A obra de Pedro Moraleida ganhou espaço permanente de exposição  em BH, na galeria que leva o nome do artista, na Savassi -  (crédito: Acervo Pedro Moraleida/Divulgação)

A obra de Pedro Moraleida ganhou espaço permanente de exposição em BH, na galeria que leva o nome do artista, na Savassi

crédito: Acervo Pedro Moraleida/Divulgação

 

Nova etapa do projeto Pedro Moraleida – 25 anos depois”, que celebra a obra do artista morto precocemente, aos 22 anos, em 1999, o ciclo de debates “Arte hoje: encontros” tem início nesta quarta-feira (18/9), às 19h30, no auditório da Academia Mineira de Letras.

 

O primeiro debate conta com as presenças da crítica de arte e curadora Lisette Lagnado e do artista e professor Gastão Frota, sob a coordenação de Augusto Nunes-Filho, psicanalista e crítico de arte.

 


O ciclo se estende até julho de 2025, com um total de sete mesas compostas com o intuito de discutir o atual estado e o estatuto das artes, bem como suas perspectivas futuras, tendo a obra de Moraleida como esteio. Entre os convidados figuram Paulo Miyada, Jochen Volz, Moacir dos Anjos, Rodrigo Moura, Solange Pessoa, José Alberto Nemer, Júlia Rebouças e Vera Casanova, entre outros.

 


Nunes-Filho atua como coordenador deste primeiro encontro na condição de integrante do “núcleo duro” do Instituto Pedro Moraleida Bernardes (IPMB), ao lado de Antônio Luiz Bernardes e Nilcéa Moraleida, pais do artista. A abertura do Instituto ao público, com a exposição “Moraleida contemporâneo”, no último dia 28, deu a largada no projeto “Pedro Moraleida – 25 anos depois”, que abarca, ainda, diversas outras ações.

 

 

Ele afirma que a escolha dos convidados foi feita pelos três dirigentes do Instituto, orientada pelo desejo de oferecer uma multiplicidade de olhares e de compreensões sobre o cenário das artes no Brasil e no mundo. Os temas de cada encontro são genéricos: o estado, o estatuto, a forma, a inserção ou a extensão da arte, por exemplo.

 


“São motes que se inter-relacionam. A escolha dos debatedores de cada um foi ao acaso – não teve um 'vamos chamar o Paulo Miyada para falar da inserção'. A escolha desses convidados faz uma varredura em pessoas que têm participado mais ativamente de instituições e de curadorias, que têm tido um papel de destaque nesse circuito”, diz, acrescentando que eles não vão se furtar a falar da obra de Moraleida.

 


Segundo o coordenador, a amplitude de abordagens que o ciclo de debates possibilita deriva justamente do pensamento do artista. “Ele tinha uma coisa muito curiosa: ao mesmo tempo que produziu uma obra muito contundente, forte, em vez de afastar, é impressionante como ele agregava, atraía pessoas dos mais diversos setores, idades, formações etc, talvez pelo fato de ser um artista múltiplo. Esse ciclo de debates não deixa de ser um desdobramento disso, do que ele colocava na tela.”, ressalta.

 


Contemporâneo atemporal

Nunes-Filho recorre ao título da exposição em cartaz no IPMB para afirmar a força da presença de Pedro Moraleida. “O contemporâneo, no caso, não está dentro de uma sequência temporal, no sentido daquilo que vem depois da arte moderna; diz respeito, antes, àquele que consegue ler o seu tempo enquanto vive o seu tempo, consegue ver as luzes e as trevas de seu tempo, e a trajetória de Pedro, muito curta, é isso”, afirma.

 


No caso de Moraleida, ler o próprio tempo implicou nadar contra a corrente. “Num momento de hegemonia da arte conceitual, ele teima em desenhar e pintar figurativos”, aponta Nunes-Filho. Esse foi um dos aspectos que deixou Lisette Lagnado “assombrada” a partir do momento em que passou a se aprofundar na obra do artista.

 


Ela destaca a “vitalidade de sua paleta” e a carga intelectual que um artista em plena juventude é capaz de concentrar. A reunião desses fatores torna Pedro, conforme diz, uma espécie de portal que segue transmitindo mensagens revolucionárias. A curadora sublinha, como exemplo, a compreensão dos alicerces de um sistema colonial legitimado pela Igreja, ou as interpelações às formas do patriarcado.


Proposições políticas

“Para mim, qualquer análise iconográfica da obra de Pedro será insuficiente se não levar em consideração suas proposições políticas. Como o poeta francês Antonin Artaud, ele reivindicou a potência de vidas dissidentes, colocando-se contra a suposta neutralidade da arte”, observa. Lisette integrou a curadoria da 11º Bienal de Berlim, que convidou Pedro a participar com uma seleção de pinturas, tanto pelo diálogo de sua obra com o chamado neoexpressionismo alemão quanto pelo tema da exposição, que procurava evidenciar as rachaduras internas de vidas danificadas pela tríade pai, pátria, religião. 

 

“ARTE HOJE: ENCONTRO”
Primeira edição do ciclo de debates, com Lisette Lagnado, Gastão Frota e coordenação de Augusto Nunes-Filho, nesta quarta-feira (18/9), às 19h30, no auditório da Academia Mineira de Letras
(Rua da Bahia, 1.466, Lourdes). Entrada franca.