Presidente da Academia Mineira de Letras (AML), Jacyntho Lins Brandão, especialista em letras clássicas com vários livros e ensaios publicados acerca do assunto, resolveu agora, aos 71 anos, estrear como contista. O resultado da investida é “Ode à errância”, que será lançado neste sábado (24/8), às 10h, na sede da AML.

 

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“Com minha idade, não posso ter projetos de muito longo prazo. Na verdade, já não estou fazendo nada do que fiz antes, como escrever ensaios de 200 ou 300 páginas. Não está na minha perspectiva e não dou conta de fazer algo assim, que envolve muita pesquisa e elaboração, então estou me dedicando mais à literatura, à ficção”, diz Brandão.

 


As histórias de “Ode à errância” (Patuá Editora) surgiram durante a pandemia. Ao longo dos últimos quatro anos, Brandão cuidou de burilar os textos. “É um trabalho de rever e reescrever”, explica. “Uma história escrita não necessariamente está pronta. Até a hora de ir para a gráfica, a gente está mexendo. Depois o filho nasce e vai ser do jeito que for.”

 



 


Os contos abordam a velhice, amores proibidos ou não correspondidos, erros de cálculo, projetos inacabados, relações sociais e idiossincrasias em que cada personagem mergulha no percurso da própria existência.

 


O dicionário ensina que “errar” é: “incorrer em erro, em engano”; “deixar de acertar o alvo”; “andar sem rumo certo, vaguear, percorrer”; “fazer ou pensar algo que resulta em culpa”. De tal multiplicidade de sentidos nasceu o livro, de acordo com Jacyntho.

 

Demônio da tipografia

 


O título veio do conto em que um professor, “já no ponto da aposentadoria compulsória”, escreve sobre a velhice e sobre seus primeiros textos acadêmicos.

 


“O professor recorda que, em seu primeiro artigo publicado, havia praticamente um erro em cada linha, porque o demônio da tipografia entrava para modificar o texto. Ele fala que 'não é um aniquilamento completo, só uma ode à errância'. O demônio da tipografia passou para dentro dos computadores, para o celular, com isso de você escrever uma coisa e sair outra, porque o corretor alterou o que foi escrito. Uso a imagem da errância do texto”, ressalta.

 


Brandão afirma que o erro ou a errância está no próprio estilo de cada história. “São contos bem variados, tudo muda muito de um texto para o outro. Em alguns, o autor, meio gago, usa vírgulas em excesso. Tem essa errância na própria carpintaria da escrita, algo intencional. São contos variados em estilo, em temática e até em extensão”, salienta.

 

Leia trecho de "Ode à errância"

 


Ele não sabe precisar exatamente qual foi o mote ou a inspiração para criar “Ode à errância”. “Quem escreve apenas escreve, não tem um plano. As coisas têm um engendro, descobrir o sentido fica como tarefa do leitor”, provoca. Mas entrega: a temática do erro ou da errância une os textos, “no sentido do que você faz quando se equivoca, quando anda desorientado ou quando planeja alguma coisa, mas vem um acontecimento e obriga um desvio”.

 

Jacyntho Lins Brandão traduziu poema épico babilônico

 


Brandão conta que seu entendimento global sobre o que o livro quer dizer só veio a posteriori, já na condição de leitor. “Tenho sido perguntado sobre o título, sobre o que o livro fala. De certa forma, para fazer esses comentários, tenho que deixar minha perspectiva de autor para vestir a indumentária do crítico literário”, diz.

 


Porém, ele não se furta a sublinhar a questão da masculinidade como elemento marcante na obra. “Pensando por esses dias, percebi que tematizo e problematizo a masculinidade em várias situações. Isso é uma impressão posterior. As personagens mulheres são, em geral, bem-resolvidas, decididas em suas ações, no que realizam. Os personagens homens estão meio perdidos nesse contexto, às vezes porque envelheceram e as coisas mudaram. Isso está presente em várias histórias, é uma errância. Você fica andando para lá e para cá. A velhice, assim como a masculinidade, está tematizada em alguns textos”, pontua.


Bate-papo

 

O lançamento contará com bate-papo entre Jacyntho Lins Brandão e Eduardo Lacerda, editor da Patuá. Além disso, o evento se prestará à apresentação conjunta de obras, entre lançamentos e relançamentos, de escritores mineiros publicados pela editora.

 

Os autores são Adlei Carvalho, com o livro “Céu de Luz Maria”; Amélia Machado, com “Feito água de rio”; Girlene Verly, com “Dança de samambaias”; Luís Giffoni, com “A vida, a morte e outros penduricalhos”; Márcia Leão, com “Sobre andar em chão de estrelas”; Guilherme de Marchi, com “O visitante”; Rafael F. Carvalho, com “BR-381”; Rosane de Castro, com “Mundana”; Renan Menicucci, com “Berenice”; e Paula Quinaud, com “Anas”.


“Rato de biblioteca”

 

Este ano, a Academia Mineira de Letras recebeu os acervos dos integrantes Rui Mourão (1929-2024) e Maria José de Queiroz (1934-2023), doados pelas respectivas famílias. “A guarda desses acervos acaba sendo o trabalho principal da academia; os eventos são desdobramento disso. Sempre fui rato de biblioteca, então fico muito feliz e à vontade aqui. Tem muita coisa para ser analisada, esses dois acervos que recebemos recentemente contêm textos inéditos. Isso representa muito para nós”, diz Jacyntho Lins Brandão.

 


“ODE À ERRÂNCIA”


• Livro de Jacyntho Lins Brandão
• Contos
• Patuá Editora
• 268 págs.
• R$ 60
• Lançamento neste sábado (24/8), às 10h, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes). Sessão de autógrafos e bate-papo do autor com o editor Eduardo Lacerda.

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