Na primeira metade dos anos 2000, Pablo Castro ajudou a delinear a emergente cena musical ligada à canção em Belo Horizonte e em Minas Gerais. Isso ocorreu com o disco “A outra cidade”, parceria dele com Makely Ka e Kristoff Silva, com diversas participações especiais. A estreia solo de Pablo, no entanto, só se deu cerca de uma década depois, com o álbum “Anterior” (2013). Só agora, passados 11 anos, ele apresenta “O riso e o juízo”, segundo trabalho autoral de inéditas.

 


De acordo com o músico, as 11 faixas dão continuidade à “busca pela invenção” que remonta a seu debute fonográfico. Do ponto de vista temático, o álbum alinha as percepções de Pablo sobre a última década no Brasil e no mundo.

 

 



 


A faixa de abertura, “Gatilho”, é uma reflexão sobre a tensão política que recrudesceu a partir de meados da década passada. “O povo prometido”, com participação especial de Sérgio Pererê, é um resumo da história do Brasil que valoriza a mestiçagem, “pensando na redenção do povo brasileiro frente a esse tensionamento”, segundo Castro.


Relacionamentos

 

Por outro lado, o compositor afirma que “O riso e o juízo” traz canções que se debruçam, de forma mais clássica, sobre relacionamentos afetivos e amorosos, reflexos de sua vida pessoal.

 


“O que dá unidade ao disco é o fato de serem músicas de um compositor que já tem trajetória e segue tentando reavivar a forma da canção dentro de um período de tempo específico. Quando vou fazer novo trabalho, sinto a necessidade de variar, de achar novos caminhos e possibilidades, mas mantendo certa coerência para não ficar uma coisa sem norte”, destaca.

 

 

 


Boa parte das composições é parceria com Luiz Henrique Garcia, também letrista de “Anterior”. Outro ponto de convergência, aponta Pablo, é o fato de os dois discos perseguirem “uma certa originalidade em termos de soluções musicais e de achar lugares que não foram trilhados, do ponto de vista da construção harmônica e melódica”.

 


O que os distingue, comenta, é o espírito do tempo e as questões prementes de cada época. “O novo trabalho é mais áspero, reflete meu envelhecimento e também um período histórico mais duro, então ele tem momentos mais agressivos”, diz.

 


O intervalo entre “Anterior” e “O riso e o juízo”, de acordo com o músico, deve-se tanto à necessidade de lapidação das músicas quanto a certo desânimo com relação ao funcionamento do mercado. “Quando lancei o 'Anterior', ainda havia o formato CD e maior espaço para a música autoral dentro das políticas públicas de cultura. De lá para cá, assistimos à mudança muito violenta na forma de se produzir, distribuir e consumir música”, aponta.

 

Sem patrocínio

 

Diante do novo cenário, Pablo conta que se indispôs com os ditames que norteiam as políticas públicas de fomento à cultura. “O riso e o juízo” foi feito de forma totalmente independente, sem amparo de editais ou patrocínio.

 


O compositor destaca que esse período dilatado de produção tem vantagens e desvantagens. A vantagem está no tempo de que ele dispõe para burilar as canções.

 

“A desvantagem é que elas são feitas num contexto que muda com o passar dos anos. 'Gatilho', por exemplo, parte de um episódio específico, a desocupação, em 2012, do Pinheirinho, em São Paulo, terreno alvo de litígio judicial onde moravam centenas de famílias. Ainda assim, a gravação se justifica porque teve um aprofundamento político daquele momento, ao qual se seguiu um período de tensionamento e de polarização controlada”, explica.

 

De acordo com ele, a instância política em “O riso e o juízo” reflete sobre o lugar de isolamento que lhe foi imposto, com o que chama de “sessão de cancelamento”. Pablo compartilha nas redes sociais opiniões que divergem das de seus pares e, segundo ele, pautam a cadeia produtiva da cultura.

 

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“Tenho vocação para a polêmica, de falar coisas que estão fora do roteiro reservado para minha área de atuação”, afirma Pablo. E cita três faixas de seu novo álbum: “Gatilho”, “O povo prometido” e “Voz ativa”, essa última, composta há mais tempo, já prenunciava a era do cancelamento.

 

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“São músicas que refletem posições minhas como cidadão, que me opuseram às turbas, às vertentes hegemônicas não só da esquerda, mas da cena cultural à qual pertencia e ainda pertenço, mas só por fazer parte da mesma geração. Sou desta turma, mas meio que fui divergindo, me tornei ovelha negra, um sujeito meio proscrito”, afirma.

 

Audiência lúdica

 

Pablo Castro fará audição pública de seu novo disco nesta quinta-feira (8/8), às 20h, no bar Vento Leste (Rua Urucuia, 36, Floresta). Ao lado do parceiro Luiz Henrique Garcia e de Guilherme De Marco – coprodutor do disco e responsável pelas guitarras na maioria das faixas –, ele vai falar sobre seu processo de criação.

 

Após o bate-papo, haverá um pequeno show. “Atualmente, praticamente ninguém consegue parar para ouvir um álbum inteiro. Pensei que esta situação de evento propicia isso. Estou chamando o encontro de audiência lúdica”, diz Castro.

 

"O riso e o juízo" é o segundo disco solo autoral de Pablo Castro

Reprodução


“O RISO E O JUÍZO”


• Álbum de Pablo Castro

• 11 faixas

• Independente

• Disponível nas plataformas de streaming

• Lançamento nesta quinta-feira (8/8), às 20h, no bar Vento Leste (Rua Urucuia, 36, Floresta)


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