Pedro Moraleida, que morreu em 1999, posa em frente a uma de suas telas da série

Pedro Moraleida, que morreu em 1999, posa em frente a uma de suas telas da série "Germânica"

crédito: Acervo pessoal

 

A crescente visibilidade que a obra de Pedro Moraleida tem alcançado ao longo dos anos, desde sua morte, redundou em um episódio que ganhou ampla repercussão em 2017. A exposição “Faça você mesmo sua Capela Sistina”, reunindo um provocativo recorte de sua obra na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, do Palácio das Artes, foi vista, por mais de 41 mil pessoas naquele ano, apesar de restrições motivadas pela necessidade de garantia da segurança e integridade dos trabalhos expostos.

 


A mostra gerou exacerbadas manifestações contrárias, que tentaram impedir sua continuidade, ancoradas em questões ideológicas e religiosas. A exposição teve forte impacto na sociedade e acabou por provocar uma primeira reação vitoriosa à onda de censura e obscurantismo que assolava o país.

 

Uma ampla movimentação, sobretudo dos meios artísticos, resultou na criação da Frente Nacional contra a Censura, sendo determinante, também, para a nomeação da galeria recém-inaugurada no Palácio das Artes como PQNA Galeria Pedro Moraleida.  

 


Por essas vias sinuosas, “Faça você mesmo sua Capela Sistina” acabou consagrando, em definitivo, o trabalho do artista em sua cidade natal. Um ano depois, foi a vez de São Paulo abrir os olhos com mais atenção para a produção de Moraleida. A exposição “Canção do sangue fervente”, que ocupou o Instituto Tomie Ohtake em 2018, recebeu mais de 45 mil visitantes e teve grande repercussão na mídia especializada.

 


Entronização da obra

Diretor do Instituto Pedro Moraleida Bernardes e pai do artista, Antônio Luiz Bernardes considera que a mostra em São Paulo representou uma verdadeira “entronização” de sua obra no cenário das artes visuais do país, elevando seu trabalho a outro patamar. As edições dos catálogos “Pedro Moraleida: canção do sangue fervente” e “Faça você mesmo sua Capela Sistina” se juntaram ao de sua primeira exposição póstuma, “Pano de chão se arrastando no chão”, ainda no início dos anos 2000.

 


Em 2019, tais publicações foram enviadas para mais de uma centena de instituições de arte contemporânea do país e do exterior. O resultado mais imediato e expressivo foi a participação das obras de Moraleida na 11ª Bienal de Berlim, em 2020.

 


O curador, crítico e historiador de arte suíço Hans Ulrich Obrist destacou o “trabalho extraordinário”, feito por um “artista extraordinário”, que, em sua opinião, precisava ser “mais mostrado, mais visto e estudado”. Em 2021, a obra de Moraleida foi vista, em São Paulo, na exposição coletiva “Língua solta”, comemorativa da reabertura do Museu da Língua Portuguesa, com curadoria de Moacir dos Anjos e Fabiana Moraes, e na individual “Fluxos plenos de desejos”, na abertura da nova sede da Galeria Janaína Torres.

 

Trabalho coletivo

A organização, preservação e difusão do Acervo Pedro Moraleida teve início logo após sua morte, quando seus pais, Antônio Luiz Bernardes e Nilcéa Moraleida Bernardes, criaram, junto a um grupo de amigos, colegas e professores do artista, o projeto “Caminhando no lado selvagem”, que se desenvolveu como um trabalho coletivo e interdisciplinar.

 

Foram estabelecidas curadorias específicas de pintura, desenho, literatura e som, que permitiram que se inventariasse parte do acervo, identificando, classificando, catalogando, registrando, reparando e acondicionando obras, objetos e documentos.