Criado em 2015 pelo artista visual e empreendedor social Leo Piló, o projeto Central de Reciclagem Criativa realiza, a partir deste sábado (3/8), sua segunda ação coletiva aberta ao público. O objetivo é promover a educação ambiental por meio da reutilização de materiais descartados. A palestra intitulada “Papo reto” marca a abertura de uma série de oficinas gratuitas, que vão resultar em uma exposição, prevista para estrear em 28 de setembro, na loja de Piló, no Mercado Novo.

 




Hoje, a partir das 10h, o idealizador e curador do projeto divide a mesa de debates com Alfredo Souza Matos, diretor da Associação dos Catadores de Papelão e Material Reaproveitável (Asmare), que vai falar sobre “Inclusão social e conscientização ambiental”; Aline Dias, mestre em sustentabilidade, com a palestra “O futuro dos resíduos”; e Marly Martins Mercês Beraldo, fundadora da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Sarzedo (Acamares), trazendo o tema “Luta por justiça social”.

 

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Além da palestra, a programação vai contar com oficina de isografia (técnica de impressão que utiliza placas de isopor como matriz), feira com produtos ecológicos, mesa de doação de mudas e a exposição “Faces do invisível: retrato de cantadores de material reciclável”, do fotógrafo Cássio L. As atividades se estendem ao longo de todo o dia na loja de Piló.


Papelão transformado

 

As oficinas de reciclagem de papelão, madeira, plástico e Tetra Pak, que vão resultar na exposição, ministradas respectivamente por Piló, Luiz Vitral, Silma Dornas e Joanna Sanglard, têm início na segunda-feira (5/8), com inscrições já encerradas. “A ideia desse segundo processo que vamos desenvolver é abordar a efetividade da coleta seletiva, trabalhando a sensibilização, por meio das oficinas, para questões como a crise climática, que é o grande problema atual”, diz o coordenador da Central de Reciclagem Criativa.

 

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Ele destaca que o “Papo reto” que batiza a palestra de abertura diz respeito a não jogar resíduo reciclável em qualquer lugar. Piló observa que Belo Horizonte ainda padece de uma desarticulação grande no que tange à coleta seletiva, já que nem todas as regiões da cidade dispõem do serviço. “Nossa contribuição é incentivar as pessoas a terem responsabilidade com seu próprio resíduo. Os catadores trabalham para o coletivo e o coletivo tem que trabalhar para os catadores, retribuindo na mesma moeda”, diz.


A capital mineira ocupa um lugar de pioneirismo no contexto da reciclagem, conforme aponta, já que foi a segunda cidade do país a ter uma associação de catadores – a primeira foi São Paulo. Ele diz que, ao longo das últimas duas décadas, esses profissionais se prepararam para o melhor desempenho e hoje Belo Horizonte ocupa um lugar de destaque no cenário nacional, tanto que no ano passado alcançou o primeiro lugar na reciclagem de latas de alumínio.


Balança do catador

 

“Uma meta foi alcançada. Precisamos fazer isso com todos os outros materiais recicláveis, especialmente o microplástico. Quando, nesse 'Papo reto', convidamos o Alfredo, a Aline e a Marly, é para que cada um fale, dentro de suas especificidades, sobre como atingir minha meta, que é não deixar chegar ao aterro sanitário o que realmente tem valor na balança do catador, implicando não só os efeitos ambientais, mas também sociais”, ressalta.


Piló diz que as obras geradas a partir das oficinas, com os quatro elementos que escolheu, serão apresentadas em tablados em sua loja. “As obras são representações. É o ideal de uma casa, de uma vitrine, de um sonho. A ideia da exposição é para as pessoas verem o quão importante são esses materiais, que às vezes passam despercebidos”, diz. Ele destaca que a Central de Reciclagem Criativa se empenha na busca de soluções inteligentes, com custo próximo de zero. A exposição ficará em cartaz em sua loja por três meses.

 

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Ele adianta, sobre as oficinas que terão início na segunda-feira, que cada uma será desenvolvida a partir de um mote. O de Luiz Vitral, por exemplo, é o túmulo do faraó Tutancâmon. “Na minha abordagem sobre o papelão, vou falar do empenho e da luta dos galpões de reciclagem. Joanna Sanglard, que é uma especialista da Híbrida Brasil (empresa que produz diversos produtos a partir do reaproveitamento de resíduos), vai cuidar especificamente do Tetra Pak. Silma Dornas trabalha o plástico numa perspectiva de contestação”, detalha Piló.


Magia do plástico

 

Afirmando que do seu chaveiro à sola do seu sapato tudo é feito de plástico, ele considera que o material tem uma “magia”, mas pontua que a forma como é tratado é “muito errada”. Piló diz que, quando o assunto é reciclagem, o foco costuma recair apenas sobre as garrafas pet. “Não há uma atenção para outros plásticos. A mostra é um alerta; pede uma consideração especial para começarmos uma nova economia circular, onde o destino final dos materiais seja respeitado”, destaca.


Ele evoca o físico e astrônomo Marcelo Gleiser para dizer que é necessário brecar a caminhada da humanidade rumo à extinção. “Temos que rever algumas práticas nos próximos 50 anos. As Olimpíadas de Paris são as mais sustentáveis da nossa era. É parte da tentativa de uma retomada que influencia também a economia. A redução do uso de matéria-prima tem a ver com isso, porque só se quer tirar, explorar, sem colocar nada de volta”, ressalta.


Oficina de isografia

 

Leo Piló destaca que a oficina de isografia neste sábado (3/8), que será ministrada pelo artista visual e professor Betho Freitas, a partir das 14h, é focada na reciclagem de sacolas de papel kraft. “Ele dá relevo ao isopor, joga a tinta e imprime, criando contornos artísticos nas sacolas, que são muito boas, muito resistentes e duram muito tempo. Elas foram feitas com papelão que nos foi doado”, diz. Ele acrescenta que a mesa de doação de mudas estará à disposição dos visitantes a partir das 9h e que a exposição “Faces do invisível” é composta por retratos dos catadores de materiais recicláveis, todos em preto e branco. “São imagens que trazem uma força muito grande, na medida em que dão vitrine para essas pessoas, que, para nós, não são invisíveis, e que, no fundo, quer dizer: somos todos iguais”, ressalta.


PROJETO CENTRAL DE RECICLAGEM CRIATIVA
Neste sábado (3/8), a partir das 9h, na loja do artista visual Leo Piló, no Mercado Novo (Rua Rio Grande do Sul, 499 – Centro). Toda a programação é gratuita.

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