Fazer um festival de diferentes linguagens artísticas exige mais do que programar atrações de música, artes visuais, cênicas, literatura e cinema. Há que haver um diálogo entre elas. É por meio de uma costura bem-feita que o Artes Vertentes chega, nesta quinta (19/9), em Tiradentes, à sua 13ª edição. O tema que norteia a programação é alteridade.
Serão 11 dias em Tiradentes – com atrações também em São João del-Rei e na vila de Bichinho – com exposições, concertos, debates, exibições, encontros e shows. Boa parte, gratuita – e a paga, com ingressos a preços populares.
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Curador e diretor artístico do evento, Luiz Gustavo Carvalho chama a atenção para os encontros promovidos pelo festival. “A gente está sempre pensando em como uma linguagem pode levar à outra. Desta maneira, buscamos diluir as fronteiras entre as linguagens artísticas. Isto fez com que o Artes Vertentes se consolidasse no cenário nacional. Vários festivais têm perpetuado a segmentação. Para nós, o importante não é sempre aquilo, mas sempre isso e aquilo”, diz.
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Carvalho exemplifica esta teia. No domingo (22/9), às 15h, será exibido no Centro Cultural Yves Alves o longa franco-alemão “Relações de classe” (1984), de Danièlle Huillet e Jean-Marie Straub. O roteiro partiu de “O desaparecido ou Amerika” (1927), o primeiro romance de Franz Kafka.
Na noite do mesmo domingo, às 20h, na Casa Museu Padre Toledo, haverá o recital “Fragmentos kafkianos”, com obras do compositor húngaro György Kurtág interpretadas pela soprano Manuela Freua e pela violinista Sofia Leandro. “Para esta obra, convidei o Eder Santos para criar uma videoprojeção, porque ele é o artista de natureza mais kafkiana que conheço na vida”, explica Carvalho.
Residências artísticas
Na seara das artes visuais, o Artes Vertentes vai provocar um diálogo entre Leonilson, nome referencial da arte contemporânea, com o potiguar Alcino Fernandes. O Yves Alves vai apresentar duas mostras ao longo do evento: “Leonilson: Na cor dos lábios do meu amor”, com desenhos, pinturas, objetos e instalações e “Você disse que sabia amar”, com obras de Fernandes, pela primeira vez com uma exposição em Minas Gerais.
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“O Alcino é um jovem de Natal muito influenciado pelo Leonilson”, destaca Carvalho. Também durante o festival, Fernandes vai fazer uma residência artística no Instituto Rouanet. Outra residência é do poeta Ricardo Domeneck, que vai criar um conjunto de poemas, a partir da obra de Leonilson, durante o evento.
O artista morto em 1993 ainda será lembrado por meio do documentário “A paixão de JL” (2015), com sessão no Yves Alves neste sábado (21/9), às 19h. No longa, Carlos Nader acompanha a trajetória do artista e sua relação com o mundo a partir de fitas cassetes que Leonilson gravou em 1990.
Krenak e Sidarta
Carvalho tem plena consciência de que um festival precisa de nomes conhecidos para atrair público. Tanto por isto, Ailton Krenak participa novamente do Artes Vertentes – desta vez, virtualmente, em debate com o escritor cabo-verdiano Joaquim Arena (em 26/9, às 16h30, no Yves Alves).
Outra estrela é o neurocientista Sidarta Ribeiro que, no segundo fim de semana do festival, participa de dois encontros em torno do livro “Sonho manifesto” (2022): no sábado (28/9), às 15h, no Iphan e no domingo (29/9), às 17h30, na Taberna d’Omar, em conversa com Guilherme Leme Garcia.
“Ailton e Sidarta são nomes incontornáveis. Por outro lado, o Joaquim Arena (que participa de alguns encontros em Tiradentes), vencedor do Prêmio Oceanos (em 2023, pelo romance 'Siríaco e Mister Charles', em edição que premiou, na poesia, Prisca Agustoni, que também estará no Artes Vertentes), está pela primeira vez no Brasil. Há vários poetas que estão (na programação) pela primeira vez no país”, continua Carvalho, citando o palestino Ghayath Almadhoun e a russa Egana Djabbarova.
Nas artes cênicas, o curador destaca o espetáculo “Tebas Land” (27/9, às 20h, no Yves Alves), texto do franco-uruguaio Sergio Blanco sobre parricídio, a partir do mito de Édipo e da vida de São Martinho de Tours. A montagem, outra estreante em Minas, é dirigida por Victor Garcia Peralta e protagonista por Robson Torinni e Otto Jr.
Metá Metá
Com ampla programação de música clássica (Carvalho é pianista, com sólida trajetória como solista), o Artes Vertentes traz alguns nomes da música popular. Além do trio Metá Metá, com show na quinta (26/9), às 21h, no Largo de Sant’Ana, vale destacar a participação da paraibana Cátia de França.
Aos 77 anos, a cantora, compositora e escritora fecha, nesta quinta, o primeiro dia do festival. Apresenta às 21h, também no Largo de Sant’Ana, o show “No rastro de Catarina”, do álbum homônimo lançado em abril. Nesta semana, este trabalho foi indicado ao Grammy Latino 2024, na categoria de melhor álbum de rock ou música alternativa em língua portuguesa.
FESTIVAL ARTES VERTENTES
Desta quinta (19/9) a domingo (29/9), em Tiradentes. Programação completa em artesvertentes.com. Para atrações pagas (R$ 40 a inteira e R$ 20 a meia), a venda está disponível no sympla.com.br.