Obra

Obra "Elos", de Juliana Ribeiro, integra a exposição "Etéreos & eternos", na Asa de Papel

crédito: Acervo pessoal/Divulgação

 

No ano passado, a artista plástica Juliana Ribeiro tinha uma exposição agendada para ocupar a Asa de Papel – Café & Arte, em julho. A abertura estava marcada para o dia 20, mas uma fatalidade se interpôs: sua mãe morreu três dias antes. A mostra aconteceu, mas sem sua presença. Ela diz que, diante desse infortúnio, Renato Sérgio Machado, participante do coletivo Asa de Papel, a convidou, agora, para uma nova exposição no espaço.

 


“Por coincidência, a data que eles reservaram para a abertura é a mesma em que minha mãe faria aniversário. Renato perguntou se eu queria mudar, e eu disse que não, porque seria uma oportunidade para celebrar minha mãe”, conta. Convite aceito, ela inaugura, nesta quinta-feira (29/8), a exposição “Etéreos & eternos”, compartilhada com Elania Matos, sua colega no Coletivo Libertas.

 

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Elania, que foi quem sugeriu o nome da exposição, apresenta a coleção “Flores e folhas”, que reúne objetos em desuso, folhas e flores secas, tampinhas de garrafa, bijuterias antigas e outros recicláveis – um trabalho que busca prolongar a vida do que está a beira do inútil e convida para um mergulho em traços de eternidade. “Embora sejam linguagens e trabalhos distintos, achei que seria interessante trazê-la. Falei dessa particularidade, da homenagem à minha mãe, e ela topou”, situa Juliana.

 


Ela fala em “trabalhos distintos”, mas subjaz uma convergência temática em “Etéreos & eternos”. Suas obras, presentes nesta mostra, partem da íntima relação entre o que sobra e o que se herda, enlaçando o próprio destino a partir de apontamentos para repetições e pertencimentos. São ressonâncias que possibilitam identificação e reconhecimento através da presença real do que resta, ecos que soam para além da morte, de acordo com a artista.



O conjunto traz oito aquarelas sobre papel, cinco acrílicas sobre tela e objetos: um crochê feito por sua mãe e sua avó, toalha de margaridas, dois tijolos de vidro com restos de linhas e outros “restos e pretensões”.

 

Instância da perda

 

Juliana destaca que o trabalho de Elania também emprega técnicas e suportes variados. “São muitas flores, folhas secas, cápsulas de café, resina, enfim, coisas que ela entende como efêmeras. Quanto tempo dura uma flor de ipê? Pouquíssimo, mas ela aplica resina nessa flor para tentar garantir uma eternidade utópica. Eu já questionava que tempo é esse que damos para as flores quando as cortamos e colocamos no vaso para enfeitar nossa casa. Questiono, mas também faço isso”, pontua.


A convergência temática se dá na medida em que suas obras também lidam com a finitude e a infinitude, com o que fica e o que não. “Estamos, as duas, trabalhando nessa mesma instância, que é a do vazio, da dor, da perda, e daquilo a que precisamos nos apegar para sentir o alento. Apresento elementos que trouxe do desmonte da casa da minha mãe. Já perdi meu marido, meu pai e uma prima de 13 anos, de aneurisma. É de luto mesmo que estou falando”, diz.


A abertura de “Etéreos & eternos” vai contar com performance do artista Rômulo Garcias e com a apresentação do Coral Colorau, do qual Juliana, que é soprano, faz parte.


“ETÉREOS & ETERNOS”
Exposição de Juliana Ribeiro e Elania Matos. Abertura nesta quinta-feira (29/8), às 19h, na Asa de Papel – Café & Arte (Rua Piauí, 631 – Santa Efigênia), com apresentação do Coral Colorau e performance de Rômulo Garcias. Visitação até 19 de setembro, de terça a sexta, das 17h às 21h. Entrada gratuita.