Deixa rolar e, na hora, a gente vê o que acontece. É assim que o músico Henrique Iwao sintetiza o espírito dele e dos colegas do Trio QI – Patrícia Bizzotto e Marco Scarassatti – em relação ao projeto de improvisação musical criado por eles.
Em cartaz na capital mineira desde 2013, a iniciativa propõe temporadas anuais, normalmente com uma apresentação por mês – até ano passado, às quartas-feiras, executando o repertório criado no momento. QI, cumpre dizer, é a abreviação de Quartas de Improviso. Todas as performances contam com convidados especiais, que participam do improviso musical.
Neste ano, entretanto, o Trio QI está fazendo diferente. Em vez de realizar as apresentações às quartas-feiras, ele montou a temporada de 2024 com performances sempre às quintas-feiras. E, outra mudança, na sede da editora Impressões de Minas, no Bairro Floresta. Hoje (8/8), a convidada especial será a escritora e artista alimentar Laís Velloso.
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Som da fritura
“Não temos a menor ideia do que a Laís vai fazer, mas sei que será um improviso musical com a gente”, diz Iwao. “Ela mandou o esboço da ideia, que é um jogo narrativo gastronômico envolvendo a produção de massas fritas em óleo. O processo de fritura, aliado à poesia dela, certamente vai produzir ritmos e sons. Mas não tenho a menor ideia de como é que ela vai operacionalizar tudo isso”, acrescenta.
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A incerteza, que pode ser vista como premissa pouco promissora para uma performance musical, não preocupa os artistas. Pelo contrário, é o que dá substância para as apresentações, uma vez que cada músico precisa estar atento ao que o outro está tocando no intuito de criar uma sonoridade que não atravesse a criação do colega.
“Eu, Patrícia e Marco, assim como os demais músicos que estão habituados a tocar improvisação, que chamamos de ‘apresentação livre’, já desenvolvemos nosso jeito de improvisar durante nossa trajetória. Cada um tem seu jeito, tem sua trajetória. Não ensaiamos antes justamente para não influenciar na singularidade de cada um. Afinal, esta é a proposta: cada um com sua história e suas características, todos se juntam num mesmo ambiente para criar uma música na hora”, conta Iwao.
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Cada um faz o que quer, lembra ele. Mas, claro, interagindo com o músico que está ao lado. “A única coisa que combinamos é a duração da apresentação”, diz.
Depois de passar pelo Edifício Maletta, Teatro Espanca! e pelo centro cultural Gruta, o QI chega à sede da editora Impressões de Minas. Serão mais três apresentações no local até novembro.
No ritmo da tipografia
A ideia partiu do próprio sócio da casa editorial, Wallison Gontijo, que sugeriu o espaço ao trio depois de acompanhar as últimas edições do QI. “Em junho, nós fizemos uma primeira apresentação lá. O Henrique, a Patrícia e o Marco improvisando nos instrumentos e eu nas máquinas da tipografia, que produz sons graves e agudos”, lembra Gontijo.
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Analisando o catálogo da editora, não é exagero afirmar que ela guarda certas semelhanças com o projeto de improvisação musical. Melhores exemplos são os carros-chefes da editora: “Meu livro vermelho”, do cantor e compositor pernambucano Otto; “Extraquadro”, de Ricardo Aleixo; e “Caruncho”, de Laura Cohen – este último vencedor da primeira edição do Prêmio AML, da Academia Mineira de Letras, ano passado.
“Em cada publicação, tentamos trazer a identidade do escritor”, diz Gontijo. E é verdade. Na reunião de poesias de Otto, por exemplo, a capa vermelha do livro conta com orelhas extensas que se desdobram infinitamente, remetendo o conteúdo dos versos do pernambucano.
“Caruncho” tem a capa carcomida, em buracos que aludem à destruição provocada pelo inseto.
“Temos essa preocupação desde o início da publicação do livro. Afinal, o Otto não escreve da mesma forma que o Ricardo Aleixo, que também não escreve como a Laura Cohen. Cada um tem seu estilo de escrita. Por isso, não acho legal editar tudo como se fosse a mesma coisa, sem dar caráter pessoal ao livro”, ressalta o editor.
Mostra
Além de abrigar a próxima edição do QI, a sede Impressões de Minas vai deixar em exposição o trabalho de Amadeus Costa. Trata-se de obras construídas com madeiras que o artista encontrou na rua.
“Não queremos nos limitar ao universo do livro. Queremos nos expandir para outras linguagens artísticas e abrir nosso espaço para que ele seja frequentado pelo público. Não pretendemos ser apenas uma tipografia que imprime livros, e sim um ambiente cultural, que reúna as pessoas e dialogue com diferentes linguagens das artes”, conclui Wallison Gontijo.
QUINTAS DE IMPROVISO
Com Trio QI. Convidada especial: Laís Velloso. Nesta quinta-feira (8/8), a partir das 20h, na Impressões de Minas (Rua Bueno Brandão, 80, Floresta). Entrada gratuita. Informações pelo Instagram (@impressoesdeminaseditora).