Barbara Blum
O mundo das divas pop é uma selva. É praxe que fãs usem as plataformas digitais para dizer que uma cantora é melhor do que a outra com base nos números de seus hits – como um álbum estreou na Billboard, quantas visualizações teve o novo clipe e por aí vai. É praxe, também, que as divas sejam alvo de ofensas misóginas.
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A fama é pior para as mulheres do que para os homens, defende a jornalista britânica Sarah Ditum no livro “Toxic: Mulheres, fama e a misoginia nos anos 2000”, publicado no Brasil pela BestSeller. “As tecnologias específicas daquele momento eram usadas para invadir a privacidade das mulheres de formas bem mais brutais do que no caso dos homens”, diz a autora.
Um exemplo é Britney Spears, que viveu a derrocada de sua saúde mental amplamente registrada por paparazzi em 2007. Fotos da estrela de cabeça raspada agredindo fotógrafos com um guarda-chuva são memes até hoje.
Em 2008, a cantora foi posta, contra a vontade, sob tutela do pai, que controlava seus bens e sua carreira. A situação dela se tornou pública após denúncias de abuso na mídia, e o movimento de fãs contra a tutela tomou as redes sociais em 2020. Sarah Ditum tirou disso a ideia de “Toxic”.
“Percebi que havia muito a ser dito sobre aquele período e o que ele fez com as mulheres que viviam sob os holofotes, mas também com as que consumiam esses conteúdos e absorviam esse tipo de mensagem”, afirma.
A autora argumenta que a excepcionalidade desse período – que gerou histórias tristes como a de Britney e a de Amy Winehouse, morta aos 27 anos – veio do fato de a internet substituir a mídia tradicional de fofoca, com suas revistas.
A nova tecnologia, diz Ditum, tem muito menos escrúpulos em compartilhar fotos constrangedoras e vídeos íntimos, caso das “sex tapes” de famosas como Paris Hilton e Kim Kardashian.
“Até aí, havia alguma possibilidade de controlar a própria imagem, era um ecossistema estabelecido com a MTV e os tabloides. A internet e os sites de fofoca mudaram isso por completo. Agora é impossível controlar um boato ou impedir que uma imagem se espalhe.”
Algumas tentaram. Beyoncé buscou remover da internet fotos em que fazia caretas durante sua apresentação no intervalo do Super Bowl de 2013. O episódio é lembrado até hoje em fóruns como Reddit. As fotos continuam acessíveis.
Antes disso, Janet Jackson, que tem um capítulo dedicado a ela em “Toxic”, foi vítima de escândalo no Super Bowl de 2004. No meio do show, Justin Timberlake expôs o seio direito de Jackson durante meio segundo, mas as repercussões foram gigantescas.
A MTV teve de se retratar publicamente e esclarecer que a exposição não foi planejada.
“A internet transformou isso em uma história gigantesca porque a imagem poderia ser infinitamente replicada”, diz Ditum. “A misoginia sempre existiu, mas, de repente, havia o ambiente muito hostil para as celebridades.”
Algumas aprenderam a jogar o jogo, caso de Kim Kardashian. Ditum lembra um dos episódios do reality show da família, “Keeping up with the Kardashians”, em que Kim perde um brinco de diamantes e começa a chorar. Sua irmã, Khloe, responde: “Kim, têm pessoas morrendo”. Aquele trecho se tornou meme instantaneamente.
Ditum diz que as Kardashians sempre souberam usar a relação de amor e ódio cultivada pelo público. “Em um contexto de crise econômica, você tem a celebração do consumismo. Enquanto as pessoas estão inseguras e batalhando, elas querem ver pessoas ricas curtindo sua riqueza. Mas também querem ver essas pessoas sendo punidas, ridicularizadas e provocadas.”
Instagram
As mídias sociais mudaram o cenário. Agora, diz Ditum, o Instagram dá mais controle às celebridades. “Elas não precisam mais avisar os paparazzi que estarão em determinado lugar, não precisam mais ser amigas do (blogueiro) Perez Hilton. Agora é só postar as próprias selfies.”
Isso abriu caminho para os influenciadores, pessoas famosas por serem famosas. Ditum não vê tanta vantagem na mudança. “Não acho que tenham vida mais confortável que uma celebridade na virada dos anos 1990. Eles têm controle do que é publicado, mas precisam criar conteúdo em fluxo constante. Isso é exaustivo”, diz.
“TOXIC: MULHERES, FAMA E MISOGINIA NOS ANOS 2000”
• Livro de Sarah Ditum
• 350 págs.
• Editora BestSeller
• R$ 69,90
• R$ 44,90 (e-book)