Na final, em Boa Esperança, no sábado, Luiz Salgado levou o prêmio principal, de R$ 22 mil  -  (crédito: Fenac/Divulgação)

Na final, em Boa Esperança, no sábado, Luiz Salgado levou o prêmio principal, de R$ 22 mil 

crédito: Fenac/Divulgação


Em um festival de música marcado pela tradição – são 54 anos de história –, nada mais justo que a canção vencedora seja calcada na tradição e no regionalismo. Pois foi isso que ocorreu na edição 2024 do Festival nacional da Canção (Fenac), encerrado no sábado último (7/9), em Boa Esperança, com a vitória do cantador mineiro Luiz Salgado, de 43 anos. Ele levou o Troféu Lamartine Babo pela composição “Zumbi dos Palmares”.

 


Influenciado pelas festas de moçambique dedicadas à Nossa Senhora do Rosário e aos santos pretos (São Benedito e Santa Efigênia), Salgado passeia pela louvação ao sacrossanto e à contemplação da natureza na cadência ternária típica do estilo moçambicano. Com a vitória no festival, o cantador recebeu, além do Troféu Lamartine Babo, uma prêmio de R$ 22 mil.

 


“Vou pagar os músicos que me acompanharam (Antônio Salgado, na bateria, e Dedé Aires na percussão). E, com o restante, vou pagar umas contas que eu tenho aqui”, brinca ele.

 


Parte dessas contas vem de uma viagem que Salgado fez recentemente ao Canadá para levar a folia de reis e o congado a um festival local. “Sinto que estamos tendo um espaço maior nos últimos anos. A música regional foi a minha escola. Durante muito tempo ela foi marginalizada, sendo referida como folclórica de um jeito pejorativo, mas hoje isso vem mudando. As pessoas estão dando mais atenção a ela”, afirma.

 

 

Ariel Moura canta a música "Incantu" no Fenac

Ariel Moura cantou "Incantu", de Enrico di Miceli e Joãosinho, que ficou em segundo lugar

Fenac/Divulgação

 

Cantos de devoção

Parte desse movimento de valorização da cultura regional citada por Salgado vem da academia e tem como um dos principais idealizadores o escritor e professor do curso de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Edimilson de Almeida Pereira.

 

Desde o início da década de 1980, ele estuda os cantos dos devotos em celebrações como folia de reis, moçambique e congado, no intuito de dar aos cantadores brasileiros a mesma relevância dos tradicionais trovadores medievais, songman australianos e griots africanos.

 

Visibilidade


“Isso é muito bom para a gente. Dá visibilidade e incentiva a nova geração a manter a tradição. Acho muito legal ver adolescentes com brinco e corte de cabelo moderno participando nos festejos, fazendo parte de tudo aquilo”, comenta Salgado.

 


A segunda colocada desta edição do Fenac foi a canção “Incantu”, dos amapaenses Enrico Di Miceli e Joãozinho, interpretada pela cantora Ariel Moura. Assim como “Zumbi dos Palmares”, “Incantu” tem como base a ancestralidade. No entanto, diferentemente da canção vencedora, a segunda colocada aborda a ancestralidade pela perspectiva dos povos indígenas, trazendo na letra um pajé que conversa com o luar em guarani.

 

Congado


Em terceiro lugar ficou “Retumbante”, música composta e interpretada pelo cearense Edinho Vilas Boas e que também conta com elementos do congado, principalmente na linha dos instrumentos de percussão.

 


Foram anunciados ainda no sábado os candidatos que ficaram colocados entre a quarta e a décima posições. Todos eles receberam um prêmio em dinheiro. “Optamos por dividir os recursos dessa forma porque, infelizmente, muitos artistas talentosos de todo o Brasil produzem músicas ricas sem ter apoio financeiro adequado”, disse o idealizador e fundador do Fenac, Gleizer Naves, ao Estado de Minas.

 


Segundo e terceiro colocados receberam, respectivamente, R$ 17 mil e R$ 12 mil. O quarto e o quinto ficaram com R$ 7 mil e R$ 5 mil. Os candidatos que ficarem entre a sexta e a décima colocações levaram R$ 3,3 mil cada um.

 

A banda Biquíni no palco

A banda Biquíni foi a convidada para fazer o show da noite de encerramento do festival 

Fenac/Divulgação

 

Na modalidade virtual – as canções foram enviadas anteriormente e reproduzidas na final do evento –, o prêmio ficou com "Mulher de batalha", de Janaína Gentil. Ela recebe o Troféu Lamartine Babo e mais R$ 7 mil.

 


A noite da premiação terminou com shows de Dani Black e Biquíni. Esta edição do Fenac começou em Tiradentes, no fim de semana de 26 e 27 de julho. Em seguida, foram realizadas eliminatórias em Perdões, Elói Mendes, Três Pontas, Coqueiral e Nepomuceno.