa, mas é quando entra o público que ele realmente acontece”, diz. Ela confia, no entanto, que o texto tem potencial para envolver as pessoas.

 

 

Maria sublinha o humor “muito específico, meio surrealista”, de Brício, e diz que, com o tempo, a tendência é que esse traço aflore cada vez mais. “A peça tem umas coisas meio insólitas. Pode, de início, parecer uma comédia de costumes, mas depois vai ficando meio psicodélica, porque Pedro não é previsível. Some-se a isso o fato de que gosto de fazer autores brasileiros da nossa geração – ele é um pouco mais moço do que eu e é um autor com a cabeça muito em ebulição”, elogia.


Inspirada nas divas

 

Maria Padilha diz que a personagem Alma Duran foi criada sob inspiração das grandes divas do teatro e do audiovisual brasileiro. "Ela tem muito de Marília Pêra, que foi minha primeira diretora; Fernanda Montenegro; Nathália Timberg; Renata Sorrah, por quem sou apaixonada; Marieta Severo; Camila Amado. Admiro todas que vieram antes de mim, que construíram a história do teatro, como Cleyde Yáconis, Cacilda Becker, Dercy Gonçalves, Tônia Carreiro, Myriam Muniz. Quando falamos em artes cênicas no Brasil não tem como não lembrar da importância dessas divas que pavimentaram a estrada para nós estarmos aqui", ressalta a atriz.

 

“UM JARDIM PARA TCHEKHOV"
Estreia nesta sexta-feira (23/8), às 19h, no Teatro 1 do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários). O espetáculo cumpre temporada até 16 de setembro, com apresentações de sexta a segunda, sempre às 19h. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), disponíveis no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria local. Informações: (31) 3431 9400.