Um disco de superação, assim é “Amanhecer”, do cavaquinista e compositor Pablo Dias. Com 10 faixas, sendo nove autorais, o álbum é o resultado de um processo de superação do vício e de uma condição de saúde. O artista foi acometido de uma doença chamada distonia focal, que quase interrompeu a sua carreira.
Embora o trabalho chegue ao streaming somente na primeira semana de outubro, Pablo faz show de lançamento nesta quarta (4/9), às 19h, no Cine Theatro Brasil Vallourec.
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Em 15 de novembro, o artista volta a se apresentar às 15h, no Parque Lagoa do Nado. Pablo conta que as músicas que compõem o disco estão prontas há 10 anos, ainda que no formato de esboço.
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“Trabalhei nelas agora, como forma de retornar à música. Todas foram gravadas com a minha doença, usando apenas dois dedos. A mecânica inteira das melodias é posta para tocar com dois dedos. Fui me adaptando aos poucos até perceber que conseguia tocar bem assim mesmo”, explica.
O cavaquinista conta que se iniciou na música aos 16 anos. “Comecei com o Renato Rocha, violonista de seis cordas de chorinho, e fui tomando gosto pelo gênero. Confesso que sempre gostei de música instrumental. Ganhei três prêmios do BDMG Cultural, em 2008, 2011 e 2016, esse último como melhor instrumentista."
Um pouco antes de ganhar os prêmios do BDMG, o artista notou que a mão esquerda não respondia muito bem a seus movimentos.
"Nessa época, eu estudava 14 horas por dia, estava frenético com aquilo e querendo tocar cada vez mais. E é incrível, porque pensar e tocar é uma sensação maravilhosa. Isso é o que me motiva a vencer os obstáculos. Com meu estudo desorganizado, acabei tendo o diagnóstico de distonia focal, ou seja, contrações involuntárias nas horas em que tocava o instrumento. Não conseguia tocar nem um 'Parabéns a você'", esclarece.
Mestre da FEA
No processo de lidar com o distúrbio, Pablo enfrentou outros desafios. "Foi complicado, porque até entender o problema e como as coisas foram piorando, acabei me envolvendo com as drogas. Dos 21 anos até os 28, fiquei muito envolvido com o vício, coisa que deixei de lado há sete anos, graças a Deus."
Em 2018, Pablo foi estudar na Fundação de Educação Artística (FEA) e lá conheceu o professor Rubner de Abreu.
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"Falei com ele que precisava de ajuda. Rubner indicou o meu mestre, Ilan Sebastian. Foi o cara que revolucionou e mudou a minha vida, me ensinando várias técnicas, principalmente a de Alexander, na qual me apoio até hoje e estudo meu corpo diariamente. Foi isso que melhorou minha maneira de tocar cavaquinho, de compreender meu corpo e ver quais são as possibilidades dele. Agora, quando a mão trava, consigo entender de onde é. Quando você entende as suas relações corporais, fica mais fácil."
“Amanhecer”, conforme diz Pablo, surgiu desses novos encontros. “Compus a faixa-título na Praça do Papa em um período muito rebelde. Tirando o arranjo que fiz para “As rosas não falam”, do Cartola, o ‘Silêncio do timbre inesperado’, o restante foi composto somente com dois dedos. Na época, eu fazia uma música a cada quatro meses. O que entendo hoje desse processo é que quero chegar a um lugar muito alto com a música. Um lugar no qual as pessoas possam me observar. Quero tocar principalmente as crianças."
Pablo Dias lembra que compor é estar a par de seu tempo. "A cantora norte-americana Nina Simone sempre dizia isso. O artista precisa estar pronto para o seu tempo. ‘Amanhecer’ chega com essa perspectiva do novo, assim de 360 graus do que estava ao meu redor. É um disco que a pessoa ouvirá direto, da primeira à última faixa”, acredita.
“É uma onda que a gente chama de brazuka. Uma onda experimental brasileira, não chega a ser jazz brasileiro, porque o disco não está voltado para o improviso. Mas está voltado para outros improvisos. Então, posso chamá-lo também de jazz brasileiro, onda brazuka ou onda experimental", conclui.
“AMANHECER”
Show de Pablo Dias. Nesta quarta (4/9), às 19h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315, Centro). Ingressos: R$ 10 (inteira), à venda pelo Eventim ou na bilheteria local. Em 15 de setembro, Pablo se apresentará às 15h, no Parque Municipal Lagoa do Nado (Rua Hermenegildo de Barros, 904, Itapoã), com entrada franca.