Quando a cantora, compositora e produtora cultural Ana Cristina Coutinho diz que sonhou em fazer um festival de animação, não se trata de força de expressão. “Sabe quando você acorda e parece que continua sonhando? Pois foi isso que aconteceu. Sonhei que estava montando uma mostra de cinema de animação e, quando acordei, tive a sensação de que esse evento já fazia parte da minha rotina”, conta ela.

 




Essa foi a gênese da Mostra Cílio, abreviação de Circuito de Linguagens Originais, que começa neste sábado (3/8) e segue até 17 de agosto, com exibições gratuitas de curtas animados em seis espaços da capital mineira (Cine Santa Tereza, Usina de Cultura, Centro Cultural Venda Nova, Centro Cultural Bairro das Indústrias, Centro Cultural Salgado Filho, Centro Cultural Padre Eustáquio).

 


Sob curadoria do trio formado pelos cineastas Kiko Goifman (“33”, “FilmeFobia”, “Bixa travesty”), Savio Leite (idealizador da Mostra Udigrudi Mundial de Animação) e o produtor musical Caio Graco; foram selecionados 10 filmes de curta-metragem e clipes de música desenvolvidos no formato de animação provenientes de cinco estados brasileiros.

 


Cada um dos seis espaços culturais vai exibir as 10 produções numa única sessão. Ao final da exibição, o público votará na sua preferida e o vencedor, que será anunciado no próximo dia 17, levará para casa o simbólico Troféu Cílio, configurado como um monóculo.

 


“Decidimos colocar todas as produções numa única sessão para possibilitar que as pessoas assistam a tudo”, explica Ana Cristina. “Porque, se colocássemos, por exemplo, metade dos filmes em um dia e metade no outro, correríamos o risco de ter alguém do público que só pudesse ir em um dia”, acrescenta.

 


Ainda que enxuta, a programação faz um pequeno panorama da animação brasileira: por inúmeros fatores – principalmente por questões financeiras –, há muito mais curtas do gênero do que longas produzidos por aqui. Desde o lançamento da primeira animação no país, em 1953 (“Sinfonia amazônica”, de Anélio Latini Filho), por exemplo, foram desenvolvidos pouco mais de 60 longas-metragens de animação. Em contrapartida, há uma infinidade de curtas para cinema e séries. Só em 2024, cerca de 80 produções estão em exibição nas TVs e streamings.

 


Caleidoscópio fílmico

Ter apenas curtas-metragens na programação da Mostra Cílio foi a condição sine qua non dos curadores. “Queríamos preencher o tempo limitado que temos (as sessões duram uma hora) com o máximo de informações possíveis. Trazendo diversas linguagens, roteiros, contextos e técnicas. Fazendo quase que um caleidoscópio”, afirma Ana Cristina.

 


Assim, entraram na programação desde o curta “Penca no parque”, de Bruno de Souza, que mostra as confusões que um macaco e um gato que vivem no Parque Municipal de Belo Horizonte aprontam; até o clipe de "Contemporaneidade", da banda mineira Antônio Vieira e seus Nascimentos, que critica os negacionistas da ciência misturando live action com desenhos psicodélicos.

 


Também estão na programação os clipes de “Aquarelado” e “Caracol”. São músicas que foram feitas, respectivamente, para espetáculos cênicos do Grupo Maria Cutia (o infantil “Aquarela”) e da cantora, instrumentista e compositora Irene Bertachini (o também infantil “Caracol”).

 


Ainda na seara infantil, a programação tem os curtas “Lucinéia, a menina banguela”, da carioca Luah Garcia, e “A farpa”, da goiana Sara Regina; e o clipe da música “Receita de vó”, composição do rapper MC Mágico animada por Carlon Hardt.

 


Hardt, aliás, também assina a animação do clipe da canção intimista “Laguna Plena”, de Rimon Guimarães com participação de Tuyo.

 


“Quando se fala em animação, as pessoas logo pensam em produções voltadas ao público infantil. Mas não é assim. Existe todo um universo da animação. Todo tipo de tema é abordado na animação, desde, claro, coisas infantis, até conteúdos adultos”, ressalta Ana Cristina.

 


Exemplo disso são os curtas “Pinguinics – Luz, câmera, ação!”, dos paulistas Sérgio Martinelli e Maurício Pinheiro; e “Café”, dos paranaenses Duda Justus, Guilherme Bucco e Lincoln Barela. Ambos lançam mão da violência explícita em cenas que, embora cômicas e necessárias para o desfecho das histórias, não são indicadas aos pequenos.

 


Conforme expressa no próprio nome, o festival tem como preocupação propor um circuito de linguagens originais. Justamente por isso, para os próximos anos, a idealizadora da mostra espera ampliar o escopo do evento, contemplando, além das animações, outras linguagens do audiovisual.

 


“Penso em fazer uma edição só com videoclipes, outra só com minidocs e, talvez, outra com teatro de sombras. Existe um leque de possibilidades aí. Mas, claro, tudo tem que ser original”, diz ela. 


CIRCUITO

Confira os dias e locais das sessões

• 3/8 (sábado), às 10h30, na Usina de Cultura (Rua Dom Cabral, 765, Ipiranga)


• 3/8 (sábado), às 16h30, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza)


• 7/8 (quarta-feira), às 15h, no Centro Cultural Venda Nova (Rua José Ferreira dos Santos, 184, Jardim dos Comerciários)


• 10/8 (sábado), às 15h30, no Centro Cultural Bairro das Indústrias (Rua dos Industriários, 289, Indústrias)


• 14/8 (quarta-feira), às 15h, no Centro Cultural Salgado Filho (Rua Nova Ponte, 22, Salgado Filho)


• 17/8 (sábado), às 15h, no Centro Cultural Padre Eustáquio (Rua Jacutinga, 550 - Padre Eustáquio)

 

MOSTRA CÍLIO
Exibição de curtas e clipes de música em animação. Deste sábado (3/8) a 17/8, em seis espaços de Belo Horizonte: Cine Santa Tereza, Usina de Cultura, Centro Cultural Venda Nova, Centro Cultural Bairro das Indústrias, Centro Cultural Salgado Filho e Centro Cultural Padre Eustáquio. Entrada franca.

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