Na abertura do Fliparacatu, na última quarta, o escritor Jeferson Tenório afirmo que

Na abertura do Fliparacatu, na última quarta, o escritor Jeferson Tenório afirmo que "a literatura torna a vida melhor "

crédito: Aline Reis/Divulgação

 

Paracatu - "Depois de Paracatu, é o mundo." As palavras escritas por Guimarães Rosa (1908-1967), em "Grande Sertão: Veredas", parecem ecoar, profeticamente, na cidade do Noroeste de Minas, onde ocorre, até domingo (1/9), a segunda edição do Festival Literário Internacional de Paracatu (Fliparacatu), com o tema Amor, Literatura e Diversidade.

 


No Centro Histórico da cidade de 94 mil habitantes, o "mundo", sem fronteiras, que se abre diante dos olhos, é feito de palavras, ideias, conhecimento, diálogos e muita admiração pelos livros.

 


Na cidade onde não há livrarias, a exemplo de tantas Brasil afora, está no espaço montado com cerca de 20 mil volumes, de um total de 6 mil títulos, o "coração" do festival. O movimento na Livraria é incessante. "Esperamos ansiosamente pela segunda edição do Fliparacatu, pois se trata de uma iniciativa muito importante para nossa cidade", diz a professora Jerônima Dantas Neto Pires, supervisora pedagógica da Escola Municipal Cacilda Caetano de Souza.

 


Na abertura, na última quarta (28/8), Jerônima ficou longo tempo no local com as filhas Ana Flávia Dantas Pires, de 12 anos, e Maria Fernanda, de 9, que se entusiasmaram com a diversidade de obras. Maria Fernanda separou três títulos de literatura infantil e disse que estar ali , longe do universo digital, era "bem melhor até do que num parque de diversões", enquanto a irmã levou para casa três sobre cinema.

 


Mais adiante, a jovem Karen Cristina, de 20, mostrava que a "chave" do mundo se encontrava em suas mãos. E que não há "depois", mas agora. "Neste festival, vemos, abertas, janelas de oportunidades e portas para o conhecimento", afirma, ao lado da mãe, Valéria Ferreira Gomes, e do tio, Darley Ferreira Gomes, o mestre Cacau, de capoeira. Mãe e filha são trancistas e trabalham no espaço de economia criativa no festival literário.

 

 

Paulo Henrique Pereira da Silva, Rhayla Neres e o filho Bernardo

O casal Paulo Henrique Pereira da Silva e Rhayla Neres, com o filho Bernardo, de 6 anos, na Livraria do festival

Gustavo Werneck/EM/D.A.Press

 

Depois de buscar na escola o filho Bernardo, de 6, o casal Paulo Henrique Pereira da Silva, operador de máquina, e Rhayla Neres, empreendedora, curtiu a Livraria, separando obras pelos seus temas preferidos. "É uma chance rara estar num espaço assim, viu? Não tive essa oportunidade quando criança, mas sempre há tempo para começar a ler", diz Paulo Henrique. Com um olho nas obras expostas, outro no garoto, a mamãe afirmou que o festival incentiva o gosto pela leitura e permite o contato com autores convidados (neste ano, são 60), entre internacionais, nacionais e locais.

 


A curadoria do evento é de Sérgio Abranches, Tom Farias e Afonso Borges, também idealizador e presidente do festival. O Fliparacatu oferece, conforme os organizadores, atividades culturais acessíveis, inclusivas, antirracistas, éticas, educativas, artísticas, carregadas de conceito e de conteúdo.

 


A presidente da Academia de Letras do Noroeste (engloba sete municípios, com sede em Paracatu), Daniela Prado, ressaltou que o festival dá fôlego às atividades culturais na região e planta sementes para fazer brotar o gosto pela leitura.

 


Ela destacou o nome do filho ilustre da terra, Afonso Arinos de Melo Franco (1868-1916), "primeiro regionalista brasileiro", patrono do festival, e pediu mais empenho das autoridades e iniciativa privada para abertura de livrarias, favorecendo a convivência entre as pessoas e o fomento à leitura, já que, hoje, a comercialização ocorre de forma digital. "Somente com parcerias isso será possível."

 


Entre as sementes que germinaram do primeiro Fliparacatu, Daniela cita a criação do Clube de Leitura, na Academia de Letras do Noroeste. "Realmente, a iniciativa floresceu”, avalia.

 


Dentre os escritores da programação do 2º Fliparacatu, estão seis convidados internacionais: os italianos Roberto Parmeggiani e Igiaba Scego, o francês Emmanuelle Arioli, a cubana Teresa Cárdenas e os portugueses Djaimilia Pereira de Almeida e José Manuel Diogo. As indígenas Trudruá Dorrico e Geni Núñez também compõem a lista de autores. Na programação nacional, além de Ailton Krenak, Conceição Evaristo, Edney Silvestre, Itamar Vieira Junior e Jeferson Tenório, autor de "O avesso da pele", que, na abertura do evento, ressaltou que "a literatura torna a vida melhor ".

 


No 2º Fliparacatu, os escritores locais presentes são Alexandre de Oliveira Gama, Carol Campos de Carvalho, Daniela Prado, Helen Ulhôa Pimentel, Isaias Nery, Lara Luísa, Leonor Soares Costa, Marcos Sílvio Pinheiro, Silvano Avelar e Vanderson Roberto Pedruzzi Gaburo. Já na programação infantojuvenil, os autores Alessandra Roscoe, Leo Cunha, Rafael Nolli e Tino Freitas.

 


Um livro imenso sobre o gramado, no Largo do Rosário, cenário ótimo para "selfies" e fotos em família, grupo de amigos ou colegas, com uniforme da escola, o bate-papo com os escritores, no auditório com 350 lugares, e as conversas sobre literatura criam um novo ambiente em Paracatu.

 


Nestes dias de festival literário, moradores e visitantes têm um amplo leque de atrações, como a exposição “Objetos de fé”, do Museu do Oratório (de Ouro Preto), na Fundação Casa de Cultura. Neste sábado (31/1), a Orquestra Ouro Preto se apresenta no Largo da Jaqueira.

 

*O repórter viajou a convite da Kinross.