A fusão de figuras humanas, animalescas e mitológicas, criadas por materiais diversos pelo artista plástico e arte-educador belo-horizontino Rafael Fernandes Alves, explora a relação entre corpo físico e identidade.
Trinta e sete obras compõem a exposição “O corpo que tenho”, com abertura nesta quinta-feira (12/9), às 19h, na Galeria de Arte BDMG Cultural.
Conforme Alves, seu próprio corpo é utilizado como ponto de referência para desenhos, servindo de modelo para aquilo que ele expressa por meio da arte. A fisicalidade é encarada pelo artista no sentido simbólico, uma vez que o corpo é o recurso que temos como sujeitos para existir.
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“Como as obras são idealizadas e construídas a partir da minha relação com o meu corpo, utilizo com frequência espelhos e ensaios fotográficos para fazer meus desenhos”, explica Rafael.
“Não vejo a prática como autorretrato, mas como trabalho de um ator que empresta o próprio corpo para interpretar outros personagens”, comenta.
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Não apenas o corpo humano é retratado nas obras que ficarão expostas gratuitamente até 20 de outubro na galeria do BDMG Cultural. Animais, elementos de corpos celestes, personagens mitológicos e histórias bíblicas ganham releituras e muitas vezes se fundem em seres híbridos.
A influência bíblica é expressa, por exemplo, em “Anjo” e “Besta”. A primeira busca representar a criatura alada formada por partes de corpos humanos, sendo as asas mãos gigantes que saem da cabeça de um corpo diminuto. Já "Besta" faz referência à fera de sete cabeças que surge no Apocalipse de João.
“No lugar de trazer uma besta com sete cabeças que saem do tronco, desenhei uma criatura de quatro patas com cabeças humanas espalhadas em partes do corpo”, explica.
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A cultura greco-romana também é explorada por Rafael. No mito de Io e Argos, a bela Io atrai a atenção de Zeus e é transformada por ele em novilha quando Hera, sua esposa, desconfia do caso extraconjugal do marido e desce do Monte Olimpo. Já acostumada com os truques de Zeus, Hera pede que a novilha lhe seja entregue como presente e ordena que o gigante Argos a vigie para sempre.
Argos Panoptes, criatura com 100 olhos espalhados pelo corpo, podia ver em todas as direções e era frequentemente requisitado pelos deuses para atuar como vigia.
Na obra “A vigilância de Argos”, o gigante, feito com pastel seco e grafite, é representado com pele azul e olhos vermelhos.
Vivências
Materiais como nanquim, guache, tinta acrílica e caneta esferográfica também foram usados na exposição.
“Coloco muito das minhas vivências pessoais nas obras, desde acontecimentos do dia a dia até traumas, amores e todas as experiências que nós como seres humanos estamos sujeitos a passar. Mas não deixo essa característica explícita no meu trabalho”, diz Rafael Alves.
“Às vezes, dou dicas a partir do título da obra, mas nunca de maneira direita. É interessante deixar sentidos abertos para a interpretação do público, que é sempre diversa”, conclui o artista.
“O CORPO QUE TENHO”
Exposição de Rafael Fernandes Alves. Abertura nesta quinta (12/9), às 19h, na Galeria de Arte BDMG Cultural (Rua Bernardo Guimarães, 1.600 – Lourdes). Até 20 de outubro. Entrada gratuita.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro