Maria Bethânia e Caetano Veloso dividiram o palco e também tiveram momentos solo no show em BH -  (crédito: TÚLIO SANTOS/EM/D.APRESS)

Maria Bethânia e Caetano Veloso dividiram o palco e também tiveram momentos solo no show em BH

crédito: TÚLIO SANTOS/EM/D.APRESS

 


“Gente é pra brilhar”, os irmãos Veloso entoaram para um Mineirão lotado logo na primeira parte do show. Na verdade, “muitas gentes” brilharam na estreia em estádio da turnê “Caetano & Bethânia”, na noite do último sábado (7/9). No palco, 16 pessoas; na plateia, 54 mil.

 


Ao repassar 60 anos de carreira, Caetano Veloso, de 82 anos e Maria Bethânia, de 78, relembraram também uma boa parte da história da música brasileira e do próprio Brasil, de 1964 para cá.

 


O repertório, com 40 canções, foi o mesmo da estreia, em agosto, na Farmasi Arena, no Rio de Janeiro. Não houve espaço para improviso ou muita interação com o público. Tampouco havia necessidade – as canções, e a presença de Bethânia e Caetano, em sua primeira turnê juntos em 46 anos, falaram mais alto.

 


Os irmãos se complementam em cena. Bethânia vai se soltando aos poucos. Na metade final, se rende completamente, com aquela voz e interpretação cênica que dominam o estádio. Caetano é mais pontual, mas sua delicadeza é sempre sua força.

 


A parte inicial é como uma cartilha das origens e referências, a partir de “Alegria, alegria” (1967), canção que levou Caetano a todo o Brasil. “Os mais doces bárbaros”, a segunda da noite, traria a primeira referência a Gilberto Gil e Gal Costa. O Recôncavo com a família de Dona Canô, a religiosidade e o samba de roda, também foram citados, com “Oração ao tempo”, “Samba de dois rios”, “A donzela se casou”.

 


A presença de Gal na interpretação de “Não identificado” era latente, com as imagens do “espaço sideral” se fundindo com a de Caetano e Bethânia. Mas a devida homenagem viria mais tarde. Gil surgiu pouco depois, em uma fotografia ao lado de Caetano no carnaval, para ilustrar “Filhos de Gandhi”.

 

 

Público acompanha show de Caetano Veloso e Maria Bethânia no Mineirão

Um público de 54 mil pessoas compareceu ao estádio para ver a única apresentação da turnê na capital mineira

TÚLIO SANTOS/EM/D.APRESS

 

Sete telões

Com som impecável (ao menos para a plateia na pista), o palco se dividiu em sete telões verticais, que dimensionam o que se passa na cena. A banda (11 instrumentistas e três backing vocals) teve dois diretores musicais: o contrabaixista Jorge Helder do lado de Bethânia e o guitarrista Lucas Nunes do lado de Caetano.

 


Ainda no terço inicial, o grande destaque foi “Um índio”, com fotografias em preto e branco de diferentes povos dominando a cena. Em “Tropicália”, Bethânia ficou na lateral do palco assistindo à performance do irmão. Ele fez o mesmo para vê-la em “Marginália II”.

 


Até que veio a parte solo. Caetano interpretou as canções das multidões, começando com “Sozinho” (Peninha), acompanhada do início ao fim pela plateia. Gravada em 1998 (“Prenda minha”), lhe garantiu o primeiro disco com 1 milhão de cópias vendidas. Vieram “O Leãozinho”, “Você não me ensinou a te esquecer” (Fernando Mendes), “Você é linda”. Neste momento, ele citou tanto Peninha quanto Mendes para apresentar a música que viria a seguir.

 

Maria Bethânia sorri durante o show da turnê "Caetano e Bethânia" no Mineirão

Maria Bethânia sorri durante o show da turnê "Caetano e Bethânia" no Mineirão

Tulio Santos/EM/D.A.PRESS


Era “Deus cuida de mim”, do músico e pastor Kleber Lucas, fundador da Soul Igreja Batista, no Rio. Caetano justificou a escolha porque “representa um interesse que tenho pelo crescimento imenso das igrejas evangélicas no Brasil”. A recepção foi morna, um contraponto para o retorno de Bethânia ao palco.

 


Sozinha, deu início a um bloco de grandes sucessos em sua voz, como “Brincar de viver”, “Explode coração”, “As canções que você fez pra mim” e “Negue”.

 


Juntos novamente, os irmãos seguiram com sua ode ao Rio, por meio da Estação Primeira de Mangueira, a escola que que teve Bethânia como enredo em 2016 (saiu campeã) e foi homenageada por ela (no álbum “Mangueira – A menina dos meus olhos”). As duas cidades dos irmãos se encontraram a seguir, em “Onde o Rio é mais baiano”.

 

Público lota o Mineirão em  show de Maria Bethânia e Caetano Veloso, no feriado de 7 de setembro

Público lota o Mineirão em show de Maria Bethânia e Caetano Veloso, no feriado de 7 de setembro

Tulio Santos/EM/D.A.PRESS


Na sequência, a emoção correu solta. “Gal Costa para sempre”, afirmou Caetano, falando tanto da relação dela com a bossa nova quanto com o rock. Em “Baby”, imagens de Gal bastante jovem encheram os telões. A fase mais madura de Gal apareceria logo em seguida, com “Vaca profana”, que virou quase um carnaval na plateia.

 

Bethânia puxa refrão


“Gita” (Raul Seixas), que Bethânia já cantou em shows, surgiu na sequência, que marcou a fase final da apresentação. “O quereres”, um marco na poética de Caetano, veio junto com “Fé”, o hit de Iza. Bonito ver Bethânia liderando o público no refrão “Fé pra quem não foge à luta/Fé pra quem não perde o foco/Fé pra enfrentar esses filha da puta”.

 


No encerramento, como que fechando sua própria história, eles voltam ao Recôncavo com “Reconvexo” e “Tudo de novo”. “Minha mãe, meu pai, meu povo/Eis aqui tudo de novo”, cantam juntos, antes de saírem do palco.

 


Retornam para os cumprimentos com “Odara”, numa versão estendida, cheia de suingue, em que a banda ganha destaque. Vão embora depois de duas horas de show, momento em que deixaram o mundo ficar mais odara.