No longa, Nataly Rocha interpreta Dayana, enquanto a Iago Xavier cabe o papel de Heraldo -  (crédito: Gullane Filmes/Divulgação)

No longa, Nataly Rocha interpreta Dayana, enquanto Iago Xavier faz o papel de Heraldo

crédito: Gullane Filmes/Divulgação

Desde o primeiro longa-metragem, “Madame Satã” (2002), o cearense Karim Äinouz tem construído uma filmografia marcada pelo apuro estético e porpersonagens marcados pela ânsia de viver. Foi assim em seus momentos mais inspirados, “O céu de Suely” (2006) e “Praia do Futuro” (2014), e nos projetos não tão pessoais, como “A vida invisível” (2019), adaptação de “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, romance de Martha Batalha. Não poderia ser diferente em “Motel Destino”, que participou da mostra competitiva do último Festival de Cannes e está em cartaz em Belo Horizonte e outras cidades brasileiras.

 

 

Ainda que o resultado não cause o mesmo impacto dos longas anteriores, em especial por conta da frustração com um desfecho menos forte do que a primeira parte do filme, continua prevalecendo a lei do desejo. Vontade imensa de sobreviver, de não ser mais um na multidão, de dar e sentir prazer enquanto não se é arrastado pela correnteza. A pessoa não é o que nasce, parecem gritar os personagens de Karim Äinouz.

 

 

 

Os personagens de “Motel Destino” estão aprisionados a trabalhar onde os outros têm prazer. Também devem se enquadrar às convenções de um gênero cinematográfico, o filme noir, revisitado pelo diretor. Mas há subversão. Nada de preto e branco. O noir de Äinouz é colorido, suado, sensorial, safado. Está mais próximo de “Corpos ardentes” (1981), de Lawrence Kasdan, e dos filmes da primeira fase de Almodóvar do que dos clássicos “O destino bate à sua porta” (1946, refilmado em 1981 com Jack Nicholson e Jessica Lange) e “Pacto de sangue” (1944), do qual herdou o plot.

 

 

Antes de serem tragados por soluções pouco convincentes, os personagens oferecem momentos luminosos graças às atuações da trinca de protagonistas. Fábio Assunção compõe um Elias entre o tirânico, o tóxico e o patético, que voyeuriza e ‘vampiriza’ a juventude do amante de sua mulher. É, provavelmente, a melhor performance de Assunção no audiovisual desde a série “Onde nascem os fortes”.

 

 

O promissor Iago Xavier, mesmo inexperiente, traz o vigor que o seu personagem demanda e ecoa o inconformismo do personagem de Jesuíta Barbosa em ‘Praia do futuro’, desnecessariamente explicitado em monólogo final que ‘explica’ as motivações do jovem.

 

 

E a desenvoltura e segurança da atriz cearense Nataly Rocha são marcantes a ponto de despertar a vontade de vê-la em outros papéis, outras telas, outras geografias. Quanto ao diretor, é muito bem-vinda a anunciada decisão de fazer mais filmes em seu estado natal, ainda mais se acompanhado pelos atores que cativam nos papéis coadjuvantes de “Motel Destino”. Assim, o cinema de Karim Äinouz continuará em cartaz por muito tempo, exibindo - e desinibindo - o Brasil para o mundo.

 

“MOTEL DESTINO”


(Brasil/França/Alemanha/Reino Unido, 2024, 115min.) Direção: Karim Aïnouz. Com Iago Xavier, Nataly Rocha e Fábio Assunção. O filme está em cartaz no Pátio 1 (16h e 18h), no Cidade 3 (20h45), no UNA Cine Belas Artes (Sala 1, 16h, 18h) e no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Sala 2, 20h40, não haverá sessão nesta terça, 27/8).