Dirigido por Jonathan Demme,

Dirigido por Jonathan Demme, "Stop making sense" é o registro de três noites de shows do Talking Heads, em Los Angeles, em dezembro de 1983

crédito: o2play/divulgação

 

O passado é a grande moda do momento nos cinemas brasileiros. Um batalhão de filmes dos anos 1980, 1990 e 2000 invadiu as salas do país nos últimos meses, competindo em pé de igualdade com as estreias de cada nova semana.

 


As reprises variam, de séries como "Harry Potter" e "Star Wars" a hits nacionais como "A hora da estrela" e "Estômago". Com boas médias de público, elas arrastam multidões em um momento de retomada das bilheterias nacionais.

 


"Stop making sense", famoso documentário de 1984 da banda Talking Heads, chegou ao circuito na quinta-feira passada (5/9), com nova remasterização. A distribuidora O2 Play aposta alto na reprise.
Boa parte da crença da empresa se deve ao sucesso do filme no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, onde ganhou exibições especiais em março. O público lotou tão rápido as poucas sessões que o museu abriu novos horários, esgotados em uma hora.

 


O programa do IMS surpreendeu Igor Kupstas, diretor da O2 Play, que negociava a distribuição de "Stop making sense" na época. "Quando vi que iam passar o filme, achei por um segundo que outra pessoa o havia comprado", afirma o executivo.

 


Ele diz que a empresa tinha interesse na versão restaurada do longa desde a reprise lá fora, ocorrida há um ano, mas a negociação do título demorou a sair.

 


Curador de cinema do IMS, o diretor Kleber Mendonça Filho foi quem teve a ideia de trazer "Stop making sense" ao museu. Ele afirma que alinhou o seu desejo de exibir o filme com a programação do cinema, que abriu espaço a documentários de música – como os filmes "Woodstock" e "Prince: Sign 'o' the times".

 


Impactante

"Cada programação é um mistério, mas eu esperava", diz o curador sobre o sucesso das sessões. "Não só o filme é sensacional, mas as salas estavam à altura da qualidade de som. Foi impactante, do balacobaco."

 


O mercado de cinema compartilha do entusiasmo da O2 Play, vendo boa procura nas reprises. Caso emblemático é o de "Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban", que comemorou os 20 anos de lançamento com sessões em 4 de junho. Segundo a Warner Bros., mais de 500 mil ingressos foram vendidos no dia, lotando salas ao redor do país.

 


Sucesso parecido ocorreu com "Coraline e o mundo secreto", que voltou aos cinemas no mês passado para celebrar os 15 anos da estreia. O Comscore afirma que a animação da Laika foi o quarto filme mais visto naquele final de semana no Brasil, com R$ 2,85 milhões arrecadados.

 

As reexibições também funcionam com obras nacionais. "A hora da estrela", adaptação de 1985 do livro de Clarice Lispector, voltou ao circuito em maio. Segundo a distribuidora Vitrine Filmes, mais de 20 mil espectadores assistiram ao filme nos cinemas nos últimos três meses.

 


A ideia do relançamento pode ser a moda atual no Brasil, mas tem pé na história do cinema. Autor do livro "Hollywood e o mercado de cinema no Brasil", Pedro Butcher diz que os estúdios trabalham com relançamentos desde a sua criação. Eles usaram as reprises primeiro para impulsionar novos artistas e, depois, para recuperar o prejuízo de filmes nem tão bem sucedidos.

 


Para o pesquisador, a popularidade atual dos relançamentos envolve a crise do streaming, que virou problema ao espectador. A multiplicação de serviços como a Netflix frustra o assinante, que tem contas demais e não sabe onde assistir aos filmes.

 


"O mercado audiovisual está desorganizado, em especial no streaming", diz Butcher. "Para uma parte das pessoas, a experiência da sala volta a ser atrativa. A nostalgia da experiência coletiva se liga à nostalgia das memórias com as obras, além da vontade de ver coisas diferentes das novidades desses canais."

 


A remasterização dos filmes em 4K é outro fator importante na disputa silenciosa da tela do cinema com a TV de casa. A tecnologia permite imagens muito mais nítidas, que melhoram a experiência da sessão, e por isso virou pilar na divulgação dos relançamentos, incluindo "Stop making sense".

 


"Existe um oceano de filmes e shows relevantes que, se apresentados de forma adequada nas imagens, nos efeitos e nos sons, merecem a sala de cinema. Assim, eles acham a sua audiência", diz Igor Kupstas.

 


O diretor da O2 Play confirma que a empresa apostará em novos relançamentos. A próxima reprise da distribuidora é "Edukators", sucesso alemão de 2004 que está para ser agendado no calendário dos cinemas.

“STOP MAKING SENSE”
(EUA, 1984, 88 min.) Direção: Jonathan Demme. Documentário. Classificação indicativa: 12 anos.
Em cartaz no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Sala 1, 21h).