A manicure Frida (Naomi Ackie) corre perigo ao se infiltrar em festa de bilionários numa ilha remota -  (crédito: MGM/divulgação)

A manicure Frida (Naomi Ackie) corre perigo ao se infiltrar em festa de bilionários numa ilha remota

crédito: MGM/divulgação

 

 

Em “Pisque duas vezes”, seu primeiro trabalho na direção, a atriz Zoë Kravitz tece uma crítica ao poder que os homens bilionários supõem ter sobre os outros, mas, especialmente, sobre as mulheres. O trauma é fio condutor deste longa-metragem em cartaz em BH.

 

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A trama parte da perspectiva de Frida, vivida por Naomi Ackie, aspirante a manicure obcecada pelo gênio da tecnologia Slater King, encarnado por Channing Tatum. Mergulhado em um passado de polêmicas, ele se diz em busca redenção, com terapia e descanso em sua ilha privativa.

 

 

 


Em uma festa filantrópica em homenagem a Slater King, Frida e amiga Jess, papel de Alia Shawkat, se infiltram entre os convidados bilionários e topam viajar até uma remota ilha de King. É nesse cenário paradisíaco que o thriller se desenrola.

 


O personagem de Tatum é apresentado a partir do ponto de vista feminino – o teor das controvérsias que envolvem seu nome fica implícito.

 

Desconforto e controle

 

A atmosfera é de desconforto, seja nas cenas com alto contraste de cores, no figurino sempre branco das mulheres, em alusão a imagens de castidade e inocência, na perfeição da ilha de Slater King ou na simpatia dos personagens masculinos.

 

O longa, que originalmente se chamaria “Pussy Island” (“Ilha da Vagina”, em tradução livre), é criativo ao destacar a inquietação de um mundo que resiste a aceitar figuras femininas que tomam o controle das próprias vidas.

 

 

 

 

O trabalho de direção constrói suspense e não subestima o telespectador. É óbvio que as personagens estão em perigo, mas Kravitz consegue fazer cenas gráficas com certa sutileza, em diálogo com demandas do setor que debatem sobre o olhar masculino sobre cenas de violência contra mulheres.

 

Ainda que a narrativa seja previsível, há um frescor nesta história diferente de outros filmes que também usam o protagonismo feminino de forma retaliativa, como “Bela vingança”, “Vingança” e “Doce vingança”.

 

Filha do músico Lenny Kravitz, Zoë Kravitz está na lista de "nepo babies" dos Estados Unidos

 

Com cortes secos e repetitivos, o ótimo trabalho de edição de Kathryn J. Schubert nos mostra as mulheres em meio à ausência de contato com qualquer pessoa fora da ilha, sendo induzidas a lapsos de memória pelo uso de álcool e drogas.

 

É de se imaginar que um filme como “Pisque duas vezes” fosse associado ao rescaldo do movimento Me Too. Mas não só.

 

 

A diretora Zoë Kravitz e o ator Channing Tatum sorriem no lançamento do filme Pisque duas vezes

A diretora Zoë Kravitz com Channing Tatum, intérprete do controverso magnata Slater King, no lançamento do filme em Los Angeles

Chris Delmas/AFP

 

Ouvem-se ecos de ideias de bell hooks sobre a criação de narrativas femininas, em que o valor está na quebra de normas patriarcais e racistas. É fácil notar referências a nomes contemporâneos do suspense carregado de questões sociais, como o filme “Corra!”, de Jordan Peele, ou episódios das séries “Atlanta” e “Swarm”, ambas criações de Donald Glover.

 


Talvez seja a hora de reconhecer que essas tramas têm lastro próprio e não precisam de ganchos em acontecimentos históricos para merecer investimento e atenção.

 


“PISQUE DUAS VEZES”


EUA, 2024, 102min. De Zoë Kravitz, com Naomi Ackie, Adria Arjona, Channing Tatum, Christian Slater, Geena Davis e Haley Joel Osment. Em cartaz nesta quarta-feira (4/9) em salas de cinema dos shoppings BH, Boulevard, Contagem, Del Rey, Diamond, Itaú, Minas, Monte Carmo, Via e Partage Betim.