Beetlejuice (Michael Keaton) agora está menos mulherengo, às voltas com a ex-esposa e mais adequado à era do politicamente correto -  (crédito: Warner Bros./divulgação)

Beetlejuice (Michael Keaton) agora está menos mulherengo, às voltas com a ex-esposa e mais adequado à era do politicamente correto

crédito: Warner Bros./divulgação

 

 


Beetlejuice está de volta. Já se passaram 36 anos desde que o “bioexorcista” vivido por Michael Keaton em “Os fantasmas se divertem”, de Tim Burton, foi engolido pelo Verme da Areia e teve de enfrentar a complexa burocracia do pós-morte para regulamentar seu ofício dentro das leis do Além.

 

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Na continuação “Os fantasmas ainda se divertem – Beetlejuice Beetlejuice”, também dirigida por Burton, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (5/9), Beetlejuice é um profissional com certo prestígio. Não passa mais os dias enterrado na sepultura da maquete de Winter River no sótão do casarão mal-assombrado dos Deetz.

 

 

 

Em sua rotina pacata no escritório espaçoso cheio de funcionários, o protagonista remói a dor de não ter consumado o matrimônio com Lydia.

 


“Sinceramente, nunca entendi por que o filme fez tanto sucesso”, disse Tim Burton em conversa com jornalistas durante o Festival de Veneza, na última quarta-feira (28/8). A continuação da comédia de 1988 foi exibida na abertura do evento italiano, em sessão fora da competição.

 


Non-sense cult

 

O diretor pode até não gostar do longa que lhe abriu o caminho para produzir filmes com estética pouco convencional. Fato é que Beetlejuice ganhou status de cult devido à abordagem nonsense e bem-humorada sobre a morte, explorando aspectos típicos do expressionismo alemão.

 


“Os fantasmas ainda se divertem” mantém essa estética. Tim Burton recorre aos mesmos efeitos da década de 1980 – condição imposta por Keaton para voltar a interpretar o fantasma – sem se valer das imagens geradas por computador. Tudo se dá à moda antiga, com fantoches, quilos de maquiagem e cabos de aço içando atores nas cenas de levitação.

 

 

 


Na trama, o “bioexorcista” Beetlejuice vê a rotina virar de ponta-cabeça quando sua ex-mulher Dolores (Monica Bellucci), perversa sugadora de almas, foge da prisão onde ficou por 600 anos.

 


No mundo dos vivos, Lydia Deetz (novamente interpretada por Winona Ryder), estrela de TV com seu programa de caça-fantasmas, vive em conflito com a filha Astrid (Jenna Ortega). A jovem acredita que a paranormalidade da mãe é uma farsa e, para piorar, sofre bullying na escola por causa do programa apresentado por Lydia.

 

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Astrid conhece um rapaz atraente (Arthur Conti), que demonstra interesse genuíno por ela. Algo inesperado acontece e a garota vai parar no mundo dos mortos, correndo o risco de ficar lá para sempre. Desesperada para salvar a filha, Lydia pede ajuda a Beetlejuice, prometendo se casar com ele.

 


Em meio a esse imbróglio, as duas tramas se cruzam e absurdos são colocados em cena por Burton. Willem Dafoe surge (sem parte do crânio) como o ator que, em vida, interpretou James Bond. Ele acredita que isso o credencia a ser detetive no mundo dos mortos.

 


Justin Theroux é o ex-marido de Lydia e pai de Astrid, morto durante excursão ambientalista na Bacia Amazônica. Tem o corpo coberto por peixinhos que consomem sua pele sem parar. Danny DeVito é o faxineiro fantasma insólito, cuja pele verde-musgo expele uma espécie de gordura peculiar.

 

 

Jenna Ortega em cena do filme Os fantasmas ainda se divertem

Antenada aos tempos de hoje, Astrid (Jenna Ortega) defende o meio ambiente e ironiza jovens que seguem o padrão feminino imposto pelo machismo

Warner Bros./divulgação

 

 

Catherine O’Hara volta ao universo de Beetlejuice como a afetada Delia Deetz, artista sem talento. Em uma cena divertida e completamente absurda, a viúva transforma o próprio luto em performance pós-moderna, com direito a cobras zanzando pela sepultura do falecido. No início do filme, ficamos sabendo que Charles, marido dela, morreu devorado por um tubarão.

 

Menos afoito

 


Beetlejuice é o mais comedido da turma, se é que podemos considerá-lo assim. Seu comportamento passa longe daquele de três décadas atrás, quando bolinava mulheres sem consentimento, forçava beijos e frequentava bordéis.

 


Atualmente, apostar nesse tipo de conduta soa anacrônico. Por isso, Burton retrata um fantasma muito menos mulherengo, com excentricidades concentradas mais em transmutações do que no comportamento politicamente incorreto.

 


Tim Burton incorpora sutilmente os discursos ambiental e feminista, refletindo preocupações contemporâneas. Astrid, por exemplo, demonstra inteligência notável. Herda do pai a preocupação com questões ambientais e se inspira em personalidades como Marie Curie.

 


Com humor cortante, a jovem responde à colega de escola que personifica o padrão “bela, recatada e do lar”, após ser alvo de bullying: “Quero ver quem estará rindo quando você tiver três filhos e dois divórcios”.

 


“Os fantasmas ainda se divertem” transita habilmente entre o absurdo e a boa diversão. É mais um mergulho de Burton no mundo dos mortos, mas, desta vez, sem deixar de lado questões caras ao mundo dos vivos.

 


“OS FANTASMAS AINDA SE DIVERTEM: BEETLEJUICE BEETLEJUICE”


EUA, 2024, 104min. De Tim Burton, com Michael Keaton, Winona Ryder, Jenna Ortega e Monica Bellucci. Em cartaz em cinemas dos shoppings BH, Big, Boulevard, Cidade, Contagem, Del Rey, Diamond, Estação, Itaú, Minas, Monte Carmo, Norte, Pátio, Ponteio e Via, além de salas do UNA Cine Belas Artes e do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Classificação: 14 anos.