A obra de Pedro Moraleida sempre desfrutou de reconhecimento no circuito das artes visuais, mas, com o passar dos anos, sua reverberação foi gradualmente amplificada. Apesar de sua morte precoce, aos 22 anos, em 1999, ainda estudante da Escola de Belas Artes da UFMG, ele deixou um numeroso e diversificado acervo. Para preservar e difundir esse acervo, a família criou, em 2018, o Instituto Pedro Moraleida Bernardes (IPMB).

 




Passados 25 anos da morte do artista, o Instituto passa a ser aberto ao público, a partir desta quarta-feira (28/8), com a exposição “Moraleida contemporâneo”, que reúne 71 obras de sua autoria, entre pinturas, desenhos, textos e intervenções sonoras. Esse evento dá a largada no projeto “Pedro Moraleida – 25 anos depois”, que prevê uma série de outras exposições, debates e ações que pretendem ir além do acervo sob guarda do IPMB.

 


Pai do artista e diretor-geral do Instituto, Antônio Luiz Bernardes afirma: “Criamos o Instituto Pedro Moraleida Bernardes com a perspectiva de termos algum papel no desenvolvimento das atividades artísticas em âmbito local, nacional e internacional”, destaca.

 


O acervo de Moraleida – ou Moral, como o chamavam os amigos próximos – conta com mais de 400 pinturas, cerca de 1.400 desenhos, mais de 520 textos, entre poesia, contos, manifestos e reflexões sobre arte, e 120 experimentações sonoras. Bernardes aponta que o material se caracteriza pela riqueza de conteúdos e formas, quantidade e diversidade dos modos de expressão, técnicas e suportes, bem como pela originalidade, consistência, coerência e, sobretudo, pela contemporaneidade.

 


Das 71 obras que compõem “Moraleida contemporâneo”, em cartaz até 31 de dezembro, algumas serão mostradas pela primeira vez. A partir de janeiro do próximo ano, a sede do IPMB passará a abrigar uma exposição do artista Walter Sebastião, que atuou como crítico no Estado de Minas. “Ele teve um papel importante na descoberta do Pedro, deu muito apoio às iniciativas de preservação e divulgação da obra dele”, diz Bernardes.

 


O projeto “Pedro Moraleida – 25 anos depois” se estende até julho de 2025 e prevê outras mostras simultâneas da obra do artista. Em outubro, parte de seu acervo estará exposto no Viaduto das Artes, no Barreiro. Em novembro, é a Academia Mineira de Letras (AML) que recebe um recorte da vasta produção de Moraleida. “Essa será centrada no Pedro escritor, ou seja, na presença da escrita em suas obras e nos textos que produziu”, destaca Bernardes.

 


Ciclo de debates

A AML abrigará também o ciclo de debates “Arte hoje: encontros”, que tem o propósito de discutir o estatuto das artes na atualidade. Previsto para começar em setembro, o ciclo vai contar com nomes como Lisette Lagnado, Jochen Volz, Marcus Hill, Rodrigo Moura, José Alberto Nemer, Julia Rebouças e Carmela Gross, entre outros.

 


“É uma das coisas que a gente pretende imprimir ao Instituto, o debate sobre a arte, os caminhos futuros”, diz o diretor-geral. Intervenções musicais também fazem parte do projeto – com participações confirmadas de Patrícia Bizzotto, Marcelo Veronez e Claudio Moraleida – além de performances cênicas, com a Oficcina Multimédia, por exemplo.

 


Luiz Bernardes afirma que seu filho produziu na contramão das tendências dominantes nas artes visuais daquele período. “Era muito comum você ouvir dizer que a pintura tinha morrido. De repente, surgiu um artista que desenhava e pintava, e ninguém podia dizer que não se tratava de arte contemporânea. No catálogo da exposição 'Canção do sangue fervente' tem um manifesto que ele escreveu refletindo que não é puramente a técnica que informa a arte”, diz.

 


Para Bernardes, é graças a esse caráter visionário que a obra de Moraleida atravessou os anos gerando cada vez mais interesse. “O nome do projeto, 'Pedro Moraleida – 25 anos depois', tem a ver com isso, com o fato de sua obra ter um quê de premonitório. Ele trazia coisas que só começaram a ser compreendidas e adotadas 15 ou 20 anos mais tarde. Hoje, mais do que nunca, existe um entendimento acerca das temáticas que ele abordava, das questões climáticas às questões de gênero, e da forma como fazia isso”, diz.

 


Bernardes ressalta que a obra de Moraleida se desenvolveu intimamente ligada ao debate humanista e de cunho social daquele tempo, quando se apregoava uma arte técnica e neutra. “A família começou a preservar e divulgar o acervo muito por uma questão afetiva, mas o retorno de artistas e críticos foi nos convencendo de que tínhamos em mãos algo que merecia ser difundido em uma escala bem mais ampla, em função de sua potência e riqueza artística.”

 


“MORALEIDA CONTEMPORÂNEO”
Abertura da exposição, nesta quarta-feira (28/8), às 19h, no Instituto Pedro Moraleida Bernardes (Rua Inconfidentes, 732, loja 2, Savassi). A mostra fica em cartaz até 31 de dezembro. Entrada franca.

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