Narrado em primeira pessoa pelo ator,

Narrado em primeira pessoa pelo ator, "Othelo, o grande" será exibido hoje, seguido de debate, no Centro Cultural Unimed-BH Minas

crédito: Lucas Rossi/divulgação

 


Nascido em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, quando a cidade ainda se chamava São Pedro de Uberabinha, Grande Otelo (1915-1993), ou Sebastião Bernardes de Souza Prata, como consta em sua certidão de nascimento, foi o primeiro ator negro a ter protagonismo na história do cinema brasileiro.

 


Com pré-estreia hoje (27/8) em BH, no Centro Cultural Unimed-BH Minas, o documentário "Othelo, o Grande" resgata a história do homem que foi pioneiro não só no teatro, mas também na TV, na música e no rádio. Dirigido por Lucas Rossi, o filme, vencedor do Prêmio Redentor de melhor documentário no Festival do Rio, será lançado no circuito nacional em 5 de setembro.

 

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"De alguma maneira, Otelo abriu os caminhos para que a gente pudesse estar hoje trabalhando com cultura no país. Ele conseguiu fazer algo de muito valor para nós, pessoas pretas, porque sem a existência desse cara a gente não sabe onde estaria hoje", observa Rossi.


Humor na alma

 

"A importância dele está em conseguir ocupar um lugar que ninguém havia ocupado. Além de um excelente ator, ele também era um corpo político naquele espaço. Otelo inaugurou um lugar para o homem negro em uma época em que só tinha ele. Acho isso de extremo valor", completa.

 

 

No documentário, narrado em primeira pessoa, Otelo quem conta sua própria história. "Sou um ator, um humorista, um intérprete de vários sentimentos. A minha política é fazer rir", diz ele, nos primeiros minutos do longa. Rossi conta que chegou a entrevistar pessoas que conviveram com Othelo, como Paulo José, Ruth de Souza, Zezé Motta e Sérgio Cabral. No entanto, na montagem, decidiu abrir mão das entrevistas, mantendo apenas a participação de Zezé Motta, que lê um texto de Carlos Drummond de Andrade dedicado ao protagonista.


Desde a infância, Otelo já mostrava talento para a atuação. Durante a passagem de uma companhia de comédia por Uberlândia, ele chamou a atenção e foi levado para São Paulo. O pseudônimo surgiu nessa época, quando passou a integrar a Companhia Lírica Nacional e ouviu de um maestro que ele um dia ainda iria cantar a ópera "Otello", de Giuseppe Verdi.


Macunaíma

 

Para Otelo, a profissão era uma forma de escapar da pobreza. Em um trecho do documentário, ele chega a dizer que escolheu a profissão para poder comer bife a cavalo. Em 1926, ingressou na Companhia Negra de Revistas, onde teve como mestre Pixinguinha. A estreia no cinema ocorreu em 1935, com o filme "Noites cariocas".


Ao longo da carreira, trabalhou com cineastas como Orson Welles, Joaquim Pedro de Andrade, Werner Herzog, Julio Bressane e Nelson Pereira dos Santos. Considerado um dos comediantes mais talentosos do país, um de seus trabalhos mais conhecidos foi como o herói sem caráter em "Macunaíma".

 


A pesquisa de textos, áudios e vídeos foi realizada por Beth Formaggini ("Edifício Master", de Eduardo Coutinho). Todo o processo de produção durou cerca de cinco anos. "Foi como se, através da pesquisa, a gente conseguisse se aproximar dele e conhecer mais sobre esse personagem. Foi um processo importante para poder dimensionar o tamanho desse cara e entender o que ele pensava do mundo", avalia o diretor.


Luta por igualdade

 

Rossi explica que, com a narrativa em primeira pessoa, a intenção era criar um filme da maneira como Otelo gostaria que fosse feito. "Tentei ao máximo deixá-lo agir por si, fazer um filme que fosse fiel às impressões dele sobre o mundo, sobre o tempo dele, sobre os temas que estão ali: a chanchada, o cinema novo, o racismo, a falta de grana, o alcoolismo... São todas impressões dele em primeira pessoa, da maneira como apurei e achei que ele gostaria de ser relembrado", afirma.


Antes de Otelo, não havia espaço para os negros nas artes cênicas. Em uma cena do documentário, o artista, neto de pessoas escravizadas, conta que precisava entrar pela porta dos fundos quando trabalhou como ator no Teatro Cassino da Urca. Assim, a temática do racismo é constantemente abordada no filme. "Otelo também lutava pela questão racial no Brasil, por esse lugar de conseguir uma igualdade social. Ele começa a questionar o lugar do negro, a abrir portas para o negro, e a mostrar que o negro é artista, é protagonista. No caso dele, é um gênio", afirma Rossi.


O diretor destaca outra característica do ator: "O que mais me impressionou sobre ele, e que o filme tenta dar conta, é mostrar o quanto ele era um ser humano múltiplo, um cara com muitas facetas. O filme tem esse lugar de mostrar o quanto ele era um cara de muitos talentos."


Grande Otelo faleceu em 26 de novembro de 1993, aos 78 anos, de ataque cardíaco, em Paris, onde receberia homenagem no Festival de Cinema de Nantes. Durante a viagem, ele chegou a dizer que estava se sentindo triste e abandonado no Brasil.


Legado cultural em debate

 

Após a exibição do documentário “Othelo, o grande”, nesta terça-feira (27/8), às 19h30, no Centro Cultural Unimed-BH Minas, haverá debate com o tema "Cinema e memória – o papel de Grande Otelo na identidade cultural brasileira", com a presença do diretor Lucas Rossi e mediado pelo pesquisador Hernani Heffner e o ator Adyr Assumpção.


“OTHELO, O GRANDE”
Pré-estreia hoje (27/8), às 19h30, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244 – Lourdes), seguida de debate. Ingressos: R$ 10 (inteira), à venda em www.minastenisclube.com.br e na bilheteria local.