Com chegada nesta quinta (1º de agosto) às livrarias, “Bambino a Roma” (Companhia das Letras), oitavo romance de Chico Buarque, é uma incursão memorialística (com uma boa de fabulação) da temporada do compositor pela Itália, no início dos anos 1950.

 



 

Em 1953, seu pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), autor de “Raízes do Brasil” (1936), foi convidado para dar aulas na Universidade de Roma. Toda a família – a mulher, Maria Amélia, e os sete filhos – viveu por dois anos na capital italiana.

 

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Chico, recém-chegado aos 80 anos, não tinha alcançado os 10 quando se mudou para lá. Voltaria a viver na Itália já adulto, durante o período duro da ditadura militar (1964-1985). Ficou 14 meses, entre 1969 e 1970, em um autoexílio provocado pelas ameaças que o regime, pós AI-5, provocava em um dos mais censurados compositores da época.


Mas “Bambino a Roma” trata de outro Chico e outra Itália. Entre 1953 e 1954, esse garoto descobre a vida em outro lugar. Parte de navio, durante semanas de muito enjoo provocado pelo mar.


Chegando a Roma, a família Buarque de Holanda se muda para um prédio baixo e amarelo. Com um mapa-múndi na parede do quarto, o menino quer descobrir Roma. Na Notre Dame International School, estuda com alunos estrangeiros. Tenta ensinar aos colegas marchinhas em italiano.

 

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Acaba se interessando pela mãe de um dos colegas. Afinal, ela era ninguém menos do que Alida Valli, uma estrela do cinema durante o fascismo de Mussolini que conseguiu manter a carreira no pós-guerra. No livro, o menino teria dançado, por alguns minutos, não mais, uma valsa com ela.


Mentira deslavada

 

 Amigo mesmo é Amadeo, o filho do quitandeiro, também seu parceiro de futebol, a paixão que levou do Brasil. O brasileiro é não só o craque, mas também o dono da bola de couro com que a turma joga pelada. A bola, de acordo com ele, teria pertencido a Ghiggia, craque uruguaio que se tornou o algoz da Seleção Brasileira na Copa de 1950 – é uma mentira deslavada, como ele próprio revela.

 

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“Após alguns mal-entendidos, consegui convencer a turma da Villa Paganini de que a bola me fora presenteada por Ghiggia, ele mesmo, o craque uruguaio que acabava de ser contratado pela Roma. Sim, a bola pertencera ao meu padrinho Ghiggia, que com ela fez o gol da vitória do Uruguai contra o Brasil na final da última Copa do Mundo no Maracanã. No pequeno gramado do parque ensinei-os a marcar as traves com os casacos e teve início uma pelada de quatro contra quatro”, escreveu Chico.


“Bambino a Roma” vai entrelaçando histórias (reais ou puramente inventadas) em uma prosa segura e afetuosa. O livro é o primeiro romance desde “Essa gente” (2019) e o volume posterior à compilação de contos “Anos de chumbo” (2021). Em 2019, Chico recebeu o Prêmio Camões, maior honraria concedida a autores lusófonos.


“BAMBINO A ROMA”
• De Chico Buarque
• Companhia das Letras
• 168 páginas
• Preço: R$ 79,90 (livro) e R$ 29,90 (e-book)

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