Rodado em dezembro de 2020, o filme tem Dira Paes no papel da ornitóloga Irene, que passa uma temporada em Arraial do Sana (rj) -  (crédito: Peter Wery/Divulgação)

Rodado em dezembro de 2020, o filme tem Dira Paes no papel da ornitóloga Irene, que passa uma temporada em Arraial do Sana (rj)

crédito: Peter Wery/Divulgação


Nada foi muito planejado, nem havia como, diante do cenário global. Mas, em poucos meses, e durante o primeiro ano da pandemia, Dira Paes gestou “Pasárgada”, longa-metragem que marca sua estreia na direção. É uma história em pleno diálogo com o mundo de quatro anos atrás, mas também com aquele em que se vive hoje e ainda com a trajetória da atriz.

 


Com estreia nesta quinta (26/9), no UNA Cine Belas Artes, o filme também ganha sessão comentada hoje, com a presença da atriz, na sessão das 20h30, dentro da programação da 18ª Mostra CineBH. Amanhã, Dira e Antônio Pitanga participam do debate “Atuando na direção”, no Palácio das Artes.

 


Dira escreveu, dirigiu, protagonizou e coproduziu (ao lado do marido, Pablo Baião, e de Eliane Ferreira) “Pasárgada”. Sua personagem é Irene, uma ornitóloga (profissional que estuda os pássaros) que vai para Arraial do Sana, distrito de Macaé, no interior do Rio de Janeiro, região rica em fauna e flora da Mata Atlântica.

 


Há uma intenção (ruim) nesta imersão, mas Irene vai ser impactada sobremaneira com a temporada, tanto em sua relação com o ambiente natural quanto com as pessoas com quem se relaciona ali, em especial Manuel (Humberto Carrão), o mateiro que lhe serve de guia. O nome do personagem é uma referência clara a Manuel Bandeira e seu clássico poema “Vou-me embora para Pasárgada”.

 


Tempo de convivência

Atriz com 43 longas em 40 anos de carreira, Dira almejava dirigir. “O desejo de fazer um projeto com o Pablo (diretor de fotografia) surge do tempo de convivência durante a pandemia. (No período) Tivemos um tempo que nunca tínhamos tido em 15 anos de casados. E eu levei a sério”, conta ela.

 


Em casa, no Rio, começou a elaborar o que poderia ser feito. “Quando percebemos que a pandemia iria durar mais do que tínhamos imaginado, fomos nos confinar na fazenda (entre julho e agosto de 2020)”, conta. A fazenda é a Três Marias, da diretora de arte Lou Bittencourt, a duas horas do Rio.

 


“Quando cheguei lá, tive a inspiração. Não só do tema que queria falar, mas da locação”, diz. No retorno ao Rio, Dira desenvolveu e finalizou o roteiro. “Decidi filmar de qualquer maneira, porque sabia que quando a pandemia terminasse, eu não teria tempo disponível.” O filme foi rodado em dezembro de 2020, com uma equipe mínima, devido à crise sanitária então em curso.

 


Consciência da finitude

“Houve esse sentimento pandêmico de que se a finitude está muito próxima, a gente precisa realizar os desejos, cruzar as fronteiras e se sentir dono da própria existência. Acho que esse imediatismo (com que o longa foi rodado) tem a ver com essa sensação de que tudo poderia acabar a qualquer momento”, comenta Dira.

 


Um personagem fundamental para o desenvolvimento da história foi Ilson Gonçalves, conhecido como Ciça, que trabalhava na fazenda na época, e aparece como tal no filme. Ele será o guia de Irene no estudo dos pássaros da região. Quando ele fica impossibilitado de acompanhá-la, surge a figura de Manuel.

 


Carrão diz que, assim que leu o roteiro, lembrou-se do avô, também chamado Humberto. “Ele era essa figura que sabia o nome de todos os passarinhos, das árvores, dos frutos. Tanto que tem uma cena em que falo ‘meu avô sabia tudo’.”

 


A temporada de aprendizado com Ciça foi essencial para a criação de Manuel, ele conta. “Fiquei grudado no Ciça, cuidando dos animais, vendo tudo, fazendo perguntas e pedindo licença. ‘Ciça, posso copiar isso?’”, afirma.

 

Lugar de observadores


“Acho que ele foi, disparado, a coisa mais importante na construção dessa figura que é poderosa, porque sabe muito daquele lugar, mas que, ao mesmo tempo, está resguardando seu espaço. Tentei fazer o Manuel assim porque acho que o Ciça é assim. São figuras que às vezes olham para baixo mas não por vergonha, medo ou ignorância, mas porque resguardam o seu lugar de observadores”, acrescenta o ator.


Dira concorda com Carrão: “O Ciça é um homem do campo, é muito inteligente. E ele chegou ao cinema no primeiro take. Está bem em todas as fotos, sabe onde colocar as mãos, tem o tempo dele”.

 


Sobre a estreia na direção, Dira vê este novo passa de forma natural. “Muitas vezes me peguei no set pensando que, se fosse eu (a diretora), faria de outro jeito. É natural essa curiosidade do ator de subverter a ordem, ir para trás das câmeras e ser o mentor da trupe. Foi uma experiência muito rica para mim e estou me sentindo muito potente por conseguir vencer as etapas”, afirma.

 


“PASÁRGADA”
(Brasil, 2024, 90min., de Dira Paes, com Dira Paes e Humberto Carrão) – O filme estreia nesta quinta-feira (26/9), no UNA Cine Belas Artes (Sala 1, às 15h30, e Sala 3, às 16h10). Hoje haverá sessão na Sala 2, às 20h30, comentada pela atriz. Na sexta (27/9), às 11h30, no Palácio das Artes, ela participa do debate “Atuando na direção”, ao lado de Antônio Pitanga, dentro da programação da CineBH. Entrada franca.