Foi o resgate de uma canção quase extinta. Em meados dos anos 1980, Celso Adolfo compôs a trilha sonora do curta-metragem “A quem possa interessar”, do cineasta, músico e escritor João Batista Melo. Não restou muita coisa do filme, além de cópias em 16mm deterioradas, sem áudio.

 

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“Minha sorte foi que antes de as cópias se deteriorarem, eu tinha gravado a música em uma fita cassete”, conta Melo. Esse registro(único, pois Celso Adolfo não escreveu partitura) foi compartilhado com Túlio Mourão, que tirou a música de ouvido e criou arranjos inéditos gravados por músicos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.

 

 



 


A nova versão está no álbum “Trilhas curtas”, que será lançado nesta quinta-feira (29/8), no Centro Cultural Unimed-BH. Músicos que participaram do projeto executarão as faixas do CD.

 

Jazz e MPB

 

Idealizado pelo próprio João Batista Melo, o álbum reúne nove trilhas e um tema. Melodias foram compostas por Nivaldo Ornelas, Andersen Viana e Marcos Souza, além de Celso Adolfo e do próprio Melo. O repertório transita por jazz e MPB.

 


Todas as músicas foram encomendadas para curtas de diretores que contribuíram para a consolidação do cinema mineiro, como Helvécio Ratton e Paulo Augusto Gomes, morto no mês passado em decorrência de uma parada cardíaca.

 


“João Rosa”, de Ratton, ganhou trilha de Nivaldo Ornelas, que imprimiu na linha melódica instrumental sua característica de atravessar diferentes estilos, com variadas citações.

 

 


Já “Minas portuguesa”, filme de Paulo Augusto Gomes, contou com trilha de Andersen Viana, que levou referências jazzísticas para o arranjo.

 


Revivendo a época em que tocava acordeom no Bando dos Cariúnas, João Batista Melo está presente nas trilhas de “A quem possa interessar”, “As fadas da areia”, “Um ano novo danado de bom” e “Sozinha com sua alma”, curtas dirigidos por ele.

 

 

Fernanda Vianna em "Sozinha com sua alma", dirigido por João Batista Melo, que também compôs a trilha sonora do curta

João Batista Melo/Acervo Pessoal

 


Protagonizado por Fernanda Vianna, do Grupo Galpão, “Sozinha com sua alma”, premiada como melhor atriz no Festival de Gramado, em agosto, pelo filme "Cidade; campo",  se baseou em um conto de Thomas Bailey Aldrich.

 


“Muitas dessas faixas são músicas criativas que estavam perdidas por aí”, ressalta João Batista Melo. “Embora seja mais ‘fácil’ fazer curtas-metragens devido ao menor custo de produção e a vários editais, há a dificuldade muito grande de exibir os filmes. As trilhas sonoras pegam carona nisso. Produções não são vistas pelo grande público e quem assistiu acaba se esquecendo das melodias”, comenta.

 

Momento certo

 

Levou cerca de 10 anos para o projeto ganhar forma. A demora se deve a questões financeiras – “Trilhas curtas” foi produzido com recursos da Funarte e do Ministério da Cultura. No entanto, o disco é lançado em momento oportuno, acredita João Batista, pois atualmente há maior interesse das pessoas por trilhas sonoras.

 


Ao longo desta semana, por exemplo, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais apresentou em BH o concerto “Música de cinema”, evento que já se tornou tradicional na cidade, com repertório vindo de filmes clássicos.

 


“As orquestras estão começando a perceber que o público gosta de trilha sonora”, diz Melo. “Mas, nesse processo, trilhas de curtas raramente são lembradas. Isso foi um dos motivos para eu insistir em tentar viabilizar esse projeto, porque seria um espaço para valorizar as trilhas dos curtas, chamar a atenção para a música”, explica.

 

 


O conceito do disco é inédito no Brasil, de acordo com Melo. Ele conta que desde a década de 1980, quando pesquisou o assunto com mais profundidade, encontrou apenas um projeto de álbum voltado para a seleção de trilhas de curtas. “A série com três CDs foi produzida por uma gravadora europeia”, informa.

 


“Não conheço nenhum outro CD com músicas de curta-metragem no mundo. Além disso, nunca ouvi falar de concertos cujo repertório é a trilha sonora de curtas, como o que vamos fazer nesta quinta-feira”, conclui.

 

OS CURTAS


. “João Rosa”
Música: Nivaldo Ornelas

 

. “A quem possa interessar”
Música: Celso Adolfo

 

. “Um ano novo danado de bom”
Música: João Batista Melo

 

. “Fremd, o estrangeiro”
Música: Marcos Souza

 

. “Minas portuguesa”
Música: Andersen Viana

 

. “As fadas da areia”
Música: Nivaldo Ornelas

 

. “A rosa”
Música: João Batista Melo

 

. “Variações sobre um tema do filme 'Tampinha'”
Música: Nivaldo Ornelas

 

. “Uma flor na janela”
Música: João Batista Melo

 

. “Sozinha com sua alma”
Música: João Batista Melo

 

Disco "Trilhas curtas" reúne raridades do cinema mineiro

Reprodução
 

 

“TRILHAS CURTAS”


• Disco com trilhas sonoras de curtas-metragens
• Casinha de Bambuê Produções
• Concerto de lançamento nesta quinta-feira (29/8), às 20h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH
Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes).
• Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), na bilheteria do teatro ou na plataforma Sympla. Informações: (31) 3516-1360.

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