Vencedor do Prêmio Luiz Melodia, Vinijoe se propõe a fazer um rap samba diferente em BH -  (crédito: Vinijoe/divulgação)

Vencedor do Prêmio Luiz Melodia, Vinijoe se propõe a fazer um rap samba diferente em BH

crédito: Vinijoe/divulgação

 

O Aglomerado da Serra, vulgo “Serrão”, deu régua e compasso a muita gente boa. Lá do alto da Regional Centro-Sul de BH vieram o rap de Djonga e Douglas Din, o trap de Sidoka, o funk de WS da Igrejinha, o passinho de Negona Dance, as fotos de Rafael Freire, os retratistas do morro João Mendes e Afonso Pimenta, a usina criativa fomentada pelo empreendedor Centro Cultural Lá da Favelinha.

 

“Certeza que vai dar samba”, canta Vinícius Geovane Morais de Oliveira, o Vinijoe, que acaba de lançar o single “Pra somar”. Aos 24 anos – oito de carreira –, este morador do Serrão convida: “Eu canto a voz do povo/ Pega a Rua do Ouro/ Sobe mais um pouco/ Para se divertir”.

 

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O fã de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Djonga e Cartola busca a batida perfeita com seu rap samba, que, segundo ele, é bem diferente do samba rap de Marcelo D2, outra referência para ele.

 



Vinijoe explica que é de outra geração. Ouve trap, jersey, detroit, drill, os badalados subgêneros do hip-hop, além de afrobeat. Leva esses elementos para sua música.

 

“A gente traz coisas do rap clássico, mas usamos mais a melodia e o vocal. Não abdico da lírica do rap, mas o flow é diferente, a forma de falar é diferente”, diz. É o samba em batida hip-hop, explica.

 

 

Vinijoe jura que trap combina com batucada. “Funciona mesmo”, garante, lembrando que “são ritmos da mesma mãe”. O surdo é trocado pelo grave poderoso da bateria TR-808. O prato da bateria dá lugar ao hi-hats do trap, detalha.

 


O mineiro ganhou aval de peso. Em 2023, venceu o Prêmio Luiz Melodia de Canções Afro-Brasileiras, da Fundação Palmares, com “Faixa amarela”. Atualmente, está caprichando na produção desta canção para soltá-la no streaming. Foi a segunda música que escreveu na vida, quando tinha 16 anos.

 

Kdu dos Anjos grava disco e canta o Serrão

 


Vinícius é jovem, mas não chegou agora à batucada. Filho de Moreno, conhecido sambista do Aglomerado da Serra, era levado para as rodas desde pequeno pelo pai. Aos 8, já cantava “Ogum”, de Zeca Pagodinho.

 


Wander Lúcio educou Vinícius e os irmãos ao som de Martinho da Vila, Sombrinha, Cartola, Arlindo Cruz e Vander Lee, entre outros. “Meu pai é Vila Isabel até o osso”, ele diz.

 

Vinijoe cantou no coral da escola, o Centro Educacional Estevão Pinto. Depois, estudou no Barão do Rio Branco. Começou a fazer poesia aos 12, frequentou o Duelo de MCs aos 14, ao lado dos colegas do Barão.

 

Encantou-se pelo slam no Teatro Espanca!, frequentou encontros de slammers na Praça Sete. Aos 16, entrou para a oficina de rap no Lá da Favelinha, onde hoje dá aulas. Adolescente, participou do álbum do coletivo de MCs da Favelinha.

 

Depois, lançou o álbum "De Vinícius para Vinícius", o EP "Numa madrugada" e vários singles, em feats com Sidoka, Douglas Din, Pedrin 31, Vint, MT da Serra, Dogor, entre outros.



O meteoro Djonga



Djonga foi o responsável pela paixão do garoto sambista pelo rap. “Eu era novo, inseguro, sem autoestima. Cresci na realidade dos pretos na favela. Quando vi o Djonga berrando em cima do palco, bem antes de estourar, senti uma força muito grande. Se caísse um meteoro ali, o Djonga continuaria inteiro”, diz Vinijoe. Ele acompanha o rapper desde os tempos do EP “Fechando o corpo”, de 2015.

 

 

 


Moleque ainda, ficou vidrado no coletivo DV Tribo, que projetou nacionalmente FBC, Coyote Beatz, Clara Lima e Hot & Oreia, além do próprio Djonga. Participou como figurante dos clipes “Conversa com uma menina branca” e “Hoje não” do ídolo, abriu show dele no Aglomerado. Não se esquece do abraço que ganhou ao descer do palco. “Foi o Djonga que me pediu pra tirar foto com ele!”, conta.

 

 

Vinijoe durante show no Aglomerado da Serra, o Serrão

Vinijoe durante show no Aglomerado da Serra, o Serrão

Instagram/reprodução

 


Assim como o DV Tribo supreendeu o país com o hip-hop diferente de BH, Vinijoe procura novos caminhos com seu rap samba. Tem várias inéditas prontas, quer testar faixas como singles antes de lançar o álbum cheio. O próximo será “Quando o samba acabar”, com Renegado.

 


Empresariado por Sidoka, destaque mineiro do trap nacional, com produção executiva de Pedro Lafetá, ele mandou o rap samba “Pra somar”  para a internet no último dia 11, com visualizer gravado no Serrão.


O trapper Sidoka e o cantor Vinijoe

O trapper Sidoka empresaria a carreira de Vinijoe

Instagram/@rxdrigonoronha



Quem sai aos seus não degenera, diz o ditado popular. Pois Vinijoe é uma espécie de filho da Favelinha com Martinho da Vila, que tem Sidoka como padrinho e Djonga como inspiração.

 


“Tenho orgulho de fazer parte da cena do Serrão”, diz Vinícius, revelando que aprendeu muito do que sabe no centro cultural coordenado por Kdu dos Anjos. “A Favelinha me criou como artista”, resume.

 

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 Além de compor, ele aprendeu, na Favelinha, a lidar com direitos autorais e estratégias de carreira. Orgulhoso, conta que tem como alunos na oficina de rap uma garota de 18 anos, um pai de família de 40 e um homem trans masculino.

 

Vinijoe tira seu sustento da arte, batalha pela carreira e tem vontade de fazer faculdade de música, quem sabe virar maestro... “É missão de vida”, conclui.