Os prédios com dezenas de andares na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ficaram para trás. Na segunda temporada de “Os outros”, com três dos 12 episódios disponíveis a partir desta quinta-feira (15/8) no Globoplay, a maioria dos personagens habita um condomínio de residências amplas e luxuosas. Não se trata apenas de uma mudança de endereço, mas de perspectiva. Do confinamento vertical ao espaçamento horizontal, tudo parece mais tranquilo, menos à flor da pele. Apenas aparências. O pé direito das casas é alto, mas o buraco é mais embaixo. Os conflitos entre vizinhos irão explodir com idêntica, ou maior, intensidade do que na primeira temporada da série criada por Lucas Paraizo e com direção artística de Luisa Lima.

 


Sucesso de crítica e público, “Os outros” ganha 12 episódios, novos personagens, mais impasses e menos limites de gêneros. “Lucas me apresentou o piloto da segunda temporada quando eu ainda nem tinha começado a gravar a primeira. Aí a gente viu que esse projeto tinha fôlego mesmo. Fiquei apaixonada muito rápido”, conta a diretora. “Na primeira temporada você conhecia os personagens a partir das suas reações. Havia uma briga que era o detonante dessa história. Na segunda, é o contrário. Há uma premeditação. E uma dissimulação muito maior também”, adianta o autor. “É uma nova história, mas com o mesmo DNA. Estamos falando de intolerância”, define.

 

 


 


Alguns atores, como Adriana Esteves, Antonio Haddad e Thomás Aquino, voltam na nova temporada. Eduardo Sterblitch, agora na condição de protagonista, encarna novamente o miliciano Sérgio. Eleito vereador, ele se muda com a família para o condomínio Barra Star Dream. A partir desse deslocamento, nasce o primeiro grande embate da nova temporada, entre ele e o casal de vizinhos Raquel (Letícia Colin) e Paulo (Sérgio Guizé). O elenco ainda é reforçado por Mariana Nunes e Luis Lobianco.

 

 

Salto de complexidade

 

“Há um salto de complexidade. E não queríamos reduzir ‘Os outros’ a um espaço. Expandimos as fronteiras e ampliamos o número de personagens (eram nove, agora são 11) para mostrar que a intolerância de pessoas que vivem próximas está em todos os lugares. Estamos falando sobre crises de masculinidade, na maternidade, sobre temas muito próximos à primeira temporada, mas em outros espectros e em outras instâncias”, explica o autor.

 


“À medida em que a dramaturgia avança para essa complexidade, a representação do estado emocional e psíquico dos personagens em ações que resultam em situações trágicas absurdas é uma oportunidade muito grande de trazer referências de cineastas que que me influenciaram bastante por mostrar fissuras humanas além das fachadas”, complementa Luisa Lima.

 

 

 

 

 

Ela cita filmes de David Lynch (“Veludo azul” e “Estrada perdida”) e Lars von Trier (“Ondas do destino” e “Melancolia”) entre as referências, bem como longas dos brasileiros Anna Muylaert, Kleber Mendonça Filho e da belga Chantal Akerman. “Mas também as novelas e uma série popular como ‘Desperate housewives’”, adiciona Lucas Paraizo.

 

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Nova protagonista

 

O primeiro episódio, que mostra como a busca pelo filho Marcinho (Haddad) devastou Cibele (Esteves), apresenta também uma nova protagonista – e um novo tema. “Mulher de fé”, a corretora Raquel, interpretada por Leticia Colin, promove encontros religiosos em sua casa enquanto enfrenta a infelicidade por não conseguir engravidar.

 

“Precisávamos de uma protagonista à altura da Cibele. E adoro escrever personagens femininos, as mulheres são mais interessantes do que os homens”, conta Paraizo. É o reencontro profissional de Letícia e Luisa, que a dirigiu na série “Onde está meu coração”, de George Moura e Sérgio Goldemberg. “Quero trabalhar com alguns atores e atrizes para o resto da vida e Letícia é uma delas”, afirma a diretora.

 

Ainda que não seja explicitada (“Você não escuta a palavra ‘evangélico’’’, ressalta o autor), a religião em maior crescimento no país é representada pela personagem de Leticia Colin. “Queria me aproximar de uma forma mais complexa desse grupo religioso”, revela Paraizo. “Até porque, nessa temporada, de alguma forma todos os personagens pedem perdão e há muitos questionamentos. Porque ‘Os outros’ não traz respostas, mas faz muitas perguntas”, acredita, destacando o trabalho de “roteiristas fantásticos” em sua equipe de criação: Flavio Araujo, Thais Fujinaga, Pedro Riguetti e Bruno Ribeiro.

 

 


O antagonista de Raquel, ao menos no início da nova temporada, é o personagem de Eduardo Sterblitch. Antes coadjuvante, Sérgio ganha protagonismo, nuances e vulnerabilidades. A diretora lembra o que disse ao ator antes do início das gravações: “Agora você vai ter de viver todas as formas de emoção”. Ela afirma que o trabalho de Sterblitch foi fundamental para um dos objetivos que ela e Paraizo traçaram para os novos episódios: ultrapassar o limite dos gêneros. “Os comediantes são atores extraordinários para isso.”

 


Pela atmosfera construída no primeiro episódio, os únicos que estão presos aos seus endereços são os personagens. Os criadores se dispuseram a exercer a liberdade criativa e não se prender ao registro realista. Há elementos de melodrama, farsa, suspense, thriller, terror psicológico. E há atores dispostos a ir às últimas consequências pelas palavras e lentes de seus realizadores.

 

“É importante ter coragem de avançar em códigos que não estejam pré-estabelecidos”, afirma Luisa, que trabalhou com outros dois diretores – Lara Carmo e Fábio Rodrigo – na realização. “Acho muito necessário no processo criativo que a gente não seja só objetivo. A televisão traz essa necessidade, mas temos de tentar achar essas brechas”, acredita a diretora.

 


“OS OUTROS”


De Lucas Paraizo. Direção de Luisa Lima. Com Adriana Esteves, Antonio Haddad, Eduardo Sterblitch, Gi Fernandes, Kênia Bárbara, Leticia Colin, Luis Lobianco, Mariana Nunes, Sérgio Guizé e Thomás Aquino. Estreia da segunda temporada da série, com liberação de três episódios, a partir desta quinta-feira (15/8), no Globoplay. Mais três episódios disponíveis no dia 22/8. Nas quintas-feiras seguintes (29/8, 5/9 e 12/9), serão liberados mais dois episódios. A primeira temporada completa está disponível no Globoplay.

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