"Farol da Barra" (1954) é uma das obras de José Pancetti (1902-1958) que integram a exposição gratuita na Casa Fiat de Cultura

crédito: Romulo Fialdini/divulgação


A Casa Fiat de Cultura recebe, a partir desta terça-feira (3/9), a primeira exposição individual em Belo Horizonte de José Pancetti (1902-1958), um dos expoentes da segunda fase do modernismo brasileiro. Com curadoria de Denise Mattar, a mostra apresenta 46 trabalhos realizados entre 1936 e 1956, alguns deles nunca antes exibidos ao público, além de cronologia ilustrada e instalação imersiva, com músicas de Dorival Caymmi, imagens e sons do mar.

 

 


Também será apresentado documentário inédito, produzido por Ula Pancetti, neta do artista, que, na abertura da exposição, participa de bate-papo com a curadora. Conhecido principalmente por suas paisagens em que predominam o mar e as praias, Pancetti também pintou naturezas-mortas e retratos. Em “Pancetti na Casa Fiat de Cultura: o mar quando quebra na praia...”, que fica em cartaz até 17 de novembro, as obras estão divididas em seis núcleos temáticos.


São eles: “Retratos”, “Paisagens”, “Naturezas-mortas”, “Bahia”, “Marinhas” e “Família”. Um dos destaques da mostra é a obra inacabada “Composição – Bahia interior o meu atelier, Itapoan”, que integra o núcleo “Naturezas-mortas” e é parte da coleção de Ula Pancetti.


A pintura foi feita em Salvador, em 7 de outubro de 1957. No dia 16 de novembro, Pancetti retornou ao Rio de Janeiro para tratar da tuberculose que o acossava. Ele foi internado no hospital da Marinha, onde morreu em 10 de fevereiro de 1958. A obra não chegou a ser assinada e nunca foi exposta.

 


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A trajetória artística de Pancetti está intimamente ligada à sua vivência na Marinha. De origem humilde, executou diversos ofícios: foi operário, auxiliar de ourives, trabalhador de redes de esgotos e faxineiro de hotel. Nos anos 1920, trabalhou como pintor de paredes e cartazista. Ele integrou a Marinha Italiana em 1919 e ingressou na Marinha Brasileira em 1922, onde desenvolveu sua arte e onde permaneceu até 1946.


Denise Mattar destaca os vários aspectos de ineditismo que cercam a exposição. “Fizemos uma pesquisa e não descobrimos nenhuma mostra individual dele que tenha sido realizada em Belo Horizonte. Pancetti participou da famosa exposição coletiva de 1944, a última grande mostra do modernismo. Ele era muito amigo de Guignard. Ali estavam muitos artistas reunidos, agora, uma mostra como esta que estamos fazendo, nunca teve igual”, afirma.

 

 

Ela diz que a exposição esteve em cartaz em São Paulo, no Farol Santander, entre março e junho deste ano, mas ganha, na capital mineira, um núcleo pensado especialmente para a cidade. “Esse núcleo, 'Família', traz obras que estão sendo mostradas pela primeira vez em público, porque são quadros que ele fez para a família e até agora permaneceram no âmbito privado”, ressalta. Ela pontua que o núcleo “Paisagens” dialoga diretamente com os núcleos “Bahia” e “Marinhas”.


Pintor social


“Essencialmente, Pancetti era um paisagista, mas também um retratista muito interessante. O crítico Felipe Scovino fala que ele era um pintor social. Pancetti nunca fez um retrato de uma mulher da alta sociedade. Ele fazia retratos de pessoas próximas, amigos, pescadores, gente do povo, e também fez muitos autorretratos. Temos nessa mostra o mais importante deles, 'Auto-vida', que pertence à coleção de Gilberto Chateaubriand”, detalha Denise. Vale destacar que outras coleções privadas de instituições do Brasil cederam obras para a mostra em BH.


Suas primeiras obras foram pintadas em 1925, quando servia no encouraçado Minas Gerais. Em 1933, em sua passagem pelo Núcleo Bernardelli, recebe orientação de Manoel Santiago, Rescála e Edson Motta. Pancetti, no entanto, só reconheceu realmente como mestre o polonês Bruno Lechowski, com quem absorveu e desenvolveu a composição de planos geográficos, a austeridade da cor e a sutileza do traço.

 


A curadora destaca que o primeiro núcleo, “Paisagens”, abre com a obra “O chão”, de 1941, quando Pancetti foi premiado em um salão de artes. Ela diz que a mostra retrocede à década de 1930, no núcleo “Retratos”, e avança até a obra inacabada de 1957. “Na década de 1920, você tem um modernismo feito por gente rica. Tarsila e Oswald de Andrade iam a Paris e voltavam como quem vai ao quintal de casa. Em 1930, isso muda. É significativo que o prêmio tenha sido para Pancetti, que veio de um estrato bem humilde.”


Denise destaca um momento de virada na carreira do artista, quando ele se muda para a Bahia, em 1950. “Ele fica encantado, e isso se reflete na obra dele, que ganha cor, ganha outra forma de pensar, muito menos melancólica do que as do início da carreira.”


Vida pessoal em cronologia

 

A cronologia ilustrada da mostra “Pancetti na Casa Fiat de Cultura: o mar quando quebra na praia...” conta detalhes da vida do artista. Desde o nascimento em Campinas (SP), passando pela mudança para São Paulo, o período na Itália e a vivência na Marinha, até o momento em que se dedica intensamente à pintura, após ser reformado. Ela destaca fatos importantes, como os passos que o levaram à pintura, os prêmios recebidos e as viagens que fez para cuidar da saúde, além de detalhes da vida pessoal do artista. Já a instalação imersiva convida o visitante a "mergulhar" no mar. “Com as obras e a instalação imersiva, Minas Gerais agora vai ter mar”, diz a curadora Denise Mattar.

 

“PANCETTI NA CASA FIAT DE CULTURA: O MAR QUANDO QUEBRA NA PRAIA...”


Abertura da exposição nesta terça-feira (3/9), às 19h30, acompanhada de bate-papo com a curadora Denise Mattar e com Ula Pancetti, neta do artista, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10 – Funcionários). A mostra fica em cartaz até 17 de novembro. Visitação de terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Tour virtual pelo site www.casafiatdecultura.com.br. Entrada gratuita.