O espetáculo de dança-teatro “Maria Vermelha” nasceu de duas influências significativas na vida da professora universitária e artista Bel Sôuza: o livro “Inventário vermelho”, organizado por Danielle Andrade, e o candomblé.

 



 

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O primeiro, um livro de cartas publicado em 2021, reúne relatos de dor e cura de 21 mulheres que escrevem umas para as outras a fim de expor violências provocadas pela condição de ser mulher. Cecília, irmã de Bel Sôuza, é uma das autoras. Por meio dela, a professora teve contato com a obra.


“O espetáculo também dialoga com o meu fechamento de ciclo no candomblé”, afirma Bel. “No ano que vem, passo pelo ritual chamado obrigação de sete anos, e com isso senti a necessidade de falar das Pombasgiras, já que a minha guia espiritual é esta entidade.”

 


O espetáculo gratuito que une canto, dança e teatro chega ao Centro Cultural Vila Marçola neste sábado (24/8), às 19h. Em 3 de setembro, Bel Sôuza leva “Maria Vermelha” também ao Teatro Marília.


“Desde que me iniciei no candomblé, tenho voltado meus estudos para as danças de matriz africana, especialmente para as danças de orixás”, relata a artista.


“É interessante porque encontrei a aproximação dessas danças com outras manifestações periféricas, como o samba de roda e o funk de BH. Da minha vontade de juntar as histórias do livro com a questão religiosa, nasceu ‘Maria Vermelha’”.


Entidade feminina

 

O nome “Maria” vem de algumas representações da entidade Pombagira, cada uma com características específicas e responsáveis por simbolizar aspectos do feminino. É o caso, por exemplo, de Maria Padilha, Maria Quitéria, Maria Mulambo e de Maria Navalha. Conforme Bel Sôuza, algumas delas surgem no espetáculo.

 

 

“Pombasgiras são mulheres que já estiveram encarnadas. Elas não são necessariamente africanas, como é comum pensar. Existem Pombasgiras cujas histórias são de mulheres europeias e brasileiras, por exemplo. Por terem tido vidas dolorosas, acreditamos que, após a morte, elas se tornam essas entidades femininas que nos protegem e auxiliam”, afirma.


Bel Sôuza acrescenta: “Elas não são específicas do candomblé, estando também presentes na umbanda. Apesar de terem sido trazidas pelos escravizados africanos, as Pombagiras são figuras essencialmente brasileiras. Não as encontramos em nenhuma outra mitologia mundial.”


A narrativa em torno da entidade e suas histórias de sofrimento em vida se entrelaçam com contos do livro “Inventário vermelho”, narrados pela artista durante o espetáculo. Com o auxílio da dança e de elementos teatrais, Bel Sôuza traça um panorama de conscientização e combate à violência contra a mulher.


A peça tem direção de Rosa Antuña e coreografia assinada por Bel Sôuza e Aline Caldeira. “Aline tem uma trajetória no samba muito forte, além de ser candomblecista”, diz. “Por isso, trazemos elementos das danças de terreiro e da dança contemporânea para o espetáculo, vertente que formou grande parte da minha trajetória artística. ‘Maria Vermelha’ mistura samba e danças de terreiro em uma roupagem contemporânea.”


Além das apresentações, a peça promove a oficina Autocuidado para mulheres. O projeto, voltado para profissionais da área da educação, contará com duas sessões de 20 vagas e inscrições on-line. As aulas ocorrerão em escolas da rede pública estadual ainda a serem definidas.


“A oficina é justamente para que as profissionais da educação, geralmente sobrecarregadas, tenham acesso a pequenas práticas de autocuidado que podem ser feitas em qualquer lugar e a qualquer hora. É extremamente importante praticar momentos de conexão consigo”, destaca Bel Sôuza.


“MARIA VERMELHA”
Com Bel Sôuza. Neste sábado (24/8), às 19h, no Centro Cultural Vila Marçola (Rua Mangabeiras da Serra, 320 – Marçola). Entrada franca, com retirada de ingressos no momento do espetáculo.

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

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