Os artistas baianos estrearam o show no mês passado, no Rio de Janeiro; a capital mineira é a segunda cidade a receber a apresentação
 -  (crédito: Victor Ronccally/Divulgação)

Maria Bethânia e Caetano Veloso dividem o palco em show em que cantam os maiores sucessos de suas carreiras

crédito: Victor Ronccally/Divulgação


No livro “Verdade tropical” (Companhia das Letras, 1997), Caetano Veloso conta que tinha 4 anos quando escolheu o nome da irmã caçula inspirado em uma valsa do pernambucano Capiba, que começava com os versos: “Maria Bethânia, tu és para mim / a senhora de engenho”.

 


Ligados por uma profunda sensibilidade artística, os dois faziam tudo juntos: iam ao cinema, ao teatro, a shows e frequentavam a mesma roda de amigos quando se mudaram de Santo Amaro para Salvador. Caetano foi cursar o então chamado "clássico", e Bethânia foi fazer o ginásio.

 

 


“(Meu pai) Admitia que ela saísse à noite, desde que fosse sempre comigo e que eu fechasse com ele um compromisso de responsabilidade por ela”, escreveu o artista baiano.

 


No início da carreira de Bethânia, Caetano atuava como empresário e produtor da irmã, sempre nos bastidores. Até então, eles haviam dividido palco uma única vez, em 1965, no Teatro Vila Velha de Salvador, em um evento que também contava com shows de Gilberto Gil, Tom Zé e Gal Costa.

 


“Golpe de misericórdia”


Bethânia ganhou projeção nacional primeiro. E, no final da década de 1960, fez um pedido explícito a Caetano para que ele nunca mais opinasse sobre como ela deveria orientar seu trabalho ou sua vida pessoal. “Esse pedido representava o golpe de misericórdia na responsabilidade sobre ela que meu pai tinha me outorgado – e representou para mim um considerável alívio”, revelou o cantor e compositor.

 


Desde então, os dois se juntaram a Gilberto Gil e Gal Costa para realizar a turnê "Doces Bárbaros", em 1976, que deu origem ao disco homônimo do grupo lançado no mesmo ano; e fizeram uma turnê como dupla, em 1978, que também deu origem a um disco ao vivo. Depois disso, nunca mais pegaram a estrada para se apresentar como duo – chegaram a fazer participações em discos um do outro e até cantaram juntos em um show beneficente, mas não realizaram mais turnês conjuntas.

 


Por isso, o anúncio de “Caetano & Bethânia”, que chega a Belo Horizonte neste sábado (7/9) com show no Mineirão, causou impacto (os últimos ingressos para o camarote ainda estão à venda). A dupla começou a turnê no Rio de Janeiro, com quatro apresentações no início de agosto. Belo Horizonte é a segunda cidade na rota. Depois, a dupla segue para Curitiba, Belém, Porto Alegre, Recife, Brasília, Fortaleza, Salvador e São Paulo, onde encerra a turnê com shows nos dias 14, 15 e 18 de dezembro.

 


Iguais, mas diferentes


Caetano e Bethânia são, paradoxalmente, muito iguais e diferentes. Ele construiu a carreira engajado na construção de um ideário de música efetivamente popular brasileira. Ela preferiu sustentar a dramaticidade e a teatralidade em interpretações de músicas que fugiam da ideia que os tropicalistas tinham de MPB.

 


Foi Bethânia, inclusive, que disse a Caetano, em meados da década de 1960, que ele precisava dar mais atenção a Roberto Carlos. Isso em uma época de grande rivalidade entre o pessoal da Tropicália e a “turma do iê-iê-iê”, de Roberto Carlos e companhia.

 


Como dois e dois

 


O conflito não era do interesse de Bethânia, contudo. Ela mantinha uma postura apaziguadora e conseguia enxergar o valor artístico nos dois lados. A intérprete gravou em 1993 o disco “As canções que você fez para mim”, como tributo a Roberto e Erasmo Carlos.

 


A essa altura, a rivalidade já havia sido superada. Roberto e Erasmo compuseram “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos” (1971) para Caetano, que estava no exílio. Em retribuição, o baiano compôs “Como dois e dois”, gravada por Roberto em 1971.

 


O tropicalista se juntou ao principal representante do “iê-iê-iê” para gravar “Roberto Carlos e Caetano Veloso e a música de Tom Jobim”, em 2008. E, ultimamente, aproveitou as raras entrevistas concedidas para dizer que as músicas do Rei têm uma contundência que a MPB esteve longe de alcançar. Em determinada ocasião, chegou até a considerar Roberto como um “psicólogo oficial do Brasil”.

 


“Caetano & Bethânia” promete ser uma síntese desses dois lados de um momento seminal para a história da música brasileira: um repertório que mescla hits da Tropicália com canções completamente fora do espectro tropicalista que pavimentaram a carreira de uma das maiores intérpretes da música brasileira. Clássicos como “Alegria, alegria” e “As canções que você fez pra mim” serão colocadas lado a lado, ressaltando o vigor do cancioneiro nacional.

 

CAETANO & BETHÂNIA

Neste sábado (7/9), às 21h, no Mineirão (Av. Antônio Abrahão Caram, 1.001, São José). Abertura dos portões: 17h. Últimos ingressos disponíveis somente para o camarote à venda por R$ 780 (inteira), no site ingresse.com. Meia-entrada na forma da lei.



ATENÇÃO AO CALOR

A temperatura máxima prevista para Belo Horizonte neste sábado (7/9) é de 31ºC, de acordo com o Inmet, que aponta umidade mínima de 30% nesse dia. Não há previsão de chuva. A recomendação de uso de roupas leves e hidratação adequada, válida desde o início da onda de calor, segue em vigor.